Igreja/Portugal: Responsável da Obra Católica Portuguesa denuncia movimentos violentos ao serviço de «agenda política»

Eugénia Quaresma diz que intimidação chegou a instituições eclesiais

Foto: Lusa

Lisboa, 08 mao 2024 (Ecclesia) – A diretor da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) considerou hoje “preocupante” a situação que se vive em Portugal, com relatos de agressões e discursos de ódio contra estrangeiros.

Eugénia Quaresma falava à Agência ECCLESIA, a respeito dos episódios de violência ocorridos na madrugada do dia 3 de maio, no Porto, praticados contra imigrantes, de nacionalidades argelina e marroquina.

O Ministério Público abriu três inquéritos para investigar os ataques, que já levaram à detenção de uma pessoa.

A diretora da OCPM disse que procurou informações junto do Secretariado Diocesano de Migrações da Diocese do Porto, do qual recebeu indicações de que as vítimas são imigrantes “pacíficos”, que vivem do seu trabalho.

Para Eugénia Quaresma, “é grave” que a invasão da própria habitação aconteça num Estado de direito, que deve ser salvaguardado pelas forças policiais e pela justiça.

“Há movimentos que estão ao serviço de uma agenda política”, indica a responsável, que apela ao combate das atitudes violentas e intimidatórias, adiantando que as mesmas já atingiram instituições ligadas à Igreja Católica.

Uma instituição eclesial foi alvo de atitudes abusivas por parte de quem procurava depoimentos de imigrantes, para alimentar conteúdos nas redes sociais com a finalidade de “estimular a xenofobia e a rejeição aos imigrantes”, precisa Eugénia Quaresma.

A OCPM quer envolver as associações de imigrantes num “trabalho de proximidade” para perceber como as comunidades estão a viver este momento.

“O medo só se combate promovendo o encontro e este é essencial para a coesão social”, afirma a entrevistada.

Questionada sobre falta de resposta por parte da nova Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA), Eugénia Quaresma reconhece a “pesada herança” recebida após a extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), mas sublinha que isso “não pode ser justificação para a violência”.

A baixa eficiência da AIMA e a legislação portuguesa nesta matéria, poderão estar a ser exploradas por máfias que canalizam para Portugal um fluxo migratório artificial e elevado, favorecendo o alarme público.

Eugénia Quaresma considera “urgente um trabalho diplomático com estes países de origem” e diz que há acordo sobre a “necessidade de trabalhar para a questão da inclusão e das condições de vida”.

A responsável da OCPM destaca a questão da habitação e fala das escolas como um “laboratório de interculturalidade”, que reclama apoio aos professores para saberem lidar com uma diversidade cultural tão elevada.

Esta responsável considera importante “clarificar o que está a acontecer nos nossos consulados” admitindo mesmo que “a corrupção tem de ser combatida”.

A OCPM reuniu-se hoje com a Comissão de Apoio às Vítimas o Tráfico de Pessoas (CAVITP), das congregações religiosas em Portugal, visando, entre outros objetivos, “encontrar respostas assertivas e positivas” que combatam a violência.

HM/OC

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