Igreja/Bíblia: Comissão lança nova tradução do «Livro das Lamentações»

«Um texto sempre atual quando acompanha o sofrimento do crente; estes poemas são um lamento diante do Senhor», assinalam especialistas

Fátima, 01 nov 2024 (Ecclesia) – A comissão coordenadora da tradução da Bíblia, da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), lançou hoje a nova versão do texto bíblico das Lamentações, livro do Antigo Testamento cuja primeira palavra é ‛ekah’, que se pode traduzir por ‘Ah! Como…!?’.

“Embora a temática do livro seja a destruição da cidade de Jerusalém, o fim do reino de Judá e o exílio que se lhe seguiu, o texto das Lamentações não é um relato histórico dos acontecimentos, mas a expressão da dor de uma experiência intensa e dramática, que sugere simultaneamente uma razão para que tal drama tenha acontecido”, explica uma nota enviada à Agência ECCLESIA, pelo Secretariado Nacional da Liturgia (SNL).

Segundo a comissão coordenadora da tradução da Bíblia da CEP, a situação que levou à composição das Lamentações “não é muito diferente das situações vividas por pessoas de gerações sucessivas ao longo dos séculos”, sendo um texto “sempre atual quando acompanha o sofrimento do crente”.

“Mais do que autocomiseração, estes poemas são um lamento diante do Senhor, para que olhe o sofrimento que a sua ausência permitiu que se abatesse sobre o seu povo”, acrescenta, sobre o livro que terá sido composto após a “catástrofe em que desapareceram as bases da identidade nacional e religiosa de Israel”, “antes do regresso do exílio, ou antes da reconstrução do templo de Jerusalém”.

A “metáfora predominante” nos cinco poemas do Livro bíblico das Lamentações é a de Jerusalém “como uma mulher”, apresentada em diversas situações – “viúva, sem filhos, nobre empobrecida, amante traída, violentada, impura, mãe que intercede pelos filhos” – e quem chora é a própria cidade de Jerusalém personificada, que, “destruída, ergue a sua voz”.

“A primeira palavra do livro das Lamentações, ‛ekah, que se pode traduzir por «Ah! Como…!?», é a marca de estilo deste texto”, destaca a comissão coordenadora, explicando que nas edições da Bíblia Hebraica, essa palavra inicial é também o nome pelo qual o livro é conhecido, mas, na literatura rabínica, este livro tem o nome de “qinot, que se pode traduzir por Lamentações”, o título assumido pelas traduções grega dos Setenta (LXX) e latina da Vulgata.

O título de ‘Lamentações’ corresponde ao género literário da lamentação, um canto fúnebre (cf. 2Sm 1,17ss), e apresenta-se como “uma reação à catástrofe nacional que foi a tomada de Jerusalém por Nabucodonosor”: A destruição do templo, a deportação de uma parte da população para a Babilónia e o fim do reino de Judá, entre 597 e 586 a.C., “com a perda da independência para os cidadãos que não foram deportados e suportaram o domínio babilónico”.

Em março de 2019, a Conferência Episcopal Portuguesa apresentou o primeiro volume da nova tradução da Bíblia em português feita por 34 investigadores a partir das línguas originais, com a publicação da edição de ‘Os Quatro Evangelhos e os Salmos’.

A comissão responsável pela nova tradução da Bíblia, coordenada pelo padre Mário de Sousa (Diocese do Algarve), lembra que se tratava de uma tradução ad experimentum, “colocada à apreciação dos leitores de língua portuguesa, cristãos ou não”, e a escolha desses cinco livros para publicação teve a ver com “o lugar especial que os Evangelhos e os Salmos ocupam na Liturgia cristã”, são os textos bíblicos mais lidos, refletidos e rezados.

Desde agosto de 2021, um novo livro da Bíblia é disponibilizado mensalmente em formato digital, para download na página na internet da Conferência Episcopal Portuguesa, e divulgado pela Agência ECCLESIA.

A comunidade é convidada a envolver-se neste processo de tradução e revisão de cada documento, “as achegas e comentários” devem ser enviados através do endereço eletrónico biblia.cep@gmail.com.

CB/OC

 

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