Especial/Cultura: RTP estreia documentário sobre Daniel Faria, no dia 31 de dezembro

«O silêncio e a palavra», com realização de Marlene Maia, nasce da consciência de que «faltava conhecer» a vida do «poeta místico» português

Porto, 30 dez 2023 (Ecclesia) – A RTP2 vai estrear no próximo domingo o documentário ‘Daniel Faria – O silêncio e a palavra’, da realizadora Marlene Maia, que aborda a vida e obra do poeta português que faleceu aos 28 anos, quando era noviço beneditino.

“Daniel é muito grande, fez alguma coisa de extraordinário”, disse a realizadora à Agência ECCLESIA.

Daniel Augusto da Cunha Faria nasceu em Baltar, Paredes, a 10 de abril de 1971; licenciou-se primeiro em Teologia (1996), com uma tese sobre Frei Agostinho da Cruz; cursou depois Estudos Portugueses, na faculdade de Letras do Porto. Durante esse período (1994-1998) a opção monástica criava solidez.

Faleceu a 9 de junho de 1999, quando estava prestes a concluir o noviciado no Mosteiro Beneditino de Singeverga, em Santo Tirso.

Em 2021, o escritor celebrava 50 anos, e entre as muitas iniciativas que assinalaram essa efeméride, estreou o documentário ‘Daniel Faria – O Silêncio e a Palavra’, na Casa da Cultura de Paredes, em dezembro, para uma “quantidade mínima de pessoas”, lembra a realizadora, acrescentando que foi novamente exibido em fevereiro de 2022, e ficou disponível na biblioteca local.

Marlene Maia destacou o apoio do Município de Paredes, através da vereadora da Cultura Beatriz Meireles, “fã enorme da poesia do Daniel Faria”, para levar esta obra avante, “uma união de forças muito relevante”.

A dia 31 de dezembro, o filme sobre o “poeta místico português” vai ser exibido em televisão pela primeira vez, na RTP2, a partir das 19h50.

A realizadora Marlene Maia não conheceu Daniel Faria em vida, mas ouviu falar muito dele, durante vários anos, através de várias amizades, antes de se envolver no projeto do documentário: “Lidei durante mais de 20 anos com uma presença de Daniel Faria, mais ou menos constante na minha vida, por causa dessas pessoas”.

A curiosidade foi crescendo e aproximava-se “a efeméride dos 50 anos de nascimento” do poeta, a entrevistada foi compreendendo duas situações, que “ainda havia muito por dizer de Daniel Faria” e, ao mesmo tempo, eram poucos os registos visuais, meia dúzia de imagens.

“Eu percebi que havia muito conteúdo, muito sumo de Daniel Faria, que faltava conhecer, e que, sem dúvida alguma, essa narrativa, a melhor forma de a fazer chegar ao público, era através da voz e das palavras dessas pessoas que privaram com ele de uma forma muito próxima”, assinalou.

16 entrevistados, noutros tantos lugares, em Portugal e no Vaticano, dão vida a uma hora de documentário, que procuram resumir entrevistas “muito longas, muito profundas, muito emocionais, muito intelectuais também, muito místicas”.

Eu penso que descobrimos aqui um dualismo, que dá o nome ao filme, que é o silêncio e a palavra. Se tivesse e resumir, de tudo o que descobri de Daniel Faria, era precisamente isto, o silêncio por um lado e a palavra por outro.  É, obviamente, uma descrição muito sumária, mas todos os entrevistados constroem uma personagem do Daniel sobre estes pilares essenciais”.

A realizadora Marlene Maia salienta que a principal mensagem que Daniel Faria deixa é que as pessoas devem ser “construtoras de comunicação, através da palavra”, mas também “ouvintas, observadoras”.

O bispo português D. Carlos Azevedo, o escritor Valter Hugo Mãe, um monge, padres e amigos surgem no documentário ao lado de duas mulheres, a vereadora Beatriz Meireles e a mãe de Daniel Faria, esta última a entrevistada central, que “faz o fio condutor da história e que vai fazer interligação entre momentos e entre personagens”.

“A minha opção estética para o filme foi que todos os outros entrevistados aparecessem uma única vez, e fiz questão de entrevistar cada um no local que mais os conectava ao Daniel Faria. As escolhas dos cenários eram muito importantes também, a única coisa que queria na opção estética visual era que os cenários tivessem muita profundidade, quase com mensagens subliminares”, explica

Neste contexto, Marlene Maia destacou que gravaram com o escritor Valter Hugo Mãe “entre dois corredores muito parecidos, mas não iguais”, no Mosteiro de São Bento da Vitória, no Porto, porque “ele faz um paralelismo muito grande entre a sua vida e a vida do Daniel Faria, que nunca se tendo cruzado, viveram nos mesmos locais, as mesmas pessoas e com as mesmas paixões, a literatura e a poesia”.

Sobre o título do filme documental, a realizadora recorda que surgiu numa madruga de outubro de 2021, “um dos momentos mais engraçados, como uma epifania”, quando tinha os poemas que selecionou, imprimiu, sublinhou, depois de “ler a poesia de fio a pavio”, e transportou durante todo o processo, espalhados na mesa da sala.

“Não queria inventar nada, eu só queria mesmo conseguir o verso ou os versos, ainda que ele não estivesse escrito naquele momento, como uma descrição de si mesmo. E essa poesia não tinha sublinhado nenhum, era só o poema que imprimi porque adorei”, relata.

Marlene Maia mostra-se “muito orgulhosa, porque cada detalhe foi, efetivamente, pensado e suado” e considera que “o resultado faz jus a Daniel Faria”.

CB/OC

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