Deficiência: «A maior minoria do mundo e a mais invisível» está no centro de formação avançada da UCP

«Diálogo(s) e Deficiência(s): A construção de narrativas para a inclusão» está na segunda edição e mostra necessidade de ouvir «percursos pessoais»

Porto, 01 mar 2023 (Ecclesia) – O Departamento de Área Transversal de Economia Social da Universidade Católica, no Porto (ATES/UCP), está a organizar um curso que pretende colocar o tema da deficiência na Academia e vê-lo refletido entre diferentes pessoas na sociedade.

“Somos oito mil milhões de pessoas na Terra e cerca de 16/17% da população mundial tem deficiência. É a maior minoria do mundo e a mais invisível – a que tem nos espaço nas esferas culturais, sociais, políticas, religiosas. É com vontade de contribuir para que haja mais vozes que sejam escutadas que o curso surge”, conta à Agência ECCLESIA, Joana Morais e Castro, da coordenação científica do curso «Diálogo(s) e Deficiência(s): A construção de narrativas para a inclusão».

A metodologia assenta na apresentação de “narrativas” que, explica a responsável, permite “recuperar histórias invisíveis para a construção de um mundo mais inclusivo”, ao mesmo tempo que se reconhece o seu valor: “São as histórias que nos tornam mais humanos, são o nosso património de evolução”.

Os docentes são pessoas com “efetiva e afetiva” ligação à deficiência.

“O curso é um desafio original, na metodologia e multidimensão, porque procura percorrer todas as etapas desde o nascimento até à morte de uma pessoa com deficiência e as suas várias dimensões, nomeadamente os contributos na arte, na literatura, como se processa a escolaridade, a empregabilidade, a participação, o envelhecimento, a saúde mental, a sexualidade, comportando as diferentes dimensões humanas”, esclarece.

A formação, em modalidade e-learning, vai ser ministrado em março, sendo já a segunda edição.

Joana Morais e Castro recorda que os participantes iniciais eram provenientes de grande diversidade profissional e social – “pessoas com deficiências, familiares, pessoas sem deficiência, pessoas que trabalham na área há muitos anos, outras há poucos anos, pessoas que querem trabalhar, vindas de áreas do direito, arte, antropologia” – que mostraram a importância de continuar estes temas num espaço “horizontal”, onde “todas as perguntas caibam”.

“Os alunos com deficiência foram um grande mote de aprendizagem comum, pudemos colocar todas as questões sem tabus e receios e gerou-se um espaço de confiança que ainda persiste e mostrou a importância da aprendizagem conjunta”, indica.

“A deficiência é um mundo de diversidade, e belo porque diverso. Mas essa diversidade torna-o altamente complexo, as respostas e as soluções não são iguais, têm de ser por si participadas e colaborativas”, acrescenta.

Joana Morais e Castro reconhece a sensibilidade “humanista” da UCP para propostas semelhantes e indica o ATES/UCP como um espaço “transversal a várias escolas” preocupado com a proposta de “assuntos urgentes no mundo”.

Composto por pessoas “com diversos percursos profissionais”, a responsável indica que a sua grande maioria proveio “do terreno” e está na Academia para procurar “caminhos integrados”, neste caso, “onde as pessoas com deficiência estejam no centro e sejam protagonistas”.

“Não podemos continuar a falar de inclusão, nas suas várias dimensões, sem perguntar a quem sabe à partida, o que é necessário ser feito. Temos de criar espaços para isto: para este diálogo e inclusão. Se continuamos a impor, continuamos a persistir em erros de não eficiência”, lamenta.

Joana Morais e Castro lamenta que o público que se aproxima do tema da deficiência seja “pessoas com deficiência ou cuja realidade lhes toca”: “Infelizmente ainda não estamos no patamar de dizer que estas questões suscitam curiosidade alargada”, reconhece.

“Se nos últimos 10 anos evoluímos muito na forma como olhamos para esta questão, há milhares de anos que se trata de descriminação. Tudo o que for combate de tabus e a criação de verdadeiras oportunidades, não é feito de um dia para o outro, mas consolida-se diariamente e com muito diálogo”, reconhece.

O curso, com inscrições abertas, conta com vários parceiros: o Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência da Diocese do Porto; o Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência do Patriarcado de Lisboa; Terra Amarela; União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde (Porto); BodyBuilders Rafael Alvarez.

LS

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