Igreja: «Esperança» era a primeira palavra do abecedário do padre João Aguiar, disse D. José Cordeiro (c/fotos)

Arcebispo de Braga presidiu à Missa exequial de quem escrevia como respirava, que foi sepultado na sua terra natal

Foto Ricardo perna

Braga, 28 abr 2023 – O arcebispo de Braga afirmou na homilia da Missa exequial do cónego João Aguiar que o sacerdote falecido esta quinta-feira era um “fazedor de vitrais”, escrevia como respirava e o seu abecedário começava na palavra “esperança”.

D. José Cordeiro disse que, para o cónego João Aguiar Campos, “o abecedário começa na palavra esperança”, uma palavra que “nunca deveria esperar tanto” até ser pronunciada.

“O padre João, como familiarmente queria ser conhecido e tratado, disse-nos: ‘escrevo como respiro’. Ele sentia-se um fazedor de vitrais”, afirmou D. José Cordeiro.

No início da homilia da Missa exequial, o arcebispo de Braga lembrou que, nos últimos dois dias, faleceram três sacerdotes na diocese do presbitério bracarense, o que acontece quando decorre a Semana de Oração pelas Vocações e constitui “um motivo acrescido pra dar graças a Deus pelo dom, pela vida, pelo ministério” e “pedir ao Senhor da Messe” que dê “bons pastores” para que nunca “falte o Evangelho e a Eucaristia”.

Na Missa exequial, o texto do Evangelho recordou a instituição da Eucaristia e D. José Cordeiro lembrou o que escreveu o cónego João Aguiar Campos sobre a Eucaristia no seu livro “Intemporal”, onde afirma que se trata de um “programa de vida que implica diariamente um amor autêntico”.

“Importa colher na participação da Eucaristia o desafio e a força para o compromisso da transformação da sociedade. O amor pelos pobres e marginalizados não foi apenas objeto da pregação de Jesus, mas deu sentido a toda a sua vida”, disse o arcebispo de Braga, citando o cónego João Aguiar Campos.

D. José Cordeiro referiu-se também ao compromisso do cónego João Aguiar Campos na comunicação, recordando o encontro que teve com jornalistas presentes na Dicoese de Bragança-Miranda, em 2015, onde afirmou que “uma das obrigações da comunicação social da Igreja é ser uma agência de sentido”.

“Fazer das coisas e dos acontecimentos e das dores uma leitura crente é necessariamente a nossa obrigação, o nosso papel, a nossa marca distintiva”, afirmou na ocasião o cónego João Aguiar Campos.

D. José Cordeiro recordou a celebração das bodas de ouro sacerdotais do cónego João Aguiar Campos, no dia 25 de março último, onde o sacerdote da Arquidiocese de Braga confirmou que a sua vocação consistiu em “falar aos homens das coisas de Deus”.

Foto Agência ECCLESIA/PR

“Muitos milhares de pessoas testemunham isto”, indicou o arcebispo de Braga.

Após a Missa exequial, celebrada na Sé de Braga, o funeral do cónego João Aguiar Campo realizou-se na sua terra natal, São João do Campo (Terras de Bouro, Braga), onde D. José Cordeiro presidiu também à Eucaristia.

Na homilia, feita por D. Américo Aguiar, o atual presidente do Conselho de Gerência da Renascença lembrou que o cónego João Aguiar conseguiu concretizar “o seu sonho” de celebração das Bodas de Ouro Sacerdotais, que aconteceu no di a25 de março, na mesma igreja, afirmando que a última homenagem que lhe é prestada pela sua terra é o “encerramento” da gratidão pelos 50 anos de sacerdócio e por toda a sua vida.

No dia do funeral do cónego João Aguiar Campos, Marcelo Rebelo de Sousa publicou uma nota na página da internet da Presidência da República onde recorda “um Bom Amigo” e homenageou “o Jornalista e o Homem da Igreja”.

“Homem de Fé, sempre atento ao próximo, desempenhou um papel preponderante na comunicação social em Portugal. Como jornalista, como escritor, como professor, como homem da comunicação social, foi pelos valores humanistas que sempre lutou”, escreve o presidente da República.

(notícia atualizada às 22h00)

PR

O antigo diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais (SNCS) nasceu a 23 de dezembro de 1949 em S. João do Campo, Terras de Bouro (Braga); foi ordenado padre no dia 25 de março de 1973 e, entre 1974 e 1976 frequentou o curso de Ciências da Informação na Universidade de Navarra, Espanha.

Em 1976 começou a trabalhar no ‘Diário do Minho’, da Arquidiocese de Braga, onde foi diretor entre 1997 e 2005; em 1981 iniciou funções na Rádio Renascença, tendo ocupado a presidência do Conselho de Gerência da emissora católica portuguesa entre 2005 e 2016

Em 2011, foi nomeado diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, cargo que ocupou até abril de 2016.

O cónego João Aguiar Campos publicou as obras “Circunstâncias” (2016), “Rio abaixo” (2017), “Descalço também se caminha” (2019), “Morri ontem” (2019), “Fragmentos” (2020), “InTemporal” (2021), “Flores de Feno” (2021) e “Cochichos” (2023).

A 5 de maio de 2016, o SNCS entregou-lhe de forma honorífica o prémio de jornalismo ‘D. Manuel Falcão’, juntamente com o cónego António Rego.

Em janeiro de 2022, o presidente da República Portuguesa condecorou o cónego João Aguiar Campos com o grau de Comendador da Ordem do Mérito, pelo seu papel na Comunicação Social, como professor e como escritor.

O sacerdote desenvolveu a sua ação em várias regiões do país, com um “sentido de intervenção cívica” e eclesial.

A Ordem do Mérito destina-se a galardoar atos ou serviços meritórios praticados no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas, que revelem abnegação em favor da coletividade.

A Arquidiocese de Braga, na nota divulgada online, recorda que, em 2019, o Concelho de Terras de Bouro condecorou o sacerdote com a Medalha de Mérito Ouro.

Já em 2020, na XXIII Edição dos Galardões “A Nossa Terra”, o cónego João Aguiar Campos recebeu o “Galardão Carreira”, em Braga.

Nesse mesmo ano, foi distinguido com a Medalha Grau Ouro da Câmara Municipal de Braga.

“O padre João, como gostava de ser tratado, além da boa disposição que irradiava era um otimista confesso e nunca de furtava a escutar e a dirigir palavras de ânimo, de confiança, de alegria onde estivesse”, sublinha o comunicado.

No último mês de março, por ocasião dos 50 anos de ordenação sacerdotal, o cónego João Aguiar disse à Agência ECCLESIA que procurava ser um “místico de cada dia” e desejava ser recordado como quem fez “alguma coisa de bem” para alguém.

“Se me quiserem fazer algum elogio – ainda não o mereço – seria dizer-me: o padre João, sendo um padre secular, tornou-se num místico do cada dia. Um espantado místico de cada dia”, precisou.

A celebração do 50.º aniversário de ordenação sacerdotal decorreu na Igreja Paroquial de São João do Campo, sua terra natal, numa Missa presidida pelo arcebispo de Braga, D. José Cordeiro.

Para o antigo diretor do SNCS, o “desafio é aceitar o dom” que é proposto a cada um, em qualquer fase da vida.

 

 

Partilhar:
Scroll to Top