Igreja/Sociedade: Papa desafia a «gestão da dívida mais justa» – Rita Sacramento Monteiro

Membro da Fundação «Economia de Francisco» aponta desafios lançados na mensagem do Dia Mundial da Paz 2025

 

Lisboa, 31 dez 2024 (Ecclesia) – Rita Sacramento Monteiro, da Fundação ‘Economia de Francisco’, defendeu a necessidade de “inverter a rota” na relação entre países mais ricos e mais pobres, apelando a uma “gestão da dívida mais justa”, como pede o Papa.

“O ser humano é capaz de coisas incríveis e, portanto, será capaz de desenhar novos modelos e sistemas financeiros que sirvam uma gestão da dívida mais justa, que permitam que estes países possam, de facto, desenvolver-se e progredir com responsabilidade, ajudando à transparência, à gestão ética e transparente, mas permitindo que se desenvolvam; caso contrário, ficam sempre bloqueados”, refere, em entrevista à Agência ECCLESIA, por ocasião do próximo Dia Mundial da Paz (1 de janeiro de 2025).

Na sua mensagem para esta celebração anual, o Papa apela ao perdão da dívida dos países mais pobres, sublinhando o impacto da crise ecológica nas populações mais desprotegidas.

“Inspirando-me neste ano jubilar, convido a comunidade internacional para que atue no sentido de perdoar a dívida externa, reconhecendo a existência de uma dívida ecológica entre o Norte e o Sul do mundo”, escreve Francisco.

Rita Sacramento Monteiro fala numa “mensagem muito forte”, destacando que “o peso da dívida para os países mais vulneráveis está a impedir que eles investam em áreas essenciais como a saúde, como a educação”.

“É preciso inverter esta rota. É preciso fazer diferente”, insiste.

Integrante do projeto ‘Economia de Francisco’, que reúne representantes dos cinco continentes, em resposta a um convite do Papa Francisco, a entrevista fala da carga da dívida como “uma âncora que impede o desenvolvimento e o florescimento dos países”.

Com tudo o que está a acontecer no mundo do ponto de vista geopolítico, do ponto de vista económico, do ponto de vista social, o Papa diz que esta é uma questão que tem de ser olhada. E tem de ser olhada com a mesma seriedade com que se olha a questão ecológica”.

Foto Agência ECCLESIA/PR

Para Rita Sacramento Monteiro, a mensagem do Papa para o 58.º Dia Mundial da Paz apresenta, “de uma maneira atualizada”, o pensamento social cristão, particularmente no início de um novo Jubileu – celebração que acontece a cada 25 anos, na Igreja Católica.

“Francisco abre ainda de forma mais explícita este tempo de Jubileu, um espaço que é criado e um tempo para um recomeço, para uma novidade. Isto são tudo imagens muito proféticas e bíblicas”, refere.

A entrevistada diz que o Ano Santo surge como “uma proposta à Igreja e ao mundo, de abertura ao transcendente” e para “desarmar o coração”

“Precisamos da Graça de Deus para sermos capazes do que até parece impossível. Como? Deixarmos de investir em armas, promovermos a paz, perdoarmos a dívida, acabarmos com a guerra, tudo o que hoje nos parece e depois descendo ao nosso coração, perdoar aquela pessoa que me ofendeu, acolher uma doença, aceitar que a vida se desenrolou desta maneira e não de outra”, acrescenta.

Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz 2025, o Papa apela à criação de um fundo mundial para a eliminação da fome, com “pelo menos uma percentagem fixa do dinheiro gasto em armamento”.

O montante recolhido, refere Francisco, poderia ainda servir para a “realização de atividades educativas nos países mais pobres que promovam o desenvolvimento sustentável, lutando contra as alterações climáticas”.

Rita Sacramento Monteiro diz que esta proposta exige uma “escolha corajosa dos países que se dizem, em tantos fóruns, preocupados com as questões ecológicas e com as questões sociais”.

“Continuamos a ver o investimento em armas a aumentar, mas não podemos ficar a assistir. Não podemos ficar a assistir”, aponta.

A Fundação ‘The Economy of Francesco’ foi oficialmente criada a 23 de setembro de 2024, atuando em três áreas principais: pesquisa-estudo, negócios-inovação e educação-cultura.

O organismo integra uma comunidade composta por economistas, estudantes, académicos, empreendedores e agentes de mudança, unidos pela “defesa da dignidade da pessoa humana, pela justiça, pelo cuidado das pessoas e pelo cuidado da terra”, explica a entrevistada.

OC

Dia Mundial da Paz 2025: Papa apela a perdão da dívida dos países pobres

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