Evangelizadores digitais ou padres influencers popstars

Padre Miguel Neto, Diocese do Algarve

Foto: Agência ECCLESIA/MC

A explosão das redes sociais trouxe um fenómeno interessante para o catolicismo: os padres influenciadores digitais. À primeira vista, parece uma evolução natural da evangelização para a era digital. Contudo, uma análise mais profunda revela desafios significativos que merecem atenção.

O principal problema reside na tensão entre a lógica das redes sociais e a missão evangelizadora. As plataformas digitais privilegiam o espetáculo, o conflito e o personalismo – elementos que frequentemente se chocam com os valores evangélicos fundamentais. Quando um sacerdote se torna influenciador, ele inevitavelmente se submete às regras do engajamento digital, que exigem constante autopromoção e busca por visualizações.

Esta dinâmica tem gerado o que podemos chamar de “magistério paralelo”. Alguns padres influenciadores acabam por construir verdadeiras “bolhas eclesiais”, nas quais a sua interpretação pessoal da doutrina ganha mais peso, que o próprio magistério da Igreja. Em casos extremos, as suas palavras têm mais autoridade para seus seguidores, do que as orientações de bispos ou até mesmo do Papa.

Outro aspeto preocupante é a mercantilização da fé. Muitos desses influenciadores acabam por transformar conteúdo religioso em produto, adaptando mensagens sagradas à lógica do consumo digital. Esta comercialização pode resultar numa simplificação excessiva ou distorção de verdades fundamentais.

A Igreja enfrenta, agora, o desafio de encontrar um equilíbrio entre presença digital e fidelidade à sua missão. É possível evangelizar nas redes sociais? Certamente. Mas é crucial diferenciar um verdadeiro evangelizador digital, de um mero influenciador católico. O primeiro coloca a mensagem do Evangelho no centro; o segundo, muitas vezes, coloca-se a si mesmo.

O caminho futuro exigirá discernimento, tanto da hierarquia eclesiástica, quanto dos fiéis. É necessário desenvolver critérios claros para distinguir entre uma presença digital autenticamente evangelizadora e aquela que apenas reproduz os vícios da cultura digital contemporânea.

Por fim, é importante lembrar que a verdadeira evangelização não se mede em likes ou seguidores, mas na capacidade de aproximar as pessoas de Cristo e da comunidade de fé. Quando essa perspetiva se perde, corremos o risco de transformar o sagrado em espetáculo e a missão em autopromoção.

E, atenção: não creio que o caminho seja não estar nas redes sociais. Pelo contrário. Mas sou firmemente defensor de que qualquer um de nós e o clero muito particularmente, tem de APRENDER – e não há humilhação na palavra, pelo contrário; há apenas ELEVAÇÃO! – a viver neste ambiente, sem preconceitos, mas com sentido crítico; sem colocar mensagens tecnicamente infelizes, mas criando beleza; sem se fechar na sua bolha de olhar, mas abrindo o espírito à diversidade. No fundo, sendo aquilo que Jesus Cristo foi: humildemente sabedores e crentes na capacidade de amar o próximo, seja em que espaço for.

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