Covid-19: «Aquilo que vejo é uma dedicação extrema dos profissionais de saúde» – Capelão do Hospital de São João

Padre Paulo Teixeira afirma que não é por causa da pandemia que há «mais ou menos Natal» e que «não é verdade» que os doentes Covid-19 morram sozinhos

Foto Lusa/EPA

Lisboa, 29 nov 2020 (Ecclesia) – O Capelão do Hospital de São João, no Porto, afirma que a pandemia não afeta a vivência do Natal, diz que “não é verdade” que os doentes Covid-19 morram sozinhos e fala em “dedicação extrema” dos profissionais de saúde.

“Aquilo que vejo é uma dedicação extrema dos profissionais de saúde. E eles sabem, e eu também sei, que daqui a pouco provavelmente virão mais situações, mas o hospital, até na sua estrutura, na sua administração e gestão humana, vai conseguir abrir portas e janelas para que se possa atender a todas as pessoas”, afirmou o padre Paulo Teixeira.

Na entrevista semanal Renascença/Ecclesia, o capelão do Hospital de São João afirma que “dificilmente se encontra uma cama vazia” no ambiente hospitalar, mas “há sempre lugar para mais um” e os profissionais de saúde conseguem “atender mais um pouco”.

“Eu tenho ouvido de vez em quando dizer que isto está muito assoberbado com entrada de novos infetados nos hospitais. É verdade que a casa está preenchida e dificilmente nós encontramos uma cama vazia neste período. É verdade, mas também é verdade que as pessoas que estão a recorrer ao hospital de São João nunca são mandadas embora”, afirmou.

“Atrevo-me a dizer que isto é praticamente como a mesa de Deus: cabe sempre mais um”, sublinhou.

Ordenado padre em 1997, padre Paulo Teixeira é Coordenador do Serviço de Assistência Religiosa no Centro Hospitalar de São João há cinco anos e afirma que no contexto da pandemia Covid-19 há uma “uma maior carga de trabalhos” porque as pessoas procuramos serviços de assistência espiritual e religiosa de acordo com as necessidades que surgem num determinado momento e afirma que a proximidade com doentes e profissionais é cultivado pelo olhar.

“Os nossos afetos, hoje em dia, no ambiente hospitalar, são muito provocados pelo olhar. Nós damos conta de que, a certa altura, já não nos lembramos da parte de baixo do rosto dos profissionais e dos doentes”, afirmou.

“O que eu fixo, trabalho e me dá alento para fazer o trabalho todos os dias são os olhos das pessoas”, sublinhou.

Questionado sobre as visitas hospitalares no contexto da pandemia, o padre Paulo Teixeira disse que “estão limitadas”, mas “não estão proibidas”.

“De um modo geral, os doentes não devem ser visitados porque isso implicaria um risco grande de contágio. Mas quando o doente está internado há um tempo demasiado longo e isso pode trazer para o próprio doente uma carga psicológica muito grande que o diminua – e os profissionais estão sempre atentos a isso – claro que as visitas são permitidas”, afirmou

“Desde o início fui ouvindo que não havia visitas às pessoas Covid-19 e que morriam sozinhas. Isso não é verdade, no nosso hospital de São João. Eu assisto todos os dias ao chamamento dos familiares para se apresentarem nas enfermarias onde estão esses doentes para que as famílias se possam despedir e estabelecer comunicação, quando há essa possibilidade”, referiu.

Referindo-se à celebração do Natal, o capelão do Hospital de São João disse que não é por causa da pandemia que há “mais ou menos Natal”.

Não creio que a pandemia nos vá retirar, digamos assim, a vivência ou a não vivência do verdadeiro sentimento do Natal. Claro que nos pode retirar do convívio, pelas regras sanitárias que estão propostas pela DGS, mas o verdadeiro Natal nunca nos será retirado”, afirmou.

Agora, depende de cada um. Cada um tem de fazer caminho, tem de ficar a escuta e à espera para que a sua manjedoura; a manjedoura da sua própria vida possa devidamente ser habitada. E habitada, se possível, não por bens materiais, não por estas coisas que nos afagam a sede de bens materiais, mas que nos preenchem a partir de dentro para conseguirmos ser verdadeiros filhos de Deus à escuta, numa escuta permanente daquilo que Deus tem para nos dizer.

Entrevista conduzida por Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

PR

Entrevista: Capelão do Hospital de São João elogia profissionais sensíveis, que se dedicam aos doentes

 

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