Igreja/Proteção de Menores: Grupo VITA identificou 64 vítimas de violência sexual e um agressor

Primeiro relatório de atividades apresenta trabalho desenvolvido desde maio

 

Lisboa, 12 dez 2023 (Ecclesia) – O Grupo VITA apresentou hoje o seu primeiro relatório de atividades, no qual informa que identificou 64 vítimas de violência sexual e um agressor, desde o início dos seus trabalhos, a 22 de maio de 2023.

“Dos contactos recebidos através da linha telefónica e do formulário do site, bem como do e-mail geral@grupovita.pt, foram identificadas 64 vítimas de violência sexual e uma pessoa (leigo) que cometeu crimes sexuais no contexto da Igreja”, indica o documento, apresentado hoje em conferência de imprensa.

O relatório diz respeito ao período compreendido entre 22 de maio e 30 de novembro de 2023.

“Prevenir reincidências é proteger outras crianças”, disse Rute Agulhas, coordenadora do grupo.

A especialista considerou natural que as vítimas se “retraiam”, na denúncia dos abusos que sofreram, sublinhando a importância de criar “confiança”.

O grupo, criado por iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), regista “278 chamadas telefónicas relativas a situações de violência sexual no contexto da Igreja, e outras formas de violência”.

Destas, 16 diziam respeito a situações de violência fora do âmbito da missão do VITA, pelo que foram encaminhadas para outras entidades.

O Grupo VITA informa que foram realizados 42 atendimentos, presenciais e online, tendo sido verificado que três pessoas “não preenchiam os critérios de adulto vulnerável, à data da situação”.

Os outros 39 casos tiveram um atendimento individualizado (presencial ou online), para recolha detalhada de informação, com uma duração média de duas horas e meia.

A maioria das vítimas, com idades entre os 19 e os 74 anos, é do sexo masculino (56,4%); mais de metade (59%) considera-se católico.

Em termos de idade em que ocorreu a primeira situação de violência sexual, esta varia entre os 6 e os 25 anos, “sendo a idade mais prevalente a dos 7 anos”, seguida dos 10 e dos 11 anos.

“Em 75% dos casos, as vítimas tendem a reportar abusos ocorridos nas décadas de 60, 70 e 80 do século passado. Cerca de 12.5% decorreram nos anos 90 e os restantes (12,5%) decorreram após o ano 2000”, pode ler-se.

Foto: Lusa

Em mais de um quarto dos casos (28,2%), as vítimas revelaram os abusos pela primeira vez no depoimento do Grupo VITA.

70% dos casos revelados são novos, enquanto os outros 30% já eram do conhecimento da Igreja Católica.

“Centrando a sua ação nas vítimas, foi possível desenvolver formas de trabalho que potenciaram uma escuta ativa, o acompanhamento ao longo do tempo e o encaminhamento, globalmente célere das situações”, refere os responsáveis do organismo.

Os abusadores identificados são todos do sexo masculino e, na quase totalidade (89,7%) sacerdotes.

“Em todas as situações reportadas, as vítimas identificam que houve ‘abuso de autoridade’ resultante do estatuto do agressor”, indica o relatório.

O documento precisa que a maioria dos abusos sexuais decorreu no confessionário, sugerindo “a revisão de alguns procedimentos no acesso e proteção deste contexto”.

O VITA indica ter encaminhado 45 situações para estruturas da Igreja Católica e 16 para a Procuradoria-Geral da República; destas, três sinalizações foram “anónimas”, adiantou Rute Agulhas.

Este grupo foi criado pela Conferência Episcopal, na Assembleia Plenária de abril de 2023, apresentando-se como um organismo “isento e autónomo que visa acolher, escutar, acompanhar e prevenir as situações de violência sexual de crianças , jovens e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portugal, numa lógica de intervenção sistémica”.

O documento refere o trabalho desenvolvido, em articulação com as Dioceses e os diversos Institutos Religiosos, para oferecer ajuda às vítimas: 18 com apoio psicológico, duas com apoio psiquiátrico, quatro com apoio social e uma com apoio juridico.

“As consultas de psicologia e de psiquiatria estão a ser asseguradas pela bolsa de profissionais constituída pelo Grupo VITA e estes custos estão a ser suportados pela Igreja”, adianta o relatório.

Nas entrevistas iniciais, nove vítimas reportaram a necessidade de apoio psiquiátrico e seis de apoio social.

“Apenas quatro vítimas indicaram, numa fase inicial, a vontade de ser indemnizadas. À data atual, em que este relatório é apresentado, algumas vítimas reportaram ter a intenção de analisar a possibilidade de pedir uma indemnização”, adianta o documento.

O relatório destaca a articulação com a CEP, “o que se assume como imprescindível para a criação de sinergias”.

Os pedidos de ajuda dirigidos ao Grupo VITA podem ser encaminhados para a linha de atendimento telefónico 915 090 000 ou através do formulário para sinalizações disponível no site www.grupovita.pt.

OC

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