Igreja: «Não é importante de onde vens ou o que fizeste; quando acolhemos, fazemo-nos pequenos» – Afonso Sousa Dias

Jovem de 23 anos viveu mais de um ano na Comunidade Ecuménica de Taizé, ajudou a preparar a vigília ecuménica que antecedeu a primeira Assembleia do Sínodo dos Bispos, no Vaticano, e sonha com a construção política a partir de pequenas comunidade

Foto: Agência ECCLESIA/PR

Lisboa, 27 mar 2024 (Ecclesia) – Afonso Sousa Dias, um jovem de 23 anos, esteve durante um ano a viver na Comunidade ecuménica de Taizé, em França, local onde passou “três meses a acolher e a ser acolhido” e experimentou a fraternidade.

“Eu diria que esta ideia da fraternidade e do queremos ser irmãos uns dos outros, não significa que pensemos todos a mesma coisa, que desejemos todos a mesma coisa. Mas ali somos convidados a ser irmãos uns dos outros, independentemente das nossas diferenças, a conhecermos uns aos outros e a sabermos estar com os outros. E eu diria que o que ajuda neste conhecimento um do outro, nesta relação, deste pormos em relação, é precisamente o trabalhar, o viver e o rezar juntos”, traduz à Agência ECCLESIA.

Afonso estudou Ciência Política com o desejo de conhecer melhor os sistemas que ajudam a construir a vida pública mas hoje entende que o que estudou pode estar ao serviço do desenvolvimento comunitária, também ele local de participação e construção a partir da voz de cada um e de todos.

“A política era a forma que eu entendia como forma de construir qualquer coisa diferente: queres um mundo mais justo, um mundo mais próximo, queres pessoas mais próximas umas com as outras, queres relações humanas menos complicadas, tens de te entregar à política; depois fui descobrindo que, para além dos grandes sistemas políticos dos Estados Modernos, existem também comunidades mais pequeninas que procuram dar valor ao ser humano e valorizar-se uns aos outros, através da participação, da tomada de decisões em comum, procuram soluções comuns em comunidades pequenas”, traduz.

Da infância passada nas férias escolares em Coruche, Afonso recorda a avô que o obrigou a treinar a letra para que quando entrasse na escola tivesse uma letra bonita, mas também os momentos em que lhe falou do “infinito”.

“A minha avó tinha tempo para me apresentar ao infinito. E eu acho que para lidarmos com o infinito temos que ter tempo, temos que lhe dar tempo, temos que lhe dar espaço. E acho que esta coisa de me ensinar, antes de ir para a cama – ‘olha, senta-te, pensa sobre o teu dia, pensa o que gostavas de fazer melhor amanhã’, é um passinho pequenino para me aproximar do infinito”, recorda.

Ao terminar a sua formação académica, Afonso decide criar um interregno na sua vida e a decisão de passar cerca de três meses em Taizé, acabou por distender-se por mais de um ano.

“Eu queria respirar a minha vida, dar tempo à minha vida. Aquilo que a sociedade dizia, ou seja, até podia não dizer por palavras, mas dizia pelos exemplos, é que ou eu continuava a estudar ou ia trabalhar, portanto eram as duas opções. Mas esta ideia de apressar os passos, trazia-me alguma angústia”, recorda.

Afonso Sousa Dias conheceu a comunidade de Taizé em diferentes ritmos, no verão no acolhimento de muitos grupos que ali chegam, mas também no vazio do inverno, ocasião em que teve tempo para encontrar, nos passeios de bicicleta pelas colinas, o sentido de ali estar.

A Taizé, recorda, chegam pessoas muito diversas – “que não acreditam, com diferentes formas de ver a Igreja, de se relacionar com ela, pessoas que se agarram à palavra espiritual e não têm qualquer relação com qualquer uma outra, ali chegam pessoas com diferentes histórias religiosas” e, explica, o mais importante é “acolher”, “reconhecer o batismo comum” e “rezar juntos”.

“Não é muito importante onde é que tu vens, o que é que fizeste. Não é mais importante o que tu és e o que é que tu queres ser agora e aqui. Quando acolhemos, também nos estamos a fazer mais pequenos e deixamos de fora os preconceitos e as ideias feitas que temos de outra cultura, de outra pessoa, até de uma Igreja. Ali somos chamados a olhar para pessoas com o mesmo batismo e a partir daí andamos e trabalhamos”, resume.

Afonso esteve, a convite da Comunidade de taizé, a residir em Roma para preparar a vigília ecuménica que antecedeu a primeira Assembleia Sinodal, no vaticano em outubro de 2023, tempo que o levou a conhecer as Igrejas Metodista e Anglicana e outras tradições na capital italiana.

“Naquela Praça de São Pedro, com os líderes religiosos, o Papa Francisco a mostrar-se mais um entre outros, onde muitas minorias se juntaram em oração, a rezar por algo que não se passava nas suas Igrejas, naquela tarde, eu senti que tinha irmãos”, recorda.

O jovem de 23 anos olha com muita alegria para o processo sinodal em curso na Igreja católica: “Estou muito contente que as comunidades estejam a reunir, a discutir as suas dificuldades, os seus dramas, a tomar consciência de si mesma, a querer ser uma Igreja mais comunitária, mais participativa e humana, que pense o lugar dos divorciados, dos homossexuais, das mulheres. Estou muito contente que queremos ser uma Igreja mais ao jeito de Jesus”, finaliza.

A conversa com Afonso Sousa Dias pode ser acompanhada esta noite na Antena 1, pouco depois da meia-noite, ficando disponível no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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