Aveiro: Nossa Senhora dos Navegantes, padroeira das gentes ligadas à ria e ao mar

Não é a festa mais antiga da região, nem a que arrasta mais gente, embora atraia multidões, quer para ver nas margens da Ria de Aveiro, quer para participar… de barco. A festa de Nossa Senhora dos Navegantes acontece habitualmente na tarde do terceiro domingo de setembro. Este ano será no dia 18. A hora pode variar um pouco porque depende das marés.

É a maior procissão marítima da Ria de Aveiro. A imagem de Nossa Senhora dos Navegantes parte do Cais dos Bacalhoeiros e é levada por uma traineira até ao cais perto da Capela de Nossa Senhora dos Navegantes, no Forte da Barra, na Gafanha da Nazaré (concelho de Ílhavo), onde se celebra a Eucaristia e se realiza um arraial popular. Centenas de embarcações, de barcos de pesca artesanal e de recreio a rebocadores do Porto de Aveiro, seguem a traineira que leva a imagem principal. Outros barcos transportam outras imagens. E é comum ver populares nos seus barcos com imagens de Nossa Senhora de Fátima ou de algum santo. A procissão marítima dura umas boas duas horas. Tem uma paragem em São Jacinto, onde a imagem é saudada pelos locais e por uma banda de música e, antes de regressar para junto da capela, vai até ao Farol da Barra, que é o último e o primeiro sinal de terra para quem anda nas lides do mar.

O Cais dos Bacalhoeiros, ponto de partida, é o porto antigo onde ainda se podem ver alguns bacalhoeiros no ativo e um antigo lugre, o “mítico” Argus, que deu origem a documentários da National Geographic e que poderá ser transformado em museu para recordar o heroísmo dos ilhavenses da pesca à linha do bacalhau. Ao pé do Cais dos Bacalhoeiros ficava o Clube Stella Maris. Foi com a preocupação de dinamizar este serviço pastoral para os pescadores que o Padre Miguel Lencastre criou a procissão em meados dos anos 70, depois de ter visto algo similar em Porto Alegre, no Brasil. Alguns anos depois a festa deixou de se fazer. Com a Expo 98 e a partilha de vivências ligadas ao mar, a festa foi retomada, agora pelas mãos do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, em estrita ligação à paróquia e com a colaboração da autarquia e das autoridades portuárias.

Para lá da devoção, participar na festa de Nossa Senhora dos Navegantes é uma experiência excecional. Qualquer pessoa pode entrar numa das várias embarcações que se abrem aos populares e fazer a procissão. Se quiser complementar este ato com a cultura e devoção ligadas ao mar, sugere-se uma visita ao Museu Marítimo de Ílhavo, para ver, por exemplo, o interior de um bacalhoeiro e o aquário de bacalhaus, e outra ao recentemente criado Centro de Religiosidade Marítima de Ílhavo, onde podemos apreciar inúmeros ex-votos oferecidos ao Senhor Jesus dos Navegantes e a cruz peitoral de D. Manuel Trindade Salgueiro (que tem a primeira relíquia de São Francisco Marto). O ilhavense que foi arcebispo de Évora e abençoou muitos bacalhoeiros que partiam para os bancos da Terra Nova era filho de um pescador que perdeu a vida no mar.

Jorge Pires Ferreira
Correio do Vouga

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Este artigo faz parte da Edição especial da Agência ECCLESIA “Festas da nossa Terra” publicada em agosto 2022

 

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