Algarve: Sinodalidade é «legado» do Papa Francisco e um «caminho transformador» sem retorno

Escuta, diálogo, «caminho saudável» na vida da Igreja e mudanças nas estruturas são frutos do percurso sinodal vivido na diocese algarvia

Faro, 10 mai 2024 (Ecclesia) – O padre António de Freitas, da equipa sinodal da Diocese do Algarve, disse que a “sinodalidade” é o “grande legado” do Papa Francisco, indicando ser “um caminho transformador” sem retorno, com frutos no “diálogo e na escuta” comunitária.

“Acho algo extraordinário colocar uma comunidade paroquial em diálogo aberto. Entendíamos um conjunto de coisas como adquiridas, que as pessoas pensavam todas de uma maneira e percebeu-se que, afinal, não se pensa nada da mesma maneira, que é preciso estar atento, é preciso escutar, é preciso compreender aquilo que está no sentido de cada cristão para se perceber que caminho é que se pode fazer em comunidade”, explica o vigário episcopal para a pastoral e também reitor do Seminário de São José, da Diocese do Algarve.

“Penso que este é um dos legados fantásticos deste processo sinodal – percebermos que sem a capacidade de dialogarmos, de cada um dizer abertamente o que pensa, nós não podemos fazer um caminho com uma Igreja que seja realista e, sobretudo, que seja saudável”, acrescenta.

O Papa Francisco convocou a Igreja católica para um processo de escuta e diálogo em 2021, a partir do tema geral «Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão», estando prevista uma II Assembleia Sinodal em outubro, que irá refletir nas sínteses enviadas por cada Conferência Episcopal, fruto do caminho de escuta e diálogo das comunidades.

Questionado pelo decorrer do processo na Diocese do Algarve, o padre António de Freitas sublinhou uma “grande abertura e desejo de participação – até uma ansiedade na chegada dos documentos” – que se traduziu numa participação de cerca de metade das paróquias algarvias.

A Diocese do Algarve encerra brevemente um triénio pastoral e o responsável indica haver já “marcas de sinodalidade” nas estruturas da Igreja.

“Começamos há três anos e estava no centro a renovação das estruturas da Igreja, e este contexto foi gerador de um novo olhar sobre aquilo que chamamos os órgãos de corresponsabilidade, de participação pastoral e eclesial”, explica.

O padre António de Freitas foca a renovação na “forte aposta na implementação dos conselhos pastorais”, numa “nova reconfiguração da postura pastoral-paroquial em chave missionária – que implica a capacidade de escutar e estar atento à sensibilidade laical”, e que contrarie “o fechamento em organismos que são maioritariamente liderados ou compostos por ministros ordenados”.

Sobre o relatório que traduziu o processo sinodal vivido na Diocese do Algarve o responsável sublinha a oportunidade de “falar abertamente e de aprender a escutar os outros” como algo muito valorizado por todos.

“Outro aspeto muito sublinhado foi o dialogar na Igreja e na sociedade: a relação da própria Igreja com a sociedade e da abertura de escuta – compreender o que a sociedade pensa de nós e também espera de nós. Foi frisada aqui a postura da Igreja, que não tem que ser sempre aquela postura de mestra, que tem sempre alguma coisa para dar aos outros e sabe sempre mais que os outros, mas aquela postura de mãe, a postura de quem sabe escutar os filhos e fazer a reflexão e discernimento a partir daquilo que os outros lhe dizem”, indica.

Foto: Folha do Domingo/Samuel Mendonça; Padre António de Freitas

O relatório enviado em março para a CEP que ilustra o caminho de escuta e diálogo da Diocese do Algarve sublinha ainda o lugar da mulher na vida e na missão da Igreja, “tendo sido entendido que deve ser mais valorizado”, criar equipas de leigos para uma “visão missionária das estruturas pastorais, das paróquias e da diocese” para que também os ministro ordenados se foquem no específico da sua missão.

O responsável dá conta que se numa primeira fase da escuta a participação atingiu cerca de metade das paróquias algarvias, na segunda fase o envolvimento diminuiu.

“Nesta segunda fase reduziu-se a 17 paróquias. Os que participaram, de facto, tiveram reflexões profundas, até extensas, sobre os números que eram indicados e foi muito interessante o trabalho que as paróquias fizeram”, destaca.

Como reitor do Seminário de São José, da Diocese do Algarve, o padre António de Freitas assinala ainda que a formação aos futuros padres tem de se adequar à sinodalidade: “Ao longo dos tempos, educaram, e não está mal que assim tenha sido, para fazer dos presbíteros líderes das comunidades, guias das comunidades, mas por vezes, havendo aqui a dificuldade de perceber, que a liderança do pastor se cria a partir da relação e da integração dos próprios leigos e dos paroquianos no seu ministério, no seu agir”.

Sendo necessário “ligar o Seminário às paróquias”, o padre António de Freitas aponta que as casas de formação não podem ser “estufas” mas estar em relação com o mundo.

O processo sinodal na Diocese do Algarve vai estar no centro do programa Ecclesia, este sábado, na Antena 1, emitido pelas 06h00.

LS

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