Após passar por processo de tratamento e reabilitação, utente encontra-se num dos alojamentos da organização católica, esperando concretizar sonhos
Lisboa, 14 dez 2024 (Ecclesia) – Matheus Vitorino, de 29 anos, começou a consumir drogas ainda na adolescência e, após passar por um processo de reabilitação, está agora a viver num dos apartamentos de reinserção da Comunidade Vida e Paz (CVP).
“Eu comecei a consumir aos 14 anos e só parei aos 23, 24”, começa por explicar o utente da CVP, em declarações à Agência ECCLESIA, que revela que tinha consumos muito frequentemente, que se foram agravando, acabando por ter de ser internado.
Durante a fase de consumo, o utente da CVP esteve em situação de sem-abrigo: “cheguei a ter que viver na rua, porque o [meu] pai achou que era o melhor para eu ter noção da realidade e ver como é que é o mundo lá fora. Se a pessoa não trabalhar, se a pessoa não tiver noção dos gastos, acaba por ter que passar certas dificuldades”.
Matheus relata que este foi um período “complicado”, realçando que “sentia falta da família”.
“Ao início não percebi isso tão bem, mas depois comecei a entender que o facto de ter ali aquele apoio familiar dentro das nossas casas, acho que é muito importante”, assinala.
Naquela altura, Matheus confessa que não tinha esperança em recuperar a vida que tinha e que o foco estava na satisfação do momento.
Após o internamento, “o passo seguinte foi passar por uma casa de tratamento às substâncias e perceber um bocadinho que doença é esta. Ou seja, um autoconhecimento”, conta.
Matheus Vitorino esteve cerca de dois anos numa comunidade terapêutica, que se destina a reabilitar pessoas com adições, onde a recuperação não foi fácil, tendo passado por uma recaída, no entanto conseguiu reerguer-se.
Atualmente, está num dos alojamentos da Comunidade Vida e Paz há oito meses, a quem é grato pelo acolhimento e pela aprendizagem de novas funções.
“Todos os utentes que são integrados nos nossos programas, é traçado com eles um plano, que possa ser trabalhado nas diferentes áreas, e esse plano integra também esta componente da reinserção social”, informou a diretora-geral da CVP.
“É para nós muito importante podermos empoderar as pessoas, capacitá-las para que elas depois consigam inserir-se no mercado de trabalho, inserir-se na sociedade, voltarem a recuperar os laços com a família”, salientou Renata Alves.
A Comunidade Vida e Paz atua em três eixos, sendo um deles a reinserção, cuja unidade de apoio tem como finalidade facilitar a transição para avida ativa e garantir um alojamento condigno e um suporte psicossocial.
“Estou à procura de emprego, de uma casa também, principalmente de uma vocação, de um sítio em que eu saiba fazer o meu trabalho e receber algum dinheiro a partir daí”, disse Matheus Vitorino.
O utente da Comunidade Vida e Paz tem duas ambições: hipismo e cabeleireiro.
Na última quarta-feira, Matheus disponibilizou-se para cortar cabelos, para aprender a técnica e ver resultados.
“Eu agora vou comprar um equipamento, não dos mais caros, dos mais baratos, para começar, mas acho que me serve perfeitamente para o começo”, ressalta.
A Comunidade Vida e Paz, organização sem fins lucrativos fundada em 1989, apoia pessoas em situação de sem-abrigo e vulnerabilidade social através de respostas como o Centro de Intervenção de Primeira Linha, Comunidades Terapêuticas e de Inserção e da Unidade de Apoio à Reinserção.
LJ/OC
O programa 70×7, transmitido este domingo na RTP2, foi dedicado ao trabalho da Comunidade Vida e Paz no apoio aos sem-abrigo nas ruas de Lisboa, no tratamento e reabilitação, e reinserção social de pessoas com problemáticas aditivas. |