De mansinho

Sónia Neves, Agência ECCLESIA

Apareceu de mansinho, como de mansinho se retirou… Apareceu de mansinho na cadeira de diretor do secretariado nacional das comunicações sociais em 2011, mas deixou marca, afeto, proximidade.

O sacerdote, de cabelos brancos e longo caminho feito na comunicação social, era o diretor que trazia no bolso a história para contar, o episódio passado na aldeia para ilustrar uma cena atual e o sorriso tímido que alinhava na voz rouca.

Chegava de mansinho e olhava para cada um, com tempo, palavra amiga e preocupação. Sentava-se à mesa como um de nós, queria saber quem comunicava o quê, os temas, as nossas reportagens, os contactos, a pressa, tudo apontava no caderno, com letra desenhada. E sorria, de mansinho.

Aquela mesa ouviu muitos comentários e desabafos, pedidos de ajuda e também de ânimo, presenciou momentos de alegria e partilha fraterna, segurou quedas e sustentou sonhos.

As mãos do padre João Aguiar Campos, como gostava de ser tratado, eram calejadas e macias, ao mesmo tempo, como a vida que dividia com quem se cruzava, podia haver dores mas, logo a seguir, chegava a mansidão que parecia “tocar o céu”.

O homem, que era padre, sentava-se à mesa de restaurantes “frios da capital” e não passava despercebido, os clientes habituais sabiam quem era, gostavam de conversar com ele… E ele partilhava isso connosco, com alegria e consideração pela vidas que ia descobrindo.

Mais do que diretor e sacerdote foi amigo… Amigo, daqueles que, no silêncio sabemos que lá está, que atira a palavra certa e desconcerta, que se deixava espantar com o brotar da vida numa flor e sentia a presença do transcendente numa mensagem. Quanto temos de aprender, quanto tenho de aprender neste exemplo que quero levar comigo. A simplicidade que trazia paz e prendia harmonia. Sempre de mansinho.

Dos “Cochichos” prometi-lhe que falaria dele aos meus filhos e que iria ler os textos com eles, para que tocassem a terra prometida, a suavidade do tempo e o olhar agradecido.

Deixou-nos de mansinho…

Um homem de Deus, bem haja!

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