Igreja/Dependências: Vale de Acór vai às «periferias humanas, sociais» – Presidente da República (c/vídeo)

Livro comemorativo assinala 25 anos da instituição da Diocese de Setúbal

Foto: Diocese de Setúbal

Almada, 28 jun 2019 (Ecclesia) – O presidente da República afirmou que a Associação Vale de Acór “é uma obra de humildade” e “um contributo para superar injustiças e desigualdades”, no lançamento de um livro comemorativo dos 25 anos da instituição da Diocese de Setúbal.

Em declarações aos jornalistas, no final da sessão desta quinta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa observou que a associação, que trabalha na recuperação e reinserção de dependentes, vai às “periferias humanas, sociais”.

“É no fundo olhar para o que são os problemas sociais, carências sociais, desigualdades sociais, e contribuir. É um contributo para superar essas injustiças e essas desigualdades”, afirmou, na Quinta de São Lourenço, no Pragal, Almada.

Neste contexto, o chefe de Estado explicou que tem visitado múltiplas instituições de natureza social “para dizer como é importante haver essa mobilização por todo o país”.

No seu discurso, o presidente da República agradeceu “o exemplo social e comunitário” da Associação Vale de Acór, o “tipo de exemplo, multiplicado por muitos, que em momentos de crise aguentou o país”.

“Foram instituições como esta, multiplicada por muitas, que quando faltou o dinheiro, quando houve aperto, quando não foi possível a mão pública estar, na base da solidariedade das pessoas, criou a rede, o tecido social que resistiu à crise”, desenvolveu.

Já o bispo de Setúbal realçou que a península sadina “e, nomeadamente, o Concelho de Almada têm sofrido dramaticamente”, em consequência das “sucessivas crises que assolaram o país”.

“A realidade da Península de Setúbal, do seu urbanismo predominante, precisa de colaboração estreita entre todos os agentes públicos e outros reconhecidamente de utilidade pública no interesse daqueles que mais precisam. Esta obra é uma expressão do profundo empenhamento da Igreja de Setúbal”, desenvolveu D. José Ornelas, num discurso em que garantiu que a Igreja “quer ser parceira na busca de soluções para estes problemas em colaboração com todas as instituições no território”.

Em declarações à Agência ECCLESIA, o prelado afirmou que considera o trabalho do Vale de Acór é “fundamental em qualquer sociedade”, porque dá às pessoas “a capacidade de serem livres e criativas para depois exprimirem o melhor que têm de si”.

“É a nível humano e social um dos grandes investimentos porque aqui não se investe de graça, senão se investirem em coisas dessas vai-se investir em prisões, em hospitais e tantas outras coisas. É preciso de facto dar às pessoas a possibilidade de tirarem o melhor de si próprios, esta é uma das obras que acho mais típicas daquilo que é do Evangelho”, acrescentou o bispo de Setúbal.

A 9 de outubro de 2018, já no contexto das bodas de prata, a associação recebeu a Ordem de Mérito, pelos serviços prestados à sociedade.

O presidente da direção do Vale de Acór, padre Pedro Quintela, considerou que 25 anos são “um belo sinal da providência divina” e que ao longo deste percurso não se afastaram “da origem”.

“Não nos afastamos daquilo que nos mobiliza, daquilo que acreditamos. Não nos afastamos daqueles pobres a quem queríamos servir. Não nos tornamos uma organização muito complicada, que defende resultamos, estamos muito perto das pessoas; um terço dos que nos procuram não tem qualquer tipo de contrapartida financeira”, explicou à Agência ECCLESIA.

Hoje, continuam a ser muito procurados, “embora com outros perfis” e se começaram “só com toxicodependentes” e, agora, têm “muitos alcoólicos, o grupo mais importante dos residentes”, existem também pessoas “com duplo diagnóstico”, com “problemas de natureza psíquica”, bem como “pessoas com dependência da net e do jogo”.

A Instituição Particular de Solidariedade Social trabalha desde 1994 no âmbito da recuperação e reinserção de dependentes – nomeadamente os toxicodependentes e alcoólicos; toxicodependentes com problemas psiquiátricos; e toxicodependentes reclusos e ex-reclusos, tem uma Comunidade Terapêutica, licenciada pelo IDT.

‘Vale de Acór – Uma porta de esperança’ é título da nova publicação e o padre Pedro Quintela destaca que tem duas características “muito relevantes” para a associação: “Procuramos fazer coisas bonitas, e ao mesmo tempo um livro simples, direto, sem muitos requebros, nem muitos slogans”.

O livro comemorativo dos 25 anos tem fotografias de Rui Ochoa, o fotógrafo oficial do atual presidente da República Portuguesa, que foi diretor de fotografia do jornal ‘Expresso’ (1989-2008).

“O livro tenta dar um pouco o ambiente que se vive cá dentro que é um ambiente muito humano, muito próximo, e sem qualquer constrangimento. É, de facto, uma casa que adorei conhecer”, referiu à Agência ECCLESIA.

Rui Ochoa recorda que o projeto surgiu de um convite do padre Pedro Quintela e andou cerca de três meses a “fotografar pessoas” na associação católica que é “muito meritória” e onde se sentiu “muito bem porque as pessoas são todas maravilhosas”.

Foto: Diocese de Setúbal

“É uma instituição que tem um valor extraordinário as pessoas nem imaginam porque as pessoas vêm para aqui e são tratadas como seres humanos e saem daqui recuperadas, aqueles que conseguem, que são a maioria”, desenvolveu o fotógrafo do presidente da República Portuguesa.

No final da apresentação de ‘Vale de Acór – Uma porta de esperança’, Marcelo Rebelo de Sousa, D. José Ornelas e Inês de Medeiros, presidente da Câmara Municipal de Almada, deslocaram-se para junto de uma carrinha de gelados artesanais ‘Fratellini’, de uma empresa de cariz social que pertence à associação católica.

“É preciso coragem, muita coragem, as pessoas que aqui vão são as primeiras que merecem o nosso respeito e o nosso apoio, e a nossa solidariedade; aqui encontram uma casa, um chão, ninguém se reconstrói sem casa. Esta casa onde mais do que tudo combatemos a solidão”, assinalou a autarca.

CB/OC

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