Das fraquezas, a força: o itinerário pedagógico divino

Padre Manuel Ribeiro, Diocese de Bragança-Miranda 

A Palavra de Deus lança-nos perante o sofrimento e a dor do homem. A equação da vida faz-nos, inevitavelmente, reflectir sobre o sofrimento, sobre a dor, sobre o abandono, sobre o descredito, sobre a amargura e o desgosto da vida e do acto de viver. São tantos os ‘porquês’ que colocamos … tantas perguntas que ficam – aparentemente – sem resposta. Na verdade, quando eu coloco estes ‘porquês’ eu já estou a rezar. Sim, a rezar. A rezar porque me reconheço como criatura, porque me inquieto com o sentido que a minha vida está a tomar, porque não compreendo porque Deus se esquece de mim e, com isso, se abandona de mim, me faz caminhar só, desamparado e errante.

Para o homem de hoje, que procura controlar tudo e prever tudo, é-lhe difícil olhar para Deus. Simplesmente ele diz: “não compreendo a dor, não compreendo o sofrimento, Deus não existe”. O homem de hoje tem imensa dificuldade em viver a dor, em viver a negação ou a rejeição. Aliás, ele pensa que se a vida não for “festas e guitarradas” e/ou se não for a realização de tudo quanto quer, então este homem prefere morte à luta. É caso para dizer que é um cobarde, um frouxo, um instável. Uma pessoa assim nunca descobriu o sentido da vida, nem o sentido da sua própria vida. Temo que hajam muitas pessoas que ainda não tenham descoberto o seu próprio propósito e a sua missão nesta vida que é caminho em direcção ao Criador, que é ‘regresso’ ao seio de Deus, que é peregrinar seguindo a “Estrela que vem do oriente”.

Ao lermos com atenção o capítulo 10 de Job, versículos 1 a 10, constatamos que Job, tendo perdido tudo, não tendo nada e tendo sido desprezado por todos, volta-se para Deus. Deus não se torna indiferente perante a nossa dor ou a nossa alegria. Antes, se associa e nos envolve em todos os instantes e momentos da nossa vida. Na verdade, o homem só encontra paz quando se abandona nas mãos de Deus. É isto mesmo que Job terá de aprender. Se estou agora em sofrimento, se agora estou abatido ou deprimido, tudo é para mim dor e, o pior, eu não sei o porquê. A minha alma torna-se num poço de tristeza. Mas uma coisa sei: tudo ponho nas Tuas mãos. Temos de re-aprender a lógica de Deus: Deus não é ilógico ou irracional! A questão de fundo, é entender que as nossas categorias de lógica e de racionalidade não são as categorias de Deus. Antes, elas são bem mais limitadas e bem mais finitas em comparação às categorias de Deus. É importante perceber isto. Mas então fica a pergunta: o que significa tudo isto? Onde se quer chegar com estas considerações e afirmações? Voltemo-nos novamente para o texto sagrado: “Job respondeu ao SENHOR e disse: «Sei que podes tudo e que nada te é impossível. Quem é que obscurece assim o desígnio divino, com palavras sem sentido? De facto, eu falei de coisas que não entendia, de maravilhas que superavam o meu saber. Eu dizia: ‘Escuta- me, deixa-me falar! Vou interrogar-te e Tu me responderás.’ Os meus ouvidos tinham ouvido falar de ti, mas agora vêem-te os meus próprios olhos. Por isso, retracto-me e faço penitência, cobrindo-me de pó e de cinza»” (Job 42, 1-6).

O primeiro plano de Deus para connosco não é outro senão terminar com o ‘nosso’ e ‘meu’ plano. Depois de quebrar, de partir tudo, de estilhaçar tudo, Deus faz o seu projecto com as Suas mãos. Tudo isto nos recorda o Livro dos Génesis: “O SENHOR Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo” (Gen 2, 7). Deus volta a fazer do nosso entulho um projecto definitivo e pleno. Que belo! Como pode Deus amar-nos assim? Querer-nos tanto e expor-se tanto por cada um de nós? Estas questões assolam-nos o coração e respondem (a muitos!) ‘porquês’ da nossa vida. Tenhamos a coragem de confiar em Deus e n´Ele nos confiarmos!

Manuel Ribeiro, Padre

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