Igreja: Serviços da Conferência Episcopal Portuguesa sensibilizados para conversão ecológica

Margarida Zoccoli, bióloga, considera que ‘Laudato Si’ «trouxe quase um programa de governo mundial»

Lisboa, 05 abr 2019 (Ecclesia) – A professora Margarida Zoccoli, especialista em Biologia, afirmou que o Papa Francisco “trouxe um olhar completamente novo” para toda a humanidade, com a encíclica ‘Laudato Si’, à margem da reflexão ‘Alterações Climáticas – Cuidar ou não cuidar da criação’.

“Trouxe quase um programa de governo mundial, quase que podemos governar o mundo a partir dali. É um livro muito pequenino, não é compêndio de muitas páginas e tem o que é essencial de facto que é cada um assumir a sua responsabilidade”, disse à Agência ECCLESIA, durante o encontro de reflexão que reuniu os serviços da Conferência Episcopal Portuguesa, esta quinta-feira, em Alfragide.

A docente considera que encíclica ‘Laudato Si’, de 2015 “continua atual”, o sendo um documento com “teor científico e informações muito rigorosas”.

“Foi escrita de uma forma muito inteligente, de forma a chegar ao coração das pessoas e chega ao coração de todos, é esta a grande novidade desta obra”, acrescentou.

Margarida Zoccoli integra atualmente o Programa Doutoral Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável, no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e destaca que Francisco é considerado o “único líder a sério neste momento”.

O Papa é referido, muitas vezes, em apresentações por cientistas que “não têm fé, que se consideram agnósticos”, o que mostra a importância dos seus apelos, “porque é ouvido por toda a gente”.

“Trouxe um olhar completamente novo, não só para os cristãos e para os católicos mas também para toda a humanidade, e isso é reconhecido por qualquer político e cientista”, realçou.

Eugénia Quaresma, diretora da Obra Católica Portuguesa das Migrações, alerta que as alterações climáticas “também podem provocar refugiados climáticos”, uma figura que ainda não está juridicamente estabelecida”, mas “existem povos que se deslocam por causa das alterações climáticas”, por exemplo, “ficam sem alimentos”.

A responsável refere que defendem “sempre” que os migrantes são protagonistas do desenvolvimento das sociedades e, neste contexto, destaca a diversidade das pessoas que “as migrações trazem” e a sinergia que “permite pensar noutras soluções”.

‘Alterações Climáticas – Cuidar ou não cuidar da criação’ foi o tema da recoleção da Quaresma que mobilizou os funcionários de vários serviços da Conferência Episcopal Portuguesa.

“É um tema que nem se devia colocar, mas é sempre preciso saber mais porque a ciência é muito dinâmica e, neste momento, estão a ser lançados dados novos todos os dias”, refere a entrevistada, considerando ser “importante saber selecionar a informação”.

Neste contexto, a docente observa que é preciso “pensar pela própria cabeça” para tomar “as decisões mais corretas” e “assumir a responsabilidade”, primeiro a individual e depois nas instituições onde até se pode “ter alguma influência”.

Foto: Lusa

O diretor da Obra Nacional da Pastoral do Turismo, presente no encontro, salientou que há “valores transversais” que hoje “são comuns a todos na defesa do ambiente” e cada vez mais devem ser propostos pelos agentes do turismo.

“Cada vez mais fazer da prática turística uma escola de formação a este nível dos valores fundamentais da preservação do ambiente”, assinalou o padre Carlos Godinho à Agência ECCLESIA, alertando para a necessidade de “regular um bocadinho melhor os fluxos turísticos” devido à “excessiva massificação”.

Margarida Zoccoli que na sua apresentação incentivou a “reduzir o consumo, reciclar, reutilizar e fazer compostagem” explicou que “não há receitas”, mas sugestões, e, depois, “cada contexto terá de encontrar a melhor forma e a mais equilibrada”.

“Recusar aquilo que de não necessitamos” e estudar as possibilidades de “comprar de outra maneira” foram outras sugestões da bióloga, que alertou para o impacto do ser humano nas alterações climáticas, para o impacto dos combustíveis fósseis e o aumento do consumo da carne.

CB/OC

O coordenador do Departamento do Ensino Religioso Escolar (SERE), do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), salientou que na disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica a dimensão de uma “ecologia integral, humana, profunda” faz parte de várias unidades curriculares desde o primeiro ciclo ao 12.º ano.

“Por razões do ponto de vista humano, antropológico, mas também do ponto de vista cristão, do ponto vista bíblico e da antropologia cristã há um ideal de casa comum, um ideal de natureza, de harmonia”, desenvolveu o professor Fernando Moita.

Neste contexto, à Agência ECCLESIA, deu ainda como exemplo o próximo Encontro Nacional do Ensino Secundário onde “um dos objetivos é reduzir ao máximo o plástico” e o tema ‘Abeira-te’ é convite à proximidade “a Deus, à pessoa humana, à natureza”, para além da referência regional, por se realizar em Viseu nos dias 26 e 27 de abril

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