Ensino: «Escola integral é aquela que caminha para uma unidade interdisciplinar do saber» – Carlos Meneses

Investigador defendeu tese sobre «A liberdade de ensino religioso no pensamento de Leonardo Coimbra»

Foto: Lusa/EPA

Porto, 17 nov 2020 (Ecclesia) – O investigador Carlos Meneses, autor da tese ‘A liberdade de ensino religioso no pensamento de Leonardo Coimbra’, disse à Agência ECCLESIA que “uma escola integral é aquela que caminha para uma unidade interdisciplinar do saber”,

“Uma escola que procura a especialização, mas sem a fracionar ou regionalizar, enfim, que acrescenta às diversas dimensões de uma educação integral, a profundidade que lhe permita mobilizar uma cultura fundamental. E para tal desiderato o ensino religioso empresta um contributo iniludível”, precisou o investigador da Faculdade de Teologia da Universidade Católica, núcleo do Porto, em entrevista a respeito do seu trabalho sobre o pensador português.

Carlos Meneses refere que quando as “diversas áreas do conhecimento humano solidificam” e “dogmatizam os seus conceitos”, subtraindo margem para a integração de novas noções integrativas e abertas, “por sua vez, a novas e mais profundas noções, há de facto o risco de uma certa fixação e incrustação de conceitos, que limitam e condicionam a visão do mundo e do Homem”.

O investigador e docente defendeu em outubro a tese de doutoramento em Teologia ‘A liberdade de ensino religioso no pensamento de Leonardo Coimbra’.

Leonardo Coimbra (1883-1936) foi deputado e ministro da Instrução de dois governos republicanos e nessas funções repropôs, na década de 20 do século passado, o ensino religioso num tempo complicado das relações entre a Igreja e a República, num processo onde também se converteu ao catolicismo num movimento retratado como de “encontro”, destaca o Secretariado Nacional da Educação Cristã da Igreja Católica em Portugal.

Carlos Meneses observa que, no concerto curricular que a Escola convencionou como a mais adequado para a educação das crianças e jovens, “a liberdade de ensino religioso concorre para a possibilidade transcendental da pessoa humana e da sua liberdade”.

“Isto é, permite uma releitura da realidade, da experiência e da vida que excede aquilo que Leonardo chamava justamente de cousismos, por oposição a noções mais amplas e profundas, em verticalidade e horizontalidade, sobre a natureza e a condição da pessoa e do humano”, acrescentou.

Para o investigador, o debate hoje sobre a relação entre Estado e Sociedade, no terreno educativo, “aprendeu com o que aconteceu na I República”: “O equívoco de algumas fações governativas considerarem como intocável a pretensa conquista de uma escola laica, não se refletiu, senão ao nível mais influente no círculo do Estado, na organização e na sensibilidade social”.

O investigador explica que para os republicanos de inspiração materialista “a religião era incompatível com os progressos da ciência e com as exigências de uma inteligência liberta” e Leonardo Coimbra “apôs” que “não há conflito entre ciência e religião”.

“Leonardo Coimbra via no laicismo republicano ateu e materialista um dogmatismo baseado num conceito fixista e imóvel da razão humana, contrapondo-lhe um conceito dinâmico de razão, que apelidou de ‘razão experimental’ e que lhe permitiu realizar a síntese das suas ideias nas mais diversas áreas, como a ciência e a religião. Prova disso mesmo é o facto de considerar o ensino religioso perfeitamente legítimo, que em nada afetava o espírito democrático”, desenvolveu, observando que este debate continua hoje.

Carlos Meneses refere também que a produção teológica em Portugal tem vindo “a reparar, a dialogar, a promover e a estudar o pensamento português” e assinala que de Leonardo Coimbra dispõem de um “vasto e valioso acervo de fontes e estudos”, como a sua biblioteca no Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa.

Leonardo Coimbra, filósofo, professor e político, nasceu a 30 de dezembro de 1883 em Borba de Godim na Lixa, e morreu a 2 de janeiro de 1936, no Porto.

OC/CB

 

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