Igreja/Abusos: «As vítimas serão pessoas que queremos continuar a ouvir, a acompanhar e a ajudar» – Bispo de Angra

D. Armando Esteves Domingues afirmou «tolerância zero» na diocese, e disponibilidade para atender quem os procurar

Foto Agência ECCLESIA/HM

Angra do Heroísmo, Açores, 14 fev 2023 (Ecclesia) – O bispo de Angra manifestou “profunda vergonha e dor” após a publicação do relatório sobre os abusos da Comissão Independente para o estudo destes casos, e afirmou “tolerância zero”.

“Não posso deixar de exprimir a profunda vergonha que sinto e até dor, que não se compara em nada com a que será a dor das vítimas e é para elas que vai a minha primeira palavra”, disse D. Armando Esteves Domingues aos jornalistas, esta segunda-feira, no Centro Pastoral Pio XII, em Ponta Delgada.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica (CI), organismo criado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), apresentou o relatório do seu trabalho de recolha de testemunhos e análise de arquivos históricos de instituições católicas, em Lisboa.

“Este relatório é um estudo encomendado pela Igreja para, a partir daqui, estudarmos estratégias para o futuro. A Comissão Diocesana que temos é já um exemplo e vai continuar o seu trabalho de formação em ordem à prevenção; mesmo que haja crimes prescritos, para a Igreja não há prescrição, as vítimas serão pessoas que queremos continuar a ouvir, a acompanhar e a ajudar”, explicou o bispo de Angra, divulga o portal ‘Igreja Açores’.

Segundo o responsável católico, “o grande desafio” é que em todo o lugar a Igreja seja “um espaço seguro e cada comunidade cristã seja um lugar seguro para crianças”, e destacou que se a ‘Comissão Diocesana de Prevenção e Acompanhamento de eventuais casos de abusos sexuais de menores por parte de membros do clero’, criada em julho de 2019, estava comprometida “agora, por maioria de razão, ainda estará mais”.

Apresentado na manhã desta segunda-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, o relatório da CI indica oito casos de alegados abusos em cinco ilhas do Arquipélago dos Açores, na Diocese de Angra; para o bispo diocesano “foi uma novidade” porque a Comissão Diocesana não recebeu “denúncias”, lembrando também que “os investigadores estiveram três dias a analisar os arquivos da diocese”.

“Da minha parte e da diocese haverá tolerância zero neste campo; não toleraremos este tipo de procedimentos como é evidente e tudo faremos para que sejam erradicados definitivamente não só na Igreja mas também na sociedade”, afirmou D. Armando Esteves Domingues, bispo de Angra desde 15 de janeiro.

A Comissão Independente validou 512 testemunhos, num total de 564 recebidos, relativos a casos ocorridos entre 1950 e 2022.

“Pedir perdão em nome da Igreja é pouca coisa; gostaria de o poder provar e fá-lo-emos: Se alguém quiser procurar-me, como tanta gente o faz, estarei disponível tal como a Comissão diocesana para o atender; Gostaria de dizer às vítimas que se em momento algum se sentissem sós, não estão sozinhos”, realçou o responsável diocesano aos jornalistas.

D. Armando Esteves Domingues observou que se existem “vítimas há também abusadores” e pediu que “assumam com dignidade e verdade as faltas cometidas”: “Pedir perdão a Deus não chega, será preciso pedir perdão às vítimas”.

A advogada Maria do Sameiro Amaral, da ‘Comissão Diocesana de Prevenção e Acompanhamento de eventuais casos de abusos sexuais de menores por parte de membros do clero’ de Angra, também participou nesta conferência de imprensa e reforçou a disponibilidade desta equipa – professores, médicos, juristas e psicólogos – para acolher e escutar as vítimas [960212625 e protecaomenores@igrejaacores.pt], afirmando que “qualquer pessoa terá anonimato”, divulga o sítio online ‘Igreja Açores’.

No dia 3 de março, está prevista a realização de uma assembleia plenária extraordinária da CEP, em Fátima, para analisar o relatório da CI.

CB

 

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