Especial: Vaticano regressa à Bienal de Arquitetura de Veneza, apresentando pavilhão com marca portuguesa (c/fotos)

Cardeal Tolentino Mendonça e Siza Vieira destacam «necessidade do encontro» para construir «futuro diferente»

 

Cidade do Vaticano, 17 abr 2023 (Ecclesia) – O cardeal D. José Tolentino Mendonça e o arquiteto Álvaro Siza Vieira apresentaram hoje o Pavilhão da Santa Sé na Bienal de Arquitetura de Veneza, que desafia para um “futuro diferente”, no 10.º aniversário do pontificado de Francisco.

“Algumas das linhas mestras deste pontificado podem ser a chave para um diálogo com a arquitetura contemporânea e confluir numa visão que se arrisca a pensar um futuro diferente”, referiu o cardeal madeirense, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, em conferência de imprensa.

O pavilhão da Santa Sé vai ocupar os atuais edifícios do Mosteiro Beneditino e nos jardins da Abadia, desenvolvendo o tema da amizade social, a partir dos ensinamentos do Papa Francisco nas encíclicas ‘Laudato si’ (2015) e ‘Fratelli Tutti’ (2020).

Álvaro Siza Vieira, prémio Pritzker em 1992, e o coletivo italiano ‘Studio Albori’ apresentam as suas obras, em diálogo com o tema geral da Bienal, ‘O Laboratório do Futuro’ proposto por Lesley Lokko, curador da edição de 2023.

A participação do Vaticano está subordinada ao tema ‘Amizade social: encontrar-se no jardim’ e a 18ª edição da Bienal decorre de 20 de maio a 26 de novembro deste ano.

Para D. José Tolentino Mendonça, as propostas de Siza Vieira e do ‘Studio Albori’ são, ao mesmo tempo, “magistrais e inovadoras” e fazem refletir sobre “o contributo da Arquitetura, apresentando-a como uma prática laboratorial do futuro e, no fundo, não muito longe das questões tipicamente espirituais”.

O nosso amor pela vida pede-nos que a vejamos como um paciente laboratório de investigação, de riscos assumidos que depois se tornam pontes, com a obstinação de não deixar ninguém para trás ou de fora”.

A Santa Sé estreou-se na Bienal de Arquitetura em 2018, quando expôs dez Capelas nos jardins da Ilha de San Giorgio Maggiore, incluindo uma obra do português Eduardo Souto Moura; anteriormente, tinha participado na Bienal de Arte de Veneza.

O prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação falou da “marca do encontro” na presença do Vaticano, nesta edição de 2023, apontando a inspiração do Papa para todos os que desejam “um mundo mais justo e menos ferido pelas desigualdades sociais”.

O cardeal Tolentino Mendonça elogiou ainda a figura do arquiteto português Álvaro Siza Vieira, “que, aos 90 anos, se apresenta como uma reserva de juventude para o mundo, apostando numa arquitetura que não se fixa entre quatro paredes, mas se desloca”.

“É uma arquitetura viva, figurativa, ‘em saída’. Um intenso manifesto político e poético sobre o que é ou pode vir a ser o encontro entre os seres humanos”, acrescentou.

Foto: Álvaro Siza Vieira

Siza Vieira falou do convite para ser responsável do projeto executivo do Pavilhão da Santa Sé como uma “grata surpresa”, assumindo a “responsabilidade” e até “medo” que sentiu.

O arquiteto português destacou que o espaço escolhido é “belíssimo” e o tema “de uma oportunidade total, no meio das notícias que se ouvem, todos os dias”.

A instalação ‘O Encontro’, de Álvaro Siza Vieira, acolhe e conduz os visitantes, que dialoga com as peças desenhadas pelo arquiteto, ao espaço exterior – normalmente reservado à comunidade beneditina -, um novo jardim projetado pelo ‘Studio Albori’.

“Há uma vontade evidente de caminhar, de movimento, muito geométrica, muito esquemática, mas com uma sensação de movimento, de busca”, assinalou o responsável português, que lamentou não poder visitar o espaço em Veneza, devido a limitações físicas.

O curador do pavilhão, o arquiteto Roberto Cremascoli, foi um dos responsáveis pela representação portuguesa na Bienal de Veneza, em 2016, e destacou a importância de “criar uma relação entre o território, os residentes, a bienal e o seu público”.

A proposta da Santa Sé, acrescentou, é oferecer aos visitantes um “lugar de pausa e de silêncio”.

“Este cenário material e espiritual aproxima-nos do quotidiano de um mosteiro beneditino e da sua Regra, abrindo a possibilidade de um diálogo renovado com esses espaços emblemáticos da tradição arquitetónica”, indica uma nota do Vaticano, enviada à Agência ECCLESIA.

Cremascoli disse aos jornalistas que o convite de D. José Tolentino Mendonça foi o de “dar um passo atrás na arquitetura”, algo que “só um poeta” faria.

Os visitantes são recebidos por uma narração em vídeo, descrevendo o processo que levou à criação de todas as instalações, desde a conceção dos primeiros protótipos até sua chegada à ilha.

OC

Questionado sobre os jovens que, em defesa da causa ambiental, têm atentado contra obras em museus um pouco por todo o mundo, D. José Tolentino Mendonça falou em “gestos de cultura ou contracultura”.

“O apelo que podemos fazer é à responsabilidade de todos, não só em relação ao futuro comum, mas também à herança de um passado que continua a inspirar-nos para que nos tornemos humanos”, precisou.

O cardeal português elogiou o compromisso das novas gerações na luta contra as alterações climáticas, como tem feito o Papa Francisco, convidando a rever uma visão de “antropocentrismos despótico” na relação com a natureza.

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