Encanta-me

João Aguiar Campos, Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

Cumpre-se, dentro de dias (no próximo domingo, 13 de Março), o terceiro aniversário da eleição do papa Francisco. Não vou fazer um balanço deste tempo de pontificado – mas não me furto a confessar quanto me encanta este dom do Espírito Santo à Igreja.

Encanta-me a simplicidade dos seus gestos e palavras, assim como a insistência, agora e logo, na afirmação do amor de Deus por cada um de nós, pois nos tem tatuados na palma da Sua mão. A muitos, pode parecer repetitivo. A mim parece-me fundamental o frequente retorno a algumas ideias-chave; ideias de sempre, tantas vezes esquecidas ou desvalorizadas – mas que o Santo Padre começou a afirmar logo na Missa inaugural do seu ministério petrino: a ideia de cuidar com ternura, por exemplo.

Encanta-me a serenidade fiel com que põe o dedo em feridas bem feias, longo tempo cobertas por pensos que impediram a respiração e a cura atempada; ou abre inesperadas portas de reflexão — assustando, por vezes, o comodismo a que alguns chamam segurança; ou remexendo nos sótãos onde aguardamos tralha como se protegêssemos antiguidades.

Encanta-me a coragem física da proximidade descontraída, quase indefesa nos seus movimentos ou paragens imprevistas, qual pomba que chega aos nossos pés num banco de jardim.

Encanta-me que os pobres e marginalizados sejam, evangelicamente, o alvo especial da sua atenção e não tema nenhum dos poderes que tem de confrontar – dentro ou fora da Igreja. Porque o profeta não se cala nem se deixa calar: sabe que lhe pediram o empréstimo da voz, quando o retiraram do campo do seu pastoreio!…

Não; não é um encantamento sentimental. É algo que gera o grito de uma necessidade de mudança por dentro e por fora – porque um aplauso que não envolva o coração não passa de ruído de mãos. Confesso, pois: não temo dizer que Francisco me tornou melhor!…

Encanta-me, por isso, que possa continuar a desassossegar-nos; e que nos desconcentre, nos tire do espelho ou da proteção das janelas com seus vidros duplos, nos dispa de penduricalhos e nos desafie à harmonia da fé vivida na caridade. Entusiasmada e entusiasmante.

Não partilho a visão de quem simplesmente lhe acha “piada”, como se nele fosse possível ver um avozinho simpático e brincalhão, sempre capaz de uma graça ou de um mimo. Também não partilho o medo dos que preferiam vê-lo preso a um texto de Faculdade, sem metáforas e sem vida; sem experiência de pastor ou espanto contemplativo. Vejo como reza e nos exorta. Vejo como testemunha e como ama.

Deus o proteja!

 

João Aguiar Campos

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