Beja: Homilia de D. João Marcos na Vigília Pascal

1 – Caríssimos eleitos que, ao receberdes nesta celebração os três Sacramentos da Iniciação Cristã, o Batismo, a Confirmação e a Eucaristia, ficareis plenamente inseridos na comunhão da Santa Igreja Católica; saúdo-vos a vós, aos vossos padrinhos, familiares e amigos. Saúdo também os reverendos presbíteros e diáconos, seminaristas, membros de Institutos de Vida Consagrada e todos os fiéis leigos e leigas aqui presentes nesta celebração da Vigília Pascal de 2024.

Depois desta longa e maravilhosa Liturgia da Palavra que neste conjunto de leituras nos fez reviver a História da Salvação desde aquela primeira iniciada com as palavras “No princípio, Deus criou o Céu e a Terra” até à Carta aos Romanos que nos revela o sentido mais profundo do Batismo, e ao Evangelho da Ressurreição do Senhor, chegamos, irmãos e irmãs, à Liturgia Sacramental. Cristo Nosso Senhor, o Sumo Sacerdote que está ressuscitado à direita do Pai, tem o poder de realizar aquilo que a sua palavra nos prometeu: fazer-nos participantes da Sua Vida Divina, dar-nos a Vida Eterna.

2 – Nesta Noite Santa em que Cristo Ressuscitou dos mortos todos podemos encontrar-nos com Ele. Como aconteceu na história de Abraão, Deus providenciou para nós, no Seu Filho, o Cordeiro que foi imolado em vez de Isaac; suscitou, no Seu Filho, o Novo Moisés que liberta da escravidão do demónio não apenas um povo, mas todos os povos; foi-nos manifestando o seu amor de Esposo que reconstrói Jerusalém e nos convida para uma Nova Aliança. Do livro de Baruc ressoaram aos nossos ouvidos aquelas palavras: escuta Israel os mandamentos da Vida; e da profecia de Ezequiel, escutámos a promessa de uma Nova Criação: derramarei sobre vós uma água pura e ficareis limpos de todas as imundícies, purificar-vos-ei de todos os falsos deuses. Dar-vos-ei um coração novo e infundirei em vós um Espírito Novo. Arrancarei do vosso peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne. Infundirei em vós o Meu Espírito, habitareis na terra que dei aos vossos pais, sereis o Meu Povo e Eu serei o vosso Deus. Deus quer que todas estas palavras se cumprem hoje nesta assembleia.

3 – Na leitura da carta aos Romanos São Paulo afirma categoricamente que todos nós que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na Sua morte. Fomos sepultados com Ele pelo Batismo na Sua morte, para que assim como Cristo Ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, também nós vivamos uma Vida Nova (…) assim vós também considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Cristo Jesus!

Caros eleitos, a caminhada da Quaresma apresentou-nos, no Evangelho da Samaritana no terceiro Domingo, Cristo como a fonte da água-viva do Espírito que sacia as nossas sedes. No quarto Domingo, no Evangelho do cego de nascença, Cristo foi-nos apresentado como a Luz do mundo. Finalmente, no Evangelho da Ressurreição de Lázaro, no quinto domingo, o Senhor Jesus, manifestou-Se como Aquele que tem poder de dar Vida aos mortos.

 Somos sedentos, somos cegos, estamos mortos. Hoje, o Senhor Ressuscitado passa no meio de nós, não apenas para nos abrir os olhos e para nos dar a água-viva do Seu Espírito, mas para nos oferecer a Sua Vida de Ressuscitado. Para isso precisamos, precisais, de reconhecer que a vida do homem velho, a vida segundo a carne que tendes vivido, a vida de pecado, de costas voltadas para o Senhor, apenas vos conduz à morte. Por isso, antes de serdes batizados, fareis a vossa renunciação ao demónio e ao pecado e a vossa profissão de fé em Deus nosso Pai, em Jesus Cristo nosso Senhor, no Espírito Santo e na Santa Igreja Católica.

De facto, na dimensão batismal, ou seja, no Sacramento do Batismo, estão o alicerce e as raízes da Vida Cristã. O Sacramento da Confirmação, pelo qual sereis repletos com os dons do Espírito Santo, confirmará em vós o testemunho de que sois filhos de Deus e Seus herdeiros. E o Santíssimo Sacramento da Eucaristia, é o Centro da Vida Cristã onde, domingo após domingo, podeis alimentar a esperança e receber a força do Espírito para amardes o próximo, com a mesma dimensão com que vos reconheceis amados pelo Senhor. Depois de receberdes o Sacramento do Crisma, toda a assembleia renovará as promessas do Batismo e será aspergida com água batismal.

4 – A liturgia do Batismo, caros eleitos, é a porta que vos franqueará os tesouros da vida cristã. Hoje tomareis parte, pela primeira vez, na oração dos fiéis, na apresentação dos dons, na Oração Eucarística, na aclamação do Santo, Santo, Santo, na Instituição da Eucaristia, no Amen com que se conclui a oração Eucarística… Hoje, depois de terdes sido adotados por Deus como Seus Filhos, rezareis pela primeira vez o Pai-nosso e comungareis o Corpo do Senhor. E isto acontecerá para vós hoje e na celebração da Páscoa em cada domingo e todas as vezes que participardes na celebração da Missa. E assim, sendo fiéis cristãos, vereis aparecer e crescer em vós, caros eleitos, os frutos da vida cristã, as mesmas obras de Cristo. Concluída hoje a vossa iniciação Cristã, vós precisais de caminhar, durante toda a vossa vida, até atingirdes a passagem com Cristo deste mundo para o Pai. Esta caminhada é feita em Igreja, em comunidade, por cada um de vós.

5 – Esta assembleia visível é continuada por outra assembleia invisível de anjos e de santos que, no céu, nos acompanham, intercedendo por nós. Antes de celebrarmos os Batismos vamos cantar a Ladainha dos Santos, pedindo-lhes que nos ajudem com a sua oração. E depois faremos a Bênção da Água. A água é símbolo de vida, mas também símbolo da morte, tal como o Batismo.

Oremos, irmãos, para que estes eleitos se considerem mortos para o pecado e vivos para o Senhor. Que esta nova Criação hoje realizada por Cristo, Palavra Viva do Pai, progrida neles e dê fruto abundante: frutos de amor, de alegria e de Paz, que nos ajudem a transformar esta terra tão terrivelmente marcada pela guerra, mas já semeada e regada pelo sangue de Cristo, em Seara abundante e imagem fecunda do Céu.

+ J. Marcos, administrador apostólico de Beja

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