Ano B – 22.º Domingo do Tempo Comum

A Palavra levada no coração

A liturgia da Palavra deste 22.º Domingo do Tempo Comum propõe-nos uma reflexão sobre a Lei de Deus.

A primeira leitura garante-nos que as leis e os preceitos de Deus são um caminho seguro para a felicidade e para a vida em plenitude. O Povo deve acolher e deixar-se guiar pela Palavra de Deus.

A segunda leitura convida os crentes a escutarem e acolherem a Palavra de Deus, mas avisa que essa Palavra escutada e acolhida no coração tem de tornar-se um compromisso de amor, de partilha, de solidariedade com o mundo e com os homens.

No Evangelho, Jesus denuncia a atitude daqueles que fizeram do cumprimento externo e superficial da lei um valor absoluto, esquecendo que a lei é apenas um caminho para chegar a um compromisso efetivo com o projeto de Deus. Na perspetiva de Jesus, a verdadeira religião não se centra no cumprimento formal das leis, mas num processo de conversão que leve o homem à comunhão com Deus e a viver numa real partilha de amor com os irmãos.

Os escribas e fariseus tinham enchido a Lei de Moisés com tantas interpretações que acabaram por sacralizá-la e torná-la intocável, sob o nome de “tradições dos antigos”. A lei tinha-se tornado, em todos os detalhes da vida quotidiana, um fardo insuportável denunciado pelo próprio Jesus. Por exemplo, era contrário à tradição dos antigos comer sem ter lavado as mãos. Regra de higiene elementar, sem dúvida, para mais neste tempo de pandemia, mas que se tinha intitulado de “purificação”. Não se submeter a essa regra era tornar-se impuro aos olhos de Deus! O que faziam precisamente alguns discípulos de Jesus. Jesus aproveita para dar uma lição de moral.

A palavra de Jesus tem todo o seu valor e vigor. Quantas interpretações dadas na Igreja, ao longo dos séculos, que acabámos por identificar com a Palavra de Deus! Multiplicaram-se leis, obrigações e proibições, dizendo: “É a tradição!” “Nem pensar em mudar uma vírgula das regras litúrgicas ou morais!” “Sempre foi assim!” É, sem dúvida, uma atitude tranquilizadora, mas pode esconder muitas vezes medos e inseguranças. Podemos chegar a ter a mesma reação que os escribas e fariseus!

Ora, não é protegendo a nossa fé com uma carapaça de leis que a tornamos mais sólida, mas deve ser através de uma escuta constante e sempre nova daquilo que “o Espírito diz às Igrejas”. O Espírito Santo sempre teve tendência para mexer connosco e provocar-nos, para fazer-nos avançar para o grande largo! O Espírito de Jesus quer construir-nos como seres vivos, com uma coluna vertebral interior e não com uma carapaça exterior, para que possamos manter-nos de pé, como ressuscitados! Sempre na alegria da Palavra que levamos no coração!

Manuel Barbosa, scj
www.dehonianos.org

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