Ano A – 1.º Domingo da Quaresma

Caminhar das cinzas para a luz pascal

Estamos no primeiro Domingo da Quaresma, deixemo-nos levar pela Palavra de Deus neste tempo de caminhada. A Palavra convida-nos à conversão, a recolocar Deus no centro da nossa existência, a aceitar a comunhão com Ele, a escutar as suas propostas, a concretizar com fidelidade os seus projetos nas nossas vidas e comunidades.

O gesto das cinzas de quarta-feira deu início a este processo: recordou-nos que somos nada, somos pó, somos cinzas que é preciso fazer renascer. É na nossa humanidade, no húmus da terra do ser, no nosso coração que a conversão se decide, como resposta ao dom da presença de Deus. Os gestos ditos exteriores – renúncias, asceses, penitências, sacrifícios, jejuns e abstinências – só fazem sentido na interioridade do nosso ser, onde habita Deus. Somos convidados a fazer das cinzas do nosso ser a passagem de fundo para a luz pascal. Como nos convida o Papa Francisco na mensagem para a Quaresma, façamos o retiro do monte Tabor com Jesus, escutando Cristo também através da escuta dos irmãos e irmãs na Igreja.

Aí está a primeira leitura, Palavra vinda das origens, a afirmar que Deus criou o homem para a felicidade e para a vida plena. Se prescindirmos de Deus e nos fecharmos em nós próprios, acabamos por inventar esquemas de egoísmo, orgulho e prepotência, construímos caminhos de sofrimento e de morte. Daí o apelo à conversão, hoje e sempre.

A segunda leitura propõe-nos dois exemplos: Adão e Jesus. Adão representa o homem que ignora as propostas de Deus e decide, por si só, os caminhos da salvação e da vida plena; Jesus é o homem que vive na obediência às propostas de Deus. Somos livres de escolher, é certo. Mas se vamos por Adão, ficamos fora do processo do seguimento de Cristo.

O Evangelho apresenta, de forma mais clara, o exemplo de Jesus, que recusou, de forma absoluta, uma vida à margem de Deus. Uma vida que ignora os projetos de Deus Pai e aposta em esquemas só de realização pessoal é uma vida perdida e sem sentido. O cristão deve rejeitar firmemente toda a tentação diabólica de ignorar Deus e as suas propostas de salvação.

A vida é decisão. Depois do nascimento, em cada dia decidimos viver. Decidimos comer, trabalhar, repousar, cuidar, ter tempo de lazer… Diante de tantas contrariedades que é preciso aceitar, assumir e ultrapassar, também é preciso decidir. A maior parte de nós não decidiu ser batizada; outros fizeram-no por nós. Mas depois, decidimos crer, rezar, aprofundar a nossa fé, viver segundo o Evangelho. Muitos outros, na nossa própria família talvez, decidiram de modo diferente.

Nesta semana, decidamos dar um passo ao encontro de Deus. Com toda a liberdade. Façamos desta semana a semana da liberdade de filhos de Deus. Deus quer-nos livres. Quer que vamos até Ele, em plena liberdade do nosso ser, das cinzas à luz pascal. Como diz o Papa Francisco, não há Quaresma sem Páscoa. Mas também não há Páscoa sem Quaresma.

Manuel Barbosa, scj
www.dehonianos.org

 

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