Habitação/Portugal: «Tem havido uma incapacidade de resposta», alerta Luís Leal, sobre um debate que dura «há mais de 100 anos»

Investigador do CEHR reflete sobre a resposta «o património dos pobres», no novo livro sobre as «permanências, ruturas e recomposições» do 25 de Abril

Porto, 24 abr 2024 (Ecclesia) – Luís Leal, investigador do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da Universidade Católica Portuguesa, considera que a habitação é um problema que “muito antigo” em Portugal, sobre o qual permanece uma “incapacidade de resposta” do Estado e da sociedade.

“Em Portugal, no que de respeito às respostas institucionais, leia-se estatais, há mais 100 anos que andamos a debater estas questões e infelizmente tem havido uma incapacidade de resposta, digamos, operativa que dê efetivamente um resultado, ou que apresenta um resultado compaginável com aquilo que são os desafios de cada momento”, disse à Agência ECCLESIA.

O investigador assina o artigo ‘O “património dos Pobres”: resposta “modelar” a um problema premente’, no livro ’25 de Abril. Permanências, ruturas e recomposições’, lançado pela ECCLESIA e o CEHR nos 50 anos da revolução de 1974.

Este é, na opinião do autor, um contributo para uma reflexão que é necessário fazer, principalmente, num tempo como o atual onde “a questão da habitação volta a estar na ordem do dia”, das preocupações de tantos portugueses, “é um problema que parece novo, mas, objetivamente, é muito antigo”.

“Houve imensas tentativas de diversas tipologias, quer por parte do Estado, quer por parte de outras entidades privadas, digamos assim, da cultura e da sociedade, mas a todas faltou, na análise da leitura que fui fazendo, algo que é essencial: uma coordenação e uma compreensão dinâmica e holística, do próprio problema. Perceber que o Estado sozinho, pelo menos no período do Estado Novo, como ficou demonstrado, não é capaz efetivamente de responder à questão”, indica.

‘25 de Abril: permanências, ruturas e recomposições’, é um novo livro publicado no âmbito das comemorações dos 50 anos da democracia em Portugal, com coordenação científica do CEHR e edição da Agência ECCLESIA, e que foi apresentado, no dia 17 de abril, na igreja da Torre dos Clérigos, no Porto.

“Não se pode falar em Portugal de liberdade sem falar do Porto enquanto região, enquanto diocese, enquanto clero, enquanto cultura”, destacou Luís Leal, membro da equipa coordenadora.

O projeto vai estar em destaque na emissão do Programa ECCLESIA na Antena 1 da rádio pública, pelas 06h00 do próximo domingo.

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Luís Leal apresenta “um exemplo de tentativa de resposta” que, curiosamente ou não, “o próprio Estado tinha deixado de parte”, na década de 40, 50, de resposta às populações que “vinham em êxodo, do campo para a cidade”, e encontrar formas de “as acomodar, do ponto de vista habitacional”.

O projeto do ‘Património dos Pobres’, proposto pelo Padre Américo de Monteiro de Aguiar (Padre Américo), em 1951/52, “visa responder à outra dimensão, ao reverso desta medalha”, ou seja, apoiar as pessoas que “não puderam fazer essa migração, e ficaram nas suas terras de origem, nas suas aldeias”, mas também não têm “habitação própria”.

Segundo Luís Leal, este projeto, “não cria dependência de qualquer tipo de apoio”, o próprio Padre Américo “deixou isso bem claro, que era uma responsabilidade e um desafio” que ele lançava aos senhores presidentes de junta de paróquia, junta de freguesia e aos membros das Conferências Vicentinas: “Ele entendia que eram essas estruturas de imediata resposta que tinham a obrigação de conhecer a realidade do seu espaço, que tinham que dar resposta, e, conhecendo essa realidade, podiam articular melhor quem é que realmente merecia, quem é que não merecia”.

“É um exemplo que quis dar de uma proposta que brota no seio Eclesial, é um padre, que atento à realidade do seu tempo, do seu contexto, não fica de braços cruzados, compromete-se, e, nesse compromisso apresenta uma ideia concreta para dar resposta a um problema concreto”, conclui o professor auxiliar convidado da Faculdade de Teologia da UCP.

O investigador salienta que, segundo os autores que cita, este projeto do Padre Américo “foi a maior iniciativa não estatal, com melhores resultados e com mais rápidos resultados ao nível de alta construção em todo o Estado Novo”, num espaço de 10 anos havia três mil focos espalhados por todo o país, “com uma dinâmica de propagação tremenda”, e, hoje, “continuará a ser uma proposta que merece ser tida em conta na análise deste problema premente, que é o problema da habitação em Portugal e das dificuldades as associadas”.

CB/OC

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