Especial: «Foram dois ex-alunos que, sem saberem, me levaram a voltar à Igreja», recorda professora do primeiro ciclo batizada na Vigília Pascal

Mafalda Campos e Andrezza de Melo Silva recordam preparação e vontade de continuar ligadas à paróquia

Foto: Paróquia de Tavira

Tavira, 04 abr 2024 (Ecclesia) – Mafalda Campos e Andrezza de Melo Silva receberam os sacramentos de Iniciação Cristã na Vigília Pascal, na igreja de Santiago, em Tavira (Diocese do Algarve), realizaram vontades/desejos que têm desde a infância, recordaram este percurso com a certeza de querer fazer parte da comunidade.

“Quero envolver-me sinceramente com o que puder aqui na nossa comunidade, aqui nesta paróquia. Acho que posso contribuir, não sei como, terei que auscultar ainda as pessoas da comunidade, fazer algo que possa contribuir, nem que seja com a minha profissão, poder ajudar crianças que façam parte da comunidade e que precisam de ajuda ao nível do primeiro ciclo”, disse Mafalda Campos, em declarações à Agência ECCLESIA.

A professora do Primeiro Ciclo do Ensino Básico sublinhou que se quer “envolver mais” na Paróquia da Conceição de Tavira, e anda a convencer as outras companheiras de formação cristã para fazerem “parte do coro da igreja”.

“Eu tenho que me organizar em questões de horário, mas gostava de fazer parte da comunidade, ajudar mais, porque não é só me batizar e pronto, me afastei, já faz isso. Eu quero manter nesse caminho e quero ser útil da melhor forma possível, ainda não sei como vou fazer isso, mas é algo que está no meu plano”, acrescentou Andrezza de Melo Silva, que trabalha como operadora num supermercado de um alojamento.

As duas entrevistadas receberem os sacramentos de Iniciação Cristã na Vigília Pascal, na noite de sábado, 30 de março, na presença de familiares, amigos e da comunidade paroquial, numa celebração presidida pelo bispo emérito de São Tomé e Príncipe, D. Manuel dos Santos, na igreja de Santiago, em Tavira.

“Era algo que sempre quis e foi uma experiência que não sei explicar. Eu posso tentar explicar de mil formas e mesmo assim não conseguiria, foi algo maravilhoso, maravilhoso. Por exemplo, eu sentia antes um peso muito grande, naquele momento em que me batizei, como se todo aquele peso que eu carregava nas minhas costas tivesse ido embora, uma paz que eu não consigo explicar”, assinala Andrezza de Melo Silva.

A jovem brasileira de 26 anos, a viver há sete anos em Portugal, fala na “certeza” de que fez “algo certo” e, sobre mudanças, exemplifica que, “há situações no dia-a-dia, que se fosse há um tempo não deixaria passar”, mas, agora, consegue “deixar de lado certas situações”. “Eu não sei, me sinto mais sensata, mais calma, mais leve”.

“Se recebi o Espírito Santo alguma coisa há de mudar. Mas não é aquele intuito, ‘eu vou-me batizar, vou-me redimir todos os meus pecados e, a partir de agora, sou uma pessoa intocável. Vou continuar a tentar ser o melhor que conseguir, dentro das regras da Igreja, respeitando”, explicou Mafalda Campos.

Esta entrevistada, de 51 anos de idade, não quer mudanças, mas aposta na continuidade, “a ir à Missa ao domingo, continuar a rezar o Credo e o Pai Nosso todas as manhãs”.

“Quero continuar a ser agradecida, a pedir ajuda aos anjos, aos santos, quando for necessário. Esforço-me por não julgar e por ajudar o próximo, embora isto sejam coisas que eu já faço no meu dia-a-dia”, acrescentou.

Este ano, na Diocese do Algarve, 62 adultos pediram para fazer a sua iniciação cristã, destes 28 adultos, onde se incluem a Mafalda e a Andrezza, já completaram a sua preparação e deviam receber os três sacramentos – Batismo, Confirmação (Crisma) e Eucaristia – nas celebrações da Páscoa.

As duas neófitas (novos filhos) da Paróquia de Conceição de Tavira destacaram, ao longo da preparação para os sacramentos, a importância e “inspiração” do catequista, com uma “preparação intensa, inspiradora”.

“O nosso catequista, o Senhor Frederico, foi sempre muito claro, sabia do que estava a falar, por vezes, colocava-nos desafios de interpretação das parábolas, a Bíblia está cheia delas, que nos obrigavam à reflexão e interiorização de comportamentos e valores. E sempre que podia, e isso é mesmo muito bom, contextualizava os textos com exemplos do dia-a-dia, ele falava muitas vezes com tanto fervor e com tanto amor que as sessões eram assim um bálsamo, preparou-nos muito bem para as fases que precedem o batismo”, desenvolveu Mafalda Campos, realçando que “outra pessoa inspiradora neste caminho” foi o pároco, o padre Rafael Ferreira.

Andrezza de Melo Silva destaca a persistência do catequista que estava sempre presente e as ajudou a “conquistar esse sonho”, “não deixando desistir e sair do foco, mesmo com a loucura do verão, do trabalho”, sempre com “muita paciência, amor e dedicação”, a explicar que no “final valeria sempre a pena uma vida em Jesus Cristo, uma vida cheia de luz, é uma vida melhor, cheia de esperança”.

Foto: Paróquia de Tavira

“Enquanto bebé não fui batizada porque foi decidido assim, os avós paternos eram Testemunhas de Jeová e os maternos eram católicos: ‘Quando ela crescer, ela depois decide’, começa por recordar Mafalda Campos, e, mais tarde, a Paróquia da Nossa Senhora da Encarnação, em Vila Real de Santo António, “não autorizava o batismo das crianças cujos pais fossem divorciados”.

“Embora outras paróquias autorizassem, isso foi há mais ou menos uns 40 anos, acabamos por desistir de procurar e eu fiquei um bocadinho zangada quando era mais criança”, acrescenta, salientando, que, de qualquer forma, “as sementinhas foram plantadas pelos avós”.

Os avós paternos, por exemplo, ofereceram-lhe “uma Bíblia Juvenil carregada de ilustrações”, que, ainda hoje, quando lê ou ouve algumas passagens da Bíblia lembra-se desses desenhos, já a avó materna, “uma devota”, ensinou as orações do Anjo da Guarda e do Pai Nosso, e levou-as “imensas vezes ao Santuário de Fátima.

Mafalda Campos é professora primária e conta que, “curiosamente”, foram “dois ex-alunos, gémeos, a Inês e o Rafael”, que sem saberem a “levaram a voltar à Igreja”, fosse pelas partilha na escola do que iam aprendendo na paróquia, “falavam com uma grande convicção para elucidar os colegas”, como quando contaram que iam ser “acólitos pela primeira vez”.

“Então, num sábado à tarde, lá estava eu na Missa, e, na segunda-feira, agradeceu imenso e eu percebi o quanto isso tinha significado, e não só para eles”, recordou.

Depois, em conversa com os pais dos dois alunos revelou que “ainda gostava de ser batizada”, e, “num dos últimos dias de aula do ano 2021/2022”, encontrou a mãe de um outro aluno da escola que era catequista e lhe indicou “que havia possibilidade, se quisesse ser batizada”, de começar a preparação, “a partir de setembro”, com um grupo que tinha o mesmo objetivo.

Já jovem brasileira Andrezza recorda que a sua família é cristã e cresceu na Igreja Católica, foi à catequese, “desde criança”, mas “sempre que surgiu o momento de batizar e concretizar esse desejo havia um impedimento”.

Quando chegou a Portugal, há quase sete anos, conheceu uma catequista no restaurante onde trabalhava com quem partilhou “a vontade de ser batizada, de entregar a Deus”, que a “aconselhou, e orientou” para a catequese.

CB

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