II Concílio do Vaticano: O ABC da Doutrina Social da Igreja

O título pode parecer enganador. Não está centrado na teorética do verdadeiro ABC que explica a Doutrina Social da Igreja, mas em Alfredo Bruto da Costa (ABC) que viveu e comungou o espírito que emanou do II Concílio do Vaticano (1962-65).

O título pode parecer enganador. Não está centrado na teorética do verdadeiro ABC que explica a Doutrina Social da Igreja, mas em Alfredo Bruto da Costa (ABC) que viveu e comungou o espírito que emanou do II Concílio do Vaticano (1962-65).

Falecido recentemente (11 de novembro) com 78 anos, ABC – peço desculpa aos leitores tratar Alfredo Bruto da Costa com esta sigla – foi um autêntico mestre conciliar. Com personalidade forte e determinada, ABC foi um militante social e a «Boa Nova» aos pobres era a sua inquietação constante. Do seu percurso cristão, ABC gostava de destacar alguns momentos marcantes que teve a graça de viver: “a passagem por escolas jesuítas, o estímulo (através da leitura) de grandes pensadores católicos e o II Concílio do Vaticano.

Para ABC, o fenómeno da pobreza distinguia-se da privação e da exclusão social. Sempre disse que a pobreza é “um grave problema político”, a que importa dar atenção. Na pobreza é preciso ajudar as pessoas a ter meios, na privação é indispensável apoiá-las a fim de que a gestão dos recursos seja melhor assegurada.

Os documentos conciliares, especialmente a «Gaudium et Spes» (GS), estavam enraizados no seu pensamento e na sua ação. Numa entrevista concedida ao Jornal «Solidariedade» (01-09-14), ABC lamentava que um dos sinais da vida democrática e da sociedade portuguesa “é que nenhum comentário político vai para além de números monetários”. E uma sociedade que só discute isso “é necessariamente uma sociedade que se vai degradando em termos individuais, na relação com os outros e em termos institucionais”. Basta reler o nº 66 da GS: “Para satisfazer as exigências da justiça e da equidade devem fazer-se grandes esforços para que, dentro do respeito dos direitos da pessoa e da índole própria de cada povo, desapareçam, o mais depressa possível, as enormes desigualdades económicas unidas à discriminação individual e social, que ainda hoje existem e frequentemente se agravam”. Este era o fio condutor de ABC. O pilar da vida deste homem que desempenhou vários cargos políticos e foi presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz.

Para ABC, não basta uma lógica meramente assistencialista. A sociedade necessita – com urgência – de políticas de desenvolvimento humano de que fala a encíclica «Populorum Progressio», se traduzam não apenas em medidas que visam reduzir a privação, mas em compreender que é a pobreza que tem de ser combatida. ABC deixou-nos uma grande lição e um legado intemporal: Não basta saber a Doutrina Social da Igreja… É fundamental aplicá-la. 

LFS

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