Congresso Missionário 2022: Participantes de Cabo Verde, Gana, Portugal, Quénia e Timor falam da fraternidade como «força de unidade e construção social»

Vivências de diálogo inter-religioso acontecem em várias geografias

Lisboa, 15 out 2022 (Ecclesia) – Missionários de diferentes regiões do mundo, presentes no Congresso Missionário 2022, que decorre em Lisboa, destacaram que o encontro ajuda a “despertar a dimensão fraterna”, como “força de unidade, de reconciliação e construção social”.

“É verdadeiramente pertinente a oportunidade de refletir o lugar da Igreja e da missão da fé no lugar onde vivemos, porque estamos numa sociedade em que o medo impera, fragmenta e polariza posições, cria um ambiente de medo e violência, ao nível internacional mas também local”, refere o padre Pedro Fernandes, superior provincial dos Missionários do Espirito Santo, em declarações à Agência ECCLESIA.

Foto Agência ECCLESIA/HM, Padre Pedro Fernandes

O religioso defende que é necessário que os crentes percebam que têm um “papel no processo de unidade da Humanidade” e que “caminhar para a fraternidade é fundamental”.

“Parece-me importante que aqueles que creem em Deus, que professam religião ou aqueles que de outra forma vivem a fé, percebam o quanto isso pode ser força de unidade, de reconciliação e construção social”, indicou.

Para o estudante do 3.º ano de Teologia, Márcio Rocha, natural de Cabo Verde, o Congresso Missionário serve para “despertar consciência da dimensão fraterna”, dentro e fora da Igreja.

“Penso que o congresso é muito interessante para despertar a consciencialização da dimensão fraterna, primeiro dentro da Igreja, a fraternidade humana que também o Papa Francisco nos chama a viver, e é muito importante neste mundo globalizado e plural, saber das nossas convicções sem ferir sensibilidades dos outros, construir fraternidade neste tempo desafiante sem cair em extremismo”, afirma. 

Márcio Rocha, dos Missionários do Espírito Santo, acredita que estas reflexões o podem ajudar “na futura missão” com culturas e povos diferentes.

“A minha missão no futuro será isso, no diálogo inter-religioso, com culturas e povos diferentes, procurar pontos em comum, algo que nos une como Humanidade”, assinala. 

Já a irmã Carla Guterres, da Congregação das Filhas da Caridade Canossianas Missionárias, partilhou a sua vivência com outras religiões em Timor, o seu país natal.

“Para mim a abertura é natural: sou de origem múltipla, minha mãe é chinesa, pratica uma religião diferente, é muçulmana, mas educou-me para ir ao encontro do outro, para mim não é novidade, é desde a infância”, conta.

Há 15 anos em missão em Portugal, a religiosa reconhece  que a “simplicidade e alegria do povo timorense”, no encontro com o outro, na “socialização e diálogo aberto”, a ajudou na sua missão.

Christopher Wamuchwa Shamba, natural do Quénia, disse à Agência ECCLESIA que a consciência de “ser irmãos”, embora de religiões diferentes, e o “diálogo entre todos, ajuda a conhecer o outro para se fazer a paz”.

“Tenho irmãos de sangue que são muçulmanos, eu sou cristão e vivemos em paz; os meus pais são cristãos, mas como conseguimos viver assim todos em harmonia, os pais aceitaram isso”, partilha o participante do Congresso Missionário 2022.

O missionário espiritano assume que no Quénia, com a maioria de povo cristão, “há sempre muita tensão” com os muçulmanos e que “só o diálogo pode ajudar nisso”.

Padre Andrew Prince Foto: AE/HM

O padre Andrew Prince Fofie-Nimoh recorda a ligação com outras religiões no seu país natal, o Gana, onde as tradições eram vividas em comum, numa “relação pacífica”.  

“Quando há grandes festas lançamos convites, em criança fui várias vezes à mesquita e, depois ao domingo, convidava os meus amigos para ir à Igreja, à missa; por exemplo no Natal há mesmo uma tradição de partilhar comida e bebida com os amigos que não vivem a fé cristã”, partilha o Missionário Espiritano, pároco de Tires, no patriarcado de Lisboa. 

O religioso afirma que “a palavra chave é estar disponível para escutar o outro”, para que “o outro faça o mesmo”, e defende que “certamente não haverá conflitos”. 

“Há uma ponte a fazer, eu de outra cultura, onde a missão é estar ao lado do povo todos os dias, aqui é outra cultura, onde temos de marcar tempos todos, a aproximação pastoral é diferente, são culturas diferentes e já estou habituado”, refere. 

O congresso realiza-se de forma presencial e por transmissão on-line, através do site http://www.conferenciaepiscopal.pt/congressomissio22;estão inscritas mais de 450 pessoas nesta iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP), Institutos Missionários Ad Gentes (IMAG) e Obras Missionárias Pontifícias (OMP).

HM/SN

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