Igreja/Cultura: Exposição «Liberdade Garantida», no Museu Diocesano de Santarém, alerta para realidade dos cristãos perseguidos

«Esperemos que esta iniciativa tenha também uma função educativa e nos faça crescer neste empenho e nesta solidariedade com muita gente no mundo que não goza desta liberdade» – D. José Traquina

Santarém, 22 abr 2024 (Ecclesia) – A exposição temporária ‘Liberdade Garantida’, do artista plástico Miguel Cardoso, alerta para a perseguição religiosa aos cristãos, com 11 instalações contemporâneas que dialogam com a iconografia do Museu Diocesano de Santarém, onde pode ser visitada até 30 de dezembro.

“A ideia é que seja um abanar de consciências. Não espero que as pessoas se sintam chocadas de uma forma gratuita, eu espero que as pessoas tenham consciência, pelo menos vejam, o que é que está a acontecer, que é verdadeiramente dramático”, disse Miguel Cardoso, em declarações aos jornalistas, antes da inauguração da exposição, este sábado.

O artista plástico explica que “nunca, como nos dias que correm, os cristãos foram tão perseguidos no mundo”, por isso, considera que seja natural que as pessoas “se sintam comovidas, porque são crianças que morrem, são famílias que são destruídas”, “um drama gigante que acontece”, realçando que “não é uma exposição do belo, é uma exposição com sofrimento incluído”.

Já para o bispo Santarém a nova exposição tem “importância larga” na medida em que toca com um tema fundamental da existência humana “que é a liberdade e só por isso valeria a pena”.

“Esperemos que esta iniciativa tenha também uma função educativa e nos faça crescer neste empenho e nesta solidariedade com muita gente no mundo que não goza desta liberdade e que nos motiva a sermos construtores da paz, valorizando o que temos e crescendo em boa educação e boa formação”, disse D. José Traquina à Agência ECCLESIA.

A exposição ‘Liberdade Garantida’ sobre liberdade religiosa conta com a parceria da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

A responsável do secretariado português da instituição considera que esta mostra “faz todo o sentido” porque a liberdade religiosa não está garantida e alerta que “não é assegurada em um terço dos países do mundo, segundo os dados do último relatório” da fundação.

“Existem muitas pessoas no mundo que são refugiadas, que são migrantes por causa da questão religiosa, por causa de não poderem expressar livremente a sua fé nos seus países e, por isso, procurarem refugio noutros países. Esse é um dos motivos que levam tantos milhões de pessoas a fugirem das suas casas, dos seus países”, desenvolveu Catarina Martins Bettencourt, em declarações à Agência ECCLESIA sobre “um assunto extremamente importante e extremamente delicado”,

A exposição ‘Liberdade Garantida’ é constituída por 11 instalações e cada peça tem uma chave de leitura, que foi escrita pelo padre Rui Santiago (Missionário Redentorista): um colete salva-vidas, com frases bíblicas; a imagem de Alan Kurdi numa imitação do Santo Sudário de Turim, o menino sírio que morreu afogado e apareceu numa praia da Turquia (setembro 2015); uma pessoa em situação de sem-abrigo a dormir num saco-cama; um bote de borracha enquanto na televisão passa imagens de barcos com migrantes e refugiados no Mediterrâneo.

Catarina Martins Bettencourt refere que a peça que mais a tocou foi a cruz com os azulejos “porque há vários rostos” daqueles que conhecem que eram “parceiros de projeto, e que infelizmente foram vítimas desta violência, deste não respeito pela liberdade religiosa do outro”.

A exposição temporária ‘Liberdade Garantida’, patente até 30 de dezembro, insere-se também no décimo aniversário do Museu Diocesano de Santarém e nos 50 anos do 25 de abril de 1971, o seu diretor destaca a “preocupação” de estarem “sempre abertos à realidade” que os rodeia.

“Estando a sociedade portuguesa nesta reflexão sobre a liberdade achamos que podíamos também fazer um exercício de reflexão interno, de por aquilo que é o nosso património e este lugar, que é de eleição para quem visita Santarém e um meio também que a Igreja diocesana tem para fazer chegar a muitos, em torno da liberdade”, explicou o padre Joaquim Ganhão, à Agência ECCLESIA.

O sacerdote partilhou no final da visita que pensava que esta “precisa de silêncio, o silêncio que se segue”, porque o percurso que ali se oferece leva a “uma reflexão pessoal muito séria e para além do pessoal”, acerca da realidade “liberdade religiosa, e dos atentados à pessoa humana”.

A diretora do Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja, da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), Fátima Eusébio, destacou a importância da temática desta exposição, na sessão de inauguração, e de ‘Liberdade Garantida’ torna-se itinerante pelas dioceses portuguesas, começando por Viseu, a sua diocese de origem, onde é também a responsável pelo Departamento dos Bens Culturais diocesano e pelo Tesouro-Museu da Catedral.

As instalações de ‘Liberdade Garantida’ foram integradas na coleção permanente do Museu Diocesano de Santarém, e Miguel Cardoso assinala que quanto aos cristãos perseguidos, “muitas vezes, há todo um trabalho quase de resiliência, de luta e de querer sempre erguer-se dos escombros”.

O artista plástico precisou que o nome desta exposição temporária foi retirado do livro testemunho de Helen Berhane, uma cristã da Eritreia que foi presa, em 2004, “e torturada durante mais de dois anos”, por reunir-se em núcleos de estudo bíblico e divulgar cd’s com músicas de louvor, gravados por si.

CB/OC

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