Guarda: «Ritmo acelerado em que hoje a sociedade se habituou a viver, deixa facilmente de lado a dimensão da fé», refere futuro padre da diocese

Diácono Tiago Fonseca, de 27 anos, vai ser ordenado padre no dia 30 de junho e acredita que esta é uma missão que «passa por ser um sinal de esperança diante dos desafios e dificuldades do caminho»

Foto: Diocese da Guarda

Guarda, 28 jun 2024 (Ecclesia) – O diácono Tiago Fonseca, cuja ordenação sacerdotal acontece no próximo domingo na Guarda, afirma que a oferta “grande” de opções que os jovens têm à disposição e o “ritmo acelerado” hoje vivido contribuem para que a fé caia no esquecimento.

“Este ritmo acelerado em que hoje a sociedade se habituou a viver, deixa facilmente de lado a dimensão da fé que acaba por ficar esquecida”, afirmou o futuro sacerdote, em entrevista ao jornal ‘A Guarda’, destacando a “quantidade de eventos, organizações, atividades extracurriculares, hobbies e serviços” que hoje se apresentam aos jovens.

“Para isto tem contribuído também a excessiva imersão no mundo virtual, onde tudo parece estar à distância de um clique”, indicou.

Tiago Fonseca acredita que alguns jovens afastam-se da Igreja, porque “a comunidade cristã não depositou neles a confiança necessária para se sentirem elementos vitais e essenciais das paróquias”.

“Neste campo, mais uma vez, acho que é fundamental uma atitude de esperança e acolhimento, sem muitos pré-requisitos e formalidades. A criatividade, os sonhos e a alegria dos jovens é sempre uma brisa refrescante que entra na Igreja”, defende.

Natural da Covilhã, o futuro sacerdote vai ser ordenado na Sé da Guarda, no dia 30 de junho, pelas 17h, numa celebração presidida pelo bispo diocesano, D. Manuel da Rocha Felício.

O jovem, de 27 anos, estudou na Universidade da Beira Interior, na Universidade Católica Portuguesa de Braga e frequentou o Seminário Maior Interdiocesano de São José, em Braga.

Ordenado diácono a 8 de dezembro de 2023, Tiago Fonseca está a colaborar com os padres Rafael Neves e José Brito, nas paróquias de Aldeias, Mangualde da Serra, Moimenta da Serra, S. Martinho, Santa Marinha e Paços da Serra, Vinhó, Pinhanços e Santa Comba de Seia.

Questionado sobre os desafios e dificuldades com que se tem deparado no contacto com as comunidades em que está inserido, o diácono refere que a “multiplicidade de paróquias confiadas a um padre” implica, por um lado, “um esforço redobrado” para estarem “intrinsecamente presentes na vida das pessoas” e, por outro, “uma exigência maior” para responderem “às diversas solicitações de ordem pastoral”.

No que diz respeito aos ministérios laicais, embora já tenham uma grande expressão nas nossas comunidades, ainda estão bastante dependentes da figura do presbítero, o que em alguns casos reflete também uma certa retração ao compromisso”, ressalta.

Tiago Fonseca realça que os “contextos sociais de alguma instabilidade” que hoje se vivem refletem-se no “ambiente eclesial”, que se materializa “tantas vezes num certo pessimismo pastoral, que afeta inclusivamente o clero diocesano”.

“Também é verdade que as dificuldades e desafios são um estímulo a encontrarmos novas formas no anúncio do Evangelho de Jesus, reconhecendo obviamente os sinais dos tempos à luz fé. Acredito que a missão do padre passa por ser um sinal de esperança diante dos desafios e dificuldades do caminho”, referiu.

O futuro sacerdote assinala que a “presença e colaboração do arciprestado de Gouveia” foi um regresso às origens, depois dos anos de formação em Braga, enfatizando que “foi bom volver a tempo inteiro à Diocese da Guarda” e que foi acolhido “pelas comunidades cristãs num clima de alegria, de profunda amizade e fraternidade, desde logo, pelos párocos” que o acompanham, o padre Rafael Neves e o padre José Brito.

“Este tem sido um tempo muito enriquecedor e gratificante, de aprendizagem e contacto mais personalizado com a vida e a fé das pessoas”, manifestou.

Recordando o período “muito bom” que atravessou no Seminário que lhe conferiu a oportunidade “com uma realidade distinta e mais ampla”, Tiago Fonseca deu conta que o estudo da Teologia ajudou-o a “olhar a Igreja e o mundo de uma forma mais densa e criativa”.

“Do ponto de vista espiritual, isto teve consequências muito positivas, quer na minha relação pessoal com Deus, quer na minha interação com os outros e no sentido da minha pertença à Igreja”, explicou.

A “vocação do ministério sacerdotal não foi desde sempre uma opção” na vida do jovem diácono, que revela que “no momento de discernir seriamente no futuro e a colocar Deus no centro desse questionamento, a ideia de ser padre tornou-se cada vez mais um caminho de realização”.

“Nos últimos tempos, como diácono, esta espectativa tornou-se uma certeza, consciente de que é Deus quem toma sempre a iniciativa. É Ele que chama e que nos atrai”, sublinhou.

O futuro padre escolheu o lema “Para que todos seja um”, do capítulo 17, do Evangelho de S. João, para ser ordenado, uma expressão de Jesus no contexto da oração sacerdotal, no seguimento da última ceia, que segundo o diácono resume “de uma forma identitária a missão de cada um” enquanto batizados e depois, na “realização da nossa vocação pessoal”.

“Na minha opinião, esta é uma dimensão fundamental no ministério do presbítero: viver na comunhão com Jesus Cristo e congregar nesta mesma unidade, todos aqueles que se sentem chamados a dar testemunho dos valores do Evangelho nas suas vidas”, frisou.

LJ/OC

Uma semana depois da ordenação sacerdotal, Tiago Fonseca vai celebrar a Missa Nova, no dia 7 de julho, na Igreja da Santíssima Trindade, na Covilhã.

“Esta igreja, assim como todas as pessoas que fazem parte da Paróquia de Santa Maria são o berço da minha vocação. Foram elas, tal como a minha família, que me ajudaram a discernir a união de duas vontades, a de Deus e a minha, o que me trouxe até aqui. O facto de a Missa Nova acontecer nesta igreja, que é espaço de tantas memórias, é para mim também uma forma de agradecimento à comunidade por toda a dedicação, oração e confiança ao longo destes anos”, explica.

Já no domingo seguinte, dia 14 de julho, a Missa Nova realiza-se na paróquia de Paços da Serra, uma das paróquias do Arciprestado de Seia-Gouveia, em que o futuro sacerdote está a realizar o estágio pastoral.

“Para mim a Diocese da Guarda é esta seara onde, no concreto da minha vida, Jesus me convida a ser sinal da unidade e vínculo da comunhão que nos vem de Deus. Não pode existir um padre desenraizado deste corpo místico que é a Igreja. É na Diocese da Guarda que me sinto parte deste corpo e que a partir do dia 30 de junho, passarei a integrar no ministério presbiteral”, concluiu.

Guarda: Bispo diocesano preside a ordenação sacerdotal de Tiago Fonseca

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