D. Gilberto Reis, 25 anos de ordenação episcopal

Bispo de Setúbal quer Igreja nas periferias e pacto político para atender a «quem mais sofre»

Aos 73 anos de vida, e após completar 15 à frente da Diocese de Setúbal, D. Gilberto Canavarro Reis olha com desassombro para o que ainda não conseguiu fazer em território sadino e lamenta uma «pastoral de manutenção». A ECCLESIA conversou com o bispo que completa em fevereiro 25 anos do episcopado e que se recusa a ver a diocese com «régua e esquadro», enaltecendo a diversidade e a entrega de tantos diocesanos na formação, na ajuda social e na liturgia.

 

Agência Ecclesia (AE) – Nascido em Vila Real, no concelho de Vila Pouca de Aguiar, a sua terra Vreia de Bornes, tem neste momento pouco mais de 600 pessoas. Que marcas guarda na sua personalidade das terras de Trás os Montes?

D. Gilberto Canavarro Reis (GCR) – Vai fazer 16 anos que estou em Setúbal. Guardo uma consciência muito forte da presença de Deus que envolve o mundo. Isso sempre me acompanhou. Tenho sempre presente a proximidade, o encanto das pessoas que se conheciam, confiavam e se estimavam. As crianças brincavam à vontade. Não é o ambiente das grandes cidades onde ninguém se conhece.

Recordo que quando saí dos meus lugares, pouco depois fui para Roma, e ninguém se cumprimentava. Isso magoava-me muito e continua. Não entendo.

Guardo a frescura da terra e dos rios. Gosto de estar na cidade, mas gosto de ver os campos, as montanhas, os rios e o mar.

Guardo profundamente a fé que me marcou, da minha família, da terra, da Igreja onde celebrava os mistérios de Deus. Tenho ainda muito vivo quando, no Natal, os homens cantavam «alegrem-se os céus e a terra». Parece que ainda hoje me ecoa no coração. Sei lá, tantas coisas bonitas…

 

AE –Há poucos dados sobre o seu percurso, sobre a sua pessoa….

GCR – Por um lado nunca gostei muito de me expor. Já desde pequeno. Recordo que no seminário os meus colegas disputavam o protagonismo de presidir às orações. Eu sempre que podia deixava que outro o fizesse. Quando todos procuravam ajudar o senhor bispo na missa, eu só quando era obrigado. Lembro-me quando pediram para fazer uma homilia, eu lá fiz – tinha de fazer – mas subi ao estrado e desci sem ver ninguém. Isso não é próprio de mim. Gosto de colocar os outros em relevo, não a mim.

 

AE – É timidez ou é discrição?

GCR – É mais uma maneira de ser e acho que cada um é como cada qual. É o meu estilo.

 

AE – «Ordeno-me para estar onde a Igreja me pede», foram as suas palavras no momento de ordenação. Continua a seguir este ideal?

GCR – É verdade. Tem estado sempre presente no meu coração. Desde sempre fui fiel ao Bispo e disponível. Em relação ao Santo Padre o mesmo. A disponibilidade de ontem é a mesma que tenho hoje. Quer para estar onde estiver, mas também no sentido de sintonizar e entrar dentro das grandes linhas de renovação e abertura da Igreja. Procuro sintonizar essa disponibilidade. Sempre em acompanhou.

Já os meus pais me deixaram a marca de não ser para mim mas para os outros. A partir do encontro com Jesus.

 

AE – É com essa disponibilidade que em 1988 recebe a nomeação para bispo auxiliar do Porto, onde esteve com D. Júlio Tavares Rebimbas e D. Armindo Lopes Coelho. O que guarda dos nove anos que esteve como bispo auxiliar no Porto? Das pessoas e da missão episcopal?

DGCN – Uma boa recordação. Gostava muito do Senhor D. Júlio, uma pessoa muito discreta, mas um homem do povo, com um coração muito rico. Havia um grupo de bispos com quem fazia uma equipa cuja amizade permanece.

Na diocese do Porto havia comunidades muito variadas. A zona que me era atribuída estendia-se desde o alto da Serra do Marão até ao mar, em Vila do Conde. Faziam-se experiências muito ricas, de participação. Outras zonas eram muito ricas em juventude, em força apostólica, de dinamismo eclesial em Paços de Ferreira, Trofa, Santo Tirso.  Gostei muito de lá estar.

 

AE – Essas pessoas e essa missão ensinaram-no a ser bispo em Setúbal?

GCR – Naturalmente que aprendi muito. Perceber como as pessoas, os padres e os problemas são diferentes e exigem diversas respostas. Fez-me sentir que a Igreja é plural. Não se pode fazer a esquadro e régua, mas aceitar a pluralidade. Foi uma boa escola.

 

AE – O que recorda quando o Papa João Paulo II o nomeou, em 1998 para bispo de Setúbal?

GCR – Antes disso, recordo que quando fui chamado para ser bispo auxiliar do Porto, era o dia 1 de novembro, Dia de Todos os Santos. Estava a rezar o terço, na casa paroquial. Tocou o telefone, pediram-me para vir a Lisboa e eu «rabujei» porque vir de Chaves a Lisboa era complicado, mas vim.

 

AE – Foi surpreendido pela nomeação episcopal para o Porto?

GCR – Sim, fui. Quando foi para Setúbal, foi diferente porque recebi a indicação de que estava convidado para vir. E procurei rezar, pensar e ver se realmente Deus me chamava através do Santo Padre.

 

AE – A resposta não foi imediata?

GCR – Não, não foi imediata. Ainda pensei um bocadinho.

 

AE – Consultou alguém?

GCR – Sim. Procurei rezar primeiro, depois falar com um ou outro amigo que me conhece bem e em quem confiava.

AE – Que relevância tinha vir substituir D. Manuel Martins?

GCR – Por um lado seria fácil porque o D. Manuel Martins tinha aberto aqui uma autoestrada e andar numa autoestrada é muito fácil. Por outro lado, ele é uma figura que enche, continua muito presente no coração das pessoas. Ele pôs Setúbal no mapa. É natural que as pessoas o tivessem e o tenham no coração.

É importante que se conserve este amor ao bispo – seria mau se o afeto e a atenção não continuassem. Por outro lado é importante ajudar as pessoas a dar novos passos. Mas acho que o povo é disponível e, se às vezes não vai mais longe, é porque eu não tenho a arte de as ajudar.

 

AE – Ano e meio depois de ter chegado a Setúbal, numa entrevista, referiu haver falta de clero, baixa prática dominical, uma tentação de estar nas sacristias, fraca preparação dos leigos. Este quadro mantém-se?

GCR – Quanto ao clero, não. O clero aumentou muito nestes anos. Apesar de ser uma diocese pequena quanto a prática dominical, ordenámos 26 padres e mais dois vão ser ordenados em julho. É um grande número.

Quanto à saída das sacristias infelizmente não consegui ir mais longe. Sinto que a diocese continua muito fechada dentro em si. Apesar dos esforços, que me agradam muito, que louvo os leigos e o clero, continua fechada. Continua a gastar muitas energias com o que está dentro em vez de ir para fora.

As pessoas são muito boas, mas não basta esta bondade que vem da fé. É preciso conhecê-la para um diálogo com o mundo.

 

AE – Refere-se a uma fé mais racional?

GCR – Diria mais esclarecida para este diálogo. Sobre a prática dominical, continua muito baixa, temos poucos jovens. Julgo que o número de crianças na catequese diminuiu.

Não consegui com o clero, os religiosos, e os mais comprometidos avançar mais. Quando vou às paróquias, normalmente estão cheias. Dizem-me que de facto aparece muita gente. Não temos uma forte consciência de que precisamos de mobilização para levar o Evangelho e são muitas as pessoas que esperam o Evangelho. Aqui têm-se batizado muitos adultos. No ano passado crismei 500 pessoas.

 

AE – A formação catequética dos adultos é uma das suas prioridades.

GCR – Sim, e nós percebemos o encanto das pessoas. O brilho nos olhos de quem não conhecia Jesus. Ficam encantadas. O homem tem necessidade de se encontrar com o rosto de Jesus e quando isso acontece ganha luz e esperança, transforma-se.

 

AE – Percebo pelas suas palavras que se tem realizado mais uma pastoral de manutenção. O que tem faltado?

GCR – As necessidades dentro das paróquias são grandes. As pessoas olham para os que estão dentro e gastam ali todo o seu tempo. É importante cuidar de quem está dentro, mas quando se vai ao encontro de quem está fora, ganha-se uma nova energia, uma nova luz.

É um engano dizer: «temos pouca gente, vamos cuidar de quem está dentro e depois, vamos para fora». Não. Ainda não consegui ajudar as pessoas a perceber que se têm pouca gente isso não as pode impedir de sair. Por outro lado, tem-se a ideia de que as pessoas estão evangelizadas. Naturalmente o conhecimento cultural de Jesus todas as pessoas o têm. Mas o encontro com Jesus, o encontro da fé, não.

Muitas pessoas fizeram um percurso dentro da Igreja, foram batizadas, casaram, mas não chegou a haver um encontro verdadeiro com Jesus ou não foi aprofundado. Creio que mostra que se gastou tempo e não se saiu ao encontro. Isso também me acontece a mim que me deixo agarrar com quem está dentro. Penso que passará por isso.

 

AE – «Combater a ideia de um Cristianismo irrelevante» é uma predisposição sua. Qual a missão do bispo para combater esta irrelevância?

GCR – O bispo, tal como diz o Papa, deve ir à frente. Deve ser o primeiro a mostrar, pela vida e pelas palavras e opções pastorais a centralidade de Jesus. Pode pensar-se que Cristo faz parte do passado, mas o encontro com Jesus acontece à frente, no caminho. Esta é uma consciência que tenho. O bispo deverá ir à frente, tendo o cuidado de ficar para trás para agarrar quem fica. E estar no meio das pessoas, rezando, entusiasmando-as e renovando as estruturas. Se as estruturas forem mais leves e adequadas, talvez se possa ir mais longe.

 

AE – Sente o apelo do Papa Francisco de levar a Igreja às periferias?

GCR – Quando cheguei a Setúbal, escrevi uma carta aos diocesanos: «Setúbal, convoco-te para a missão». A Igreja não pode ficar na manutenção, a cuidar de si, tem de ir para a rua, aceitar estar mais desarrumada dentro para sair. A grande tentação é querer arrumar a casa e ir amanhã. Assim nunca se parte. O desafio é partir e a casa vai-se arrumando.

 

AE – «Setúbal, convoco-te para a missão», foi a sua primeira carta aos diocesanos, em 2001, para dinamizar os diocesanos. Anos depois, faria sentido propor novamente?

GCR – Naturalmente. A encíclica que o Papa escreveu «A Alegria do Evangelho», toda ela é uma provocação para a missão. Ir às periferias, fazer-se próximo, renovar estruturas, ganhar a esperança nos agentes pastorais. Trabalhar não porque tem de ser mas porque o coração arde por dentro e não há outra forma.

 

AE- Nestes anos em Setúbal D. Gilberto procurou formar os leigos, os batizados; lançou o Triénio dedicado à Sagrada Escritura (2005 a 2008), o Ano da Eucaristia, o Ano Paulino, Ano Sacerdotal, Ano da fé; promoveu uma reflexão sobre o Concílio Vaticano II. Que frutos são possíveis recolher destas propostas? Em práticas, em vocação laical?

GCR – Todos andaram à volta do que me parecia essencial. Procurei ajudar as pessoas a ir ao essencial. Tenho dificuldade em avaliar os frutos. No fim dos anos foi-se avaliando e os ecos foram de participação e beneficio.

Naturalmente sonho sempre mais, mas a Igreja está sempre a começar. Todos os dias tem de ser feita a proposta com novo encanto e nova luz.

 

AE – Referiu haver poucos jovens a participar. De que forma tem a diocese ajudado os jovens a perceber que «são amados e que a vida de cada um é irrepetível»?

GCR – Tem havido um grande trabalho. Queria homenagear o clero e os catequistas. Temos 1500 catequistas.

 

AE – É um bom número para a diocese?

GCR – Para o trabalho atual que temos, chega. Naturalmente é preciso ir mais longe. Mas muitos têm crescido e feito um esforço de formação. Vejo que há entusiasmo e esforço, preocupação de envolver os pais e fomentar à participação na eucaristia.

Mas a formação faz-se na experiência da Igreja e muitas famílias já serão menos Igreja doméstica do que foram ontem. A referência da fé e da Igreja vai-se perdendo. A centralidade da eucaristia na vida cristã perdeu-se. No entanto, tem sido feito um grande trabalho para ir ao encontro das crianças e, através delas, chegar ao coração dos pais.

 

AE – Os pais que se batizaram mas que se afastaram da Igreja. Resgatar esses batizados faz parte do seu caminho.

GCR – A diocese tem apostado muito e bem. Os pais valorizam o mistério de Deus nos seus filhos e isso abre-os para a experiência. Temos muitos casos, ouço relatos semelhantes e imagino que pelo país aconteça isso também.

 

AE – O ir às periferias, na sua realidade, revela-se na presença da Igreja na arte, no contacto com as pessoas sem-abrigo, nos contatos com empresários e empresas?

GCR – É preciso levar Jesus a toda a parte. O nosso mundo está cheio de pobres. Todos os homens, tenham ou não fé, deveriam olhar mais para os pobres. Não é digno que se deixem homens viver ao abandono, não honra ninguém seja crente ou não, seja culto ou não. Muito mais para a Igreja. Quando na quinta-feira santa lavo os pés simbolicamente, interpela-me pelo facto que gostaria de cada vez mais ir ao encontro deles.

A arte é um lugar de encontro. Muitas pessoas através da arte descobrem o raio da beleza e do amor de Deus. Onde há brechas a Igreja deve estar.

 

AE – Também nos empresários e empresas?

GCR – Fiz duas grandes visitas pastorais às paróquias e na primeira tive a grande preocupação de me encontrar com associações, empresas, escolas. Onde estive, procurei dizer que o seu trabalho é importante e dar esperança. Dizer também que como crente, rezava por eles. Que no meio das suas lutas não estavam sozinhos.

 

AE – Criou o Fundo Social de Emergência, que esgotou. As respostas não são suficientes?

GCR – As respostas são remédios. A situação que vivemos precisa que o governo e os partidos façam um pacto de entendimento para ir ao encontro de quem mais sofre. Esse é um desafio que os vários partidos têm de assumir. Têm de ser respostas mais profundas.

 

AE – Não mostraram ainda essa vontade?

GCR – Às vezes dá impressão que sim, mas é difícil acreditar numa vontade sincera onde todos deem as mãos, independentemente da cor política, olhando para os necessitados, e em vista do bem comum. O diálogo não é uma cedência, mas uma busca para um ponto de encontro para que o bem comum vá mais longe.

As paróquias são chamadas a avançar mais. Quer dentro das respostas que dão, mas também colaborando com entidades privadas ou civis. Quanto mais nos juntarmos, melhores soluções podemos oferecer. Alguns passos têm sido dados, mas é preciso continuar a dar as mãos e a procurar melhores respostas.

Que na sopa e no pão que se dá se ofereça mais. Que se ensine a poupar, a ter esperança, a aproveitar o tempo. Que ninguém se demita. Todos podem dar mais dentro do pouco que têm. Felicito as instituições e as pessoas; felicito também as instituições fora da Igreja, mas penso que precisamos continuar e ir mais longe.

Nesse sentido vou começar uma visita pastoral temática, em fevereiro, só sobre essa atenção social e caritativa.

 

AE – O poder local procura-o?

GCR – Não digo que seja a ideal, mas há uma relação boa com os vários autarcas. Admiro o trabalho conjunto dos autarcas que procuram servir e fazer bem. Noto que estão abertos ao diálogo com a Igreja onde for preciso.

 

AE – Onde é preciso servir melhor em Setúbal?

GCR – Há muita gente com baixas pensões, desempregada, que vive sozinha. Precisamos inventariar as situações e perceber os casos de habituação a subsídios. É preciso ajudar as pessoas a crescer. Organizar melhor o serviço e apoio a quem vive sozinho e na pobreza envergonhada. Ir mais longe na formação dos agentes no serviço fraterno. Não basta ter um coração bom, mas ajudar as pessoas a fazer rede, a olhar para além das necessidades. Depois de ter recebido algum apoio, que eles possam também ajudar outros.

 

AE – Nos quase 14 anos na diocese, ordenou 26 padres, em breve vai ordenar mais dois. Qual é o segredo para que as vocações surjam na diocese?

GCR – Sempre percebi que a diocese tinha essa preocupação. Já a tinha o D. Manuel e eu mantenho-a. O apelo tem sido feito, mas é uma graça de Deus.

 

AE – Era grande o seu desejo de ter uma congregação de vida contemplativa na diocese.

GCR – Nós precisamos de sinais. O amor presente numa congregação contemplativa é muito importante. Quem vai à Arrábida, tenha ou não fé, fica encantado. Tive oportunidade indizível de experimentar a alegria daquelas Monjas de Belém.

 

AE – Disse que não queria que o Santuário do Cristo Rei fosse «um miradouro». Que lugar tem o santuário enquanto turismo mas enquanto local congregador da diocese?

GCR – O santuário do Cristo Rei vai sendo descoberto. O reitor, o padre Sezinando Alberto, é um homem dedicado, tem trabalhado para que o santuário seja cada vez menos um lugar de turismo e antes um lugar de fé.

À medida que o santuário tiver mais condições, mais pessoas o procuram para rezar ou para a formação. Essa centralidade em ordem à pastoral diocesana cresce, e crescerá cada vez mais, à medida que for possível construir novas estruturas.

 

AE – Sem o esquecer como ponto turístico da diocese. O santuário mas também polos como a Arrábida, Troia, Comporta. De que forma o turismo desafia a diocese?

GCR – Confesso que não temos organizado. Mas sinto que é importante. Há muita gente que nos visita no verão e o lugar de turismo é também um lugar de encontro com Deus. Setúbal tem uma grande potencialidade turística. Onde estiverem as pessoas ai deve estar uma proposta de evangelização.

 

AE – A diocese tem muitas geografias: urbana, a ruralidade, o interior e as praias extensas…

GCR – Apesar de pequena a diocese é muito diversa. Há zonas com um grande aglomerado populacional muito diferente da zona litoral na Arrábida e da Comporta.

 

AE – Elas têm tido igual atenção por parte do poder local?

GCR – Penso que estão próximos e atentos. Julgo que o conjunto dos autarcas é dedicado mas há muita gente. Setúbal é um pouco dormitório e assiste diariamente ao fluxo rumo a Lisboa. Em outros locais a população diminuiu, mas em Setúbal cresceu. As necessidades são grandes e os recursos mais difíceis.

O porto de Setúbal, apesar de estar entre Sines e Lisboa, é um lugar de movimento – de carros, de cimento, de ferros – que mostram a força presente. Mas tem de ir mais longe, o desemprego é elevado. Temos menos imigrantes agora, muitos brasileiros regressaram às suas terras. Numa visão geral, as condições de vida do país, pioraram.

 

AE – Mas no conjunto há qualidade de vida na diocese?

GCR – No conjunto, penso que há qualidade de vida, se a entendermos como condições para uma vida digna. Há bolsas de pobreza, casas frágeis, desemprego, baixas pensões, sem dúvida. Mas posso dizer que há qualidade de vida.

 

AE – Em ordem à celebração dos 40 anos da diocese (criada em julho de 1975), está em vista uma peregrinação diocesana, marcada para 25 de outubro. Que planos existem para esta celebração?

GCR – Estas datas são importantes para celebrar e fazer balanço. Vou ainda fazer a proposta ao conselho de presbíteros e chegaremos a um consenso. Trata-se de celebrar olhando para trás, percebendo o caminho que se andou, e percebendo como se pode ir mais longe. Queremos fazer isso com Nossa Senhora, que sempre foi modelo para a Igreja.

 

AE – Essa reflexão será feita em Sínodo?

GCR – Será feita de forma simples. Setúbal precisa, penso que qualquer Igreja só tem vantagem em fazer um Sínodo. Mas não tenho agora condições para o fazer. Estou a fazer 75 anos e não é do meu estilo começar uma iniciativa que outro teria de continuar. Mas creio que quem vier amanhã não deixará de o fazer, pois é uma experiência rica para a diocese. 

É certo que a reflexão a fazer terá sempre uma forma sinodal mas veremos entre as sugestões a recolher. Gostaria que em cada paróquia, movimento e serviço se fizesse um exame de consciência sobre o que se andou, o que não se fez e que passos se podem dar mais à frente.

 

AE – Se continuasse por mais tempo na diocese convocaria um Sínodo?

GCR – Sem dúvida. Parece-me que um Sínodo é um grande momento de crescimento, experiência de comunhão e de arranque para o futuro.

O Concílio Vaticano II, o grande Sínodo da Igreja, foi um marco belo para a Igreja e para o mundo.

 

AE – Foi-o também para si enquanto sacerdote?

GCR – Eu tive a oportunidade de estar a estar em Roma quando o Concílio aconteceu. É uma experiência indescritível. Louvo o Senhor por ela porque pessoalmente só me fez bem.

 

AE – Como já indicou, em maio de 2015 vai pedir a sua resignação?

GCR – Sim. Disse, no princípio, que me insiro na comunhão da Igreja. O Direito Canónico é muito claro e não deixarei de estar atento. Pessoalmente, já o disse, se o Santo Padre me perguntasse eu diria que 75 anos é muito – se fosse aos 70 ou 72 não se perderia nada. O bispo com essa idade pode fazer outra coisa, pode vir outro com frescura e não há mal.

Sempre admirei o Papa Bento XVI e admirei mais ainda quando ele teve a lucidez e a coragem de dizer que é melhor sair.

As mudanças trazem frescura, dinâmica. Chegamos a um momento que mesmo que se queira, já não vemos, não somos capazes. É bom ter a capacidade de sair a tempo.

 

AE – Que plano tem para depois dos 75 anos?

GCR – Ainda é muito longe para lá chegar. Não pensei. Gosto de ler, de rezar. Logo se verá. Ainda não me ponho esse problema. Penso que é fácil resolver. Os bispos são sempre bem acolhidos, aqui ou noutro local.

 

AE – Em Vila Real, por exemplo?

GCR – Na minha terra será mais difícil porque já não tenho ninguém de família. Saí pequeno, mas em Vila Real sim, não faltariam lugares. É a minha terra.

LS

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