Filipinas: «Sou um migrante. Tenho ADN de migrante» – D. Luis Antonio Tagle

Cardeal de Manila participou na inauguração da exposição «Migrações e Desenvolvimento»

Leiria, 11 mai 2019 (Ecclesia) – O presidente da Cáritas Internacional explicou hoje que a migração “não é simplesmente um fenómeno” mas “é sobre pessoas humanas”, por isso, “é melhor falar de migrantes” e afirmou que tem “ADN de migrante” pelo avô materno.

“Sou um migrante, tenho ADN de migrante. Para a minha família este tema do desenvolvimento não é um conceito, é uma realidade”, afirmou o cardeal de Manila (Filipinas), esta tarde na Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira, em Leiria.

D. Luis Antonio Tagle contou que o meu avô materno nasceu na China e a sua mãe, uma viúva “muito pobre”, não sabia como garantir o futuro do filho e, “com muito sofrimento”, deu-o a um tio que viaja em negócios entre a China e as Filipinas.

“(Avô) Um migrante nas Filipinas, vendeu cigarros, teve nove filhos. Uma vida dura mas simples, deu a sua vida à família”, recordou, revelando que o avô materno, um budista convertido ao cristianismo, não imaginou um “neto sacerdote”, respeitava mas não compreendia a opção, mas disse-lhe que queria “um sacerdote bom”.

O presidente da Cáritas Internacional salientou que “o fenómeno das migrações não é novo”, a migração existe com a história da humanidade e “na mão de Deus é uma parte da história da salvação” mas nas mãos dos Homens “há um perigo” porque “é olhada como um problema, com soluções exclusivamente ideológicas”.

“Somos convidados a abrir os olhos com a fé, convidados a ver o fenómeno da migração como parte da história da salvação”, desenvolveu.

A exposição itinerante ‘Migrações e Desenvolvimento’ foi pensada para o “público jovem”, para uma “melhor compreensão” do fenómeno migratório e da sua relação com o desenvolvimento humano integral.

Aos jornalistas, depois de visitar a mostra, o cardeal de Manila explicou que é importante deixar os jovens verem a realidade por que “muitos dos migrantes, forçados a refugiar-se, são jovens” e os jovens de Portugal e dos outros países precisam conhecer esta realidade para que “aprendam a ser pessoas de solidariedade com os outros”.

“Não queremos que desenvolvam a indiferença enquanto jovens. Quando forem mais velhos passarão isso aos seus filhos e depois o que acontecerá à sociedade portuguesa: Geração após geração de pessoas que não se encontram com os outros, por isso, é formação de mentes e coração de jovens para quando cresçam consigam passar estes valores de solidariedade e preocupação com os outros”, desenvolveu D. Luis Antonio Tagle que está em Portugal para presidir à peregrinação de 12 e 13 de maio ao Santuário de Fátima.

O bispo de Leiria-Fátima, cardeal D. António Marto, realçou que o fenómeno das Migrações “é de urgente atualidade”, um dos desafios de caráter mundial que “a humanidade deve enfrentar no seu todo”, e alertou para o “emergir de um discurso xenófobo”, que leva à “radicalização e intolerância”, no ocidente.

“Devemos olhar os migrantes como pessoas concretas, com histórias de vida que trazem consigo tantas vezes de modo dramático e portadores de uma cultura própria. Olhar como oportunidade de enriquecimento e desenvolvimento económico e cultural”, desenvolveu, esperando que a exposição sirva para “sensibilizar e promover uma “cultura de fraternidade, solidariedade acolhimento e encontro”.

‘Migrações e Desenvolvimento’ é uma iniciativa da Cáritas Portuguesa que conta com a parceria do Alto Comissariado para as Migrações (ACM), a Fundação Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC) e a Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM).

“O que pretendemos é transformar mentalidades. E é muito mais eficaz transformar mentalidade daqueles que estão a iniciar que hão de dar continuidade ao trabalho que cada um vai fazendo agora”, disse o presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca.

O coordenador da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica no SNEC e seu diretor nomeado, alertou que “a ignorância é a mãe do preconceito, dos medos, da xenofobia” e explicou que na educação a pessoas aproxima-se “do divino”.

“O papel da educação é irmos à cabeça da criança, do adolescente, do jovem, do adulto, e desmontarmos, instruirmos, darmos elementos, ferramentas para que aquela pessoa fique a conhecer melhor, concretamente os migrantes”, acrescentou o professor Fernando Moita.

Também estiveram na mesa a vereadora para o Desenvolvimento da Ação Social do Município de Leiria, Ana Valentim, e da ACM José Lino Neves que destacou que a partilha de “informação correta, cientificamente comprovada, é bastante importante”, numa sociedade onde as plataformas de partilhas são muitas e rápidas.

O coordenador do Gabinete de Apoio Técnico às Associações de Imigrantes explicou que existem “migrações antigas, atuais com os refugiados” e podem vir a existir outras, “migrações de outras zonas do globo” e é necessário “estar preparado e tentar solucionar os problemas, as soluções, as coisas boas que surgem”.

A exposição itinerante ‘Migrações e Desenvolvimento’ é um projeto idealizado com a duração de um ano e, depois de uma semana em Leiria, vai começar a percorrer Portugal.

CB

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