Igreja: Herdeiro do Concílio Vaticano II, D. António de Sousa Braga ajudou a «mudar o rosto» da Igreja – D. José Ornelas

Exéquias foram celebradas na igreja de Alfragide e foram presididas pelo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa; D. António de Sousa Braga ficará no jazigo da família, na ilha de Santa Maria

Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 24 ago 2022 (Ecclesia) – D. José Ornelas disse hoje que D. António de Sousa Braga foi quem, em Portugal, mudou o rosto na forma de exercer a autoridade na Igreja, fruto da sua formação conciliar.

“Ele é um dos que silenciosamente, mas de forma coerente e ativa no pós-Concílio Vaticano II, pôs em ação dentro da congregação e aqui na paróquia de Alfragide. Aquilo que falamos de Igreja sinodal ele foi-o muito concreto na promoção dos ministérios laicas dentro da Igreja. Sem fazer barulho, mas criando estruturas de participação. Ele pertence a uma geração dos que fizeram e mudaram o rosto da autoridade na Igreja”, afirmou o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa à Agência ECCLESIA.

D. António de Sousa Braga faleceu esta segunda-feira, aos 81 anos, tendo a celebração das exéquias fúnebres acontecido esta tarde, na igreja de Alfragide, local onde o bispo emérito foi padre.

Foi na congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus que D. José Ornelas conheceu D. António de Sousa Braga enquanto formador e dele guarda a imagem “sobretudo de um amigo”.

Agência ECCLESIA/MC

“Recordo sempre o seu humanismo, a sua forma tranquila de ser e estar. O seu acolhimento: não era uma pessoa de fazer grandes discursos. Teve uma liderança prática e simples, mas ao mesmo tempo uma liderança feita com o exemplo do que ele era. Era uma pessoa de corpo inteiro, aquilo que era e dizia, propunha, servia-lhe de inspiração para a missão. É o que recordo dele, sobretudo um grande amigo”, sublinhou.

Na congregação dos sacerdotes dehonianos deixou marcas de abertura ao mundo e uma forma de ser religioso.

“Pela sua ligação ao Concílio e pela sua formação teológica, foi um homem atento aos sinais dos tempos e ao mundo. Enquanto provincial e formador ele procurou incutir isso. É isso que queremos fazer como dehonianos. Não vivemos para dentro, mas para fora, tentar perceber os sinais de Deus e encontrando respostas concertas para que as pessoas cheguem a Deus”, assinalou o padre João Nélio Pereira à Agência ECCLESIA.

Dentro da congregação, D. António de Sousa Braga era simplesmente o confrade, que significa, irmão.

“Apesar de bispo era nosso irmão, irmão que aprendemos a amar. Ele representava grande parte da história da província e mais tarde assumiu responsabilidades, marcou as grandes gerações de confrades que na sua missão têm a proximidade, carinho, paciência, que D. António tinha e que podemos identificar claramente”, acrescentou.

O administrador apostólico da Diocese de Angra, padre Hélder Fonseca Mendes, que conheceu D. António de Sousa Braga no dia da sua ordenação episcopal, em Angra, em 1996, recorda que o bispo emérito se fez próximo de todos, e a todos quis chegar nas nove ilhas.

“Dele guardamos sobretudo o estilo irrepetível. O Papa Francisco quando alertou os bispos para não serem bispos de aeroporto, o D. António escreveu uma carta ao Papa e disse que teria de ser de aeroporto. O Papa respondeu e disse-lhe que andasse dentro do aeroporto se fosse para andar dentro da sua diocese”, recorda.

D. António de Sousa Braga esteve 20 anos na Diocese de Angra tendo sido “unidade regional”.

“Ele tinha essa facilidade de estar em todas as ilhas, sendo um fator de humanismo e de valores de evangelho que levava consigo”, recorda ainda o padre Helder Fonseca.

D. João Lavrador, que em 2016 começou a trabalhar com D. António na Diocese de Angra, recorda as “marcas” de um trabalho conjunto mas também a forma de “ser padre e ser bispo”.

“Sou quem hoje sou mais grato. Pude apreciar a sua forma de ser bispo, o apreço que todos tinham para com ele, e a sua simpatia no acolhimento, o desprendimento. Facilitou imenso o seu trabalho porque, pela sua forma de estar, abriu caminho para o que a Igreja tem de ser hoje. Só tenho de lhe agradecer”, explicou o bispo de Viana do Castelo.

O núncio apostólico em Portugal, D. Ivo Scapolo, leu, nas exéquias, uma mensagem do Papa Francisco que recordou o trabalho episcopal em Angra.

“O Papa Francisco pede o prémio eterno e exprime as condolências a todos quantos beneficiaram da sua solicitude pastoral, em especial a diocese que durante 20 anos serviu e todos que privaram com um pastor próximo. O Santo Padre concede a bênção apostólica a quem se reúne para as exéquias”, afirmou a mensagem assinada pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano.

A Diocese de Angra informa que o corpo do bispo emérito de Angra chega aos Açores, à ilha de Santa Maria, sua terra natal, esta quinta-feira para a realização das cerimónias fúnebres – missa de corpo presente e funeral – que serão presididas pelo núncio apostólico da Santa Sé em Lisboa, na igreja do Santo Espírito, às 17h00.

O corpo seguirá depois para o cemitério da freguesia, onde D. António de Sousa Braga nasceu, e os restos mortais ficarão no jazigo da família.

LS

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