Água: Alterações climáticas provocam mudanças no acesso e na subsistência das populações costeiras – Oikos

Organização não-governamental celebra 35 anos de projetos orientados para os direitos humanos e para a sustentabilidade do desenvolvimento

Lisboa, 22 mar 2023 (Ecclesia) – José Luís Monteiro, da Oikos – Cooperação e Desenvolvimento, afirma que as alterações climáticas estão a provocar mudanças no acesso à água potável, percetíveis no nível dos oceanos, mas também com implicações na subsistência de populações costeiras.

“Cada vez mais queremos trabalhar as questões do oceano. As comunidades costeiras estão globalmente ameaçadas, por um conjunto de razões vasto e a maior parte das razões não estão dentro do seu controle: são questões como as alterações climáticas, não só o nível do mar mas a erosão costeira, a pesca intensiva, a poluição marinha que vão intensificar os problemas”, diagnostica à Agência ECCLESIA.

“O que temos trabalhado é a capacitação das populações, a gestão sustentável dos recursos, a criação de áreas marinhas protegidas mas numa lógica de co-gestão, para que sejam as comunidades a pedir aos governos a criação de áreas protegidas para garantir a sua subsistência”, acrescenta.

A Oikos – Cooperação e desenvolvimento é uma Organização não-governamental criada há 35 anos apostada no desenvolvimento das populações mais carenciadas, na manutenção dos seus direitos, e que sejam assegurados de forma sustentável e justa.

No Dia Mundial da Água, criado em 1993 pelas nações Unidas, José Luís Monteiro dá conta do trabalho que a organização desenvolve para prover as populações sem acesso a água potável, um trabalho que passa pela criação de poços mas, destaca, pela sua manutenção e conservação.

“As pessoas esquecem-se que criar um poço numa comunidade onde não existe, e seguir para uma próxima localidade, implica que daqui a algum tempo teremos de voltar à primeira comunidade para pensar como o poço vai ser mantido. Por isso trabalhamos com as comunidades a sua manutenção, através da criação de um comité de gestão, que crie um sistrema de poupança e conservação de peças”, descreve.

As alterações climáticas que votam o mesmo país, “apenas num ano” a períodos de seca intensa a cheias igualmente intensas, precisam de intervenções ao nível da “prevenção do excesso de água”.

“Em Moçambique, por exemplo, onde acabamos de renovar escolas e salas de aula, incluímos no plano da própria escola as questões ligadas ao acesso à água e a garantia de que a escola é construída de forma resiliente para que na próxima cheia – que neste momento é anual – não leve o trabalho desenvolvido”, explica.

José Luís Monteiro dá conta que o trabalho desenvolvido há 35 anos pela Oikos permite acompanhar alguns sucessos mas, reconhece, não é isento de desafios.

A intervenção da ONG estende-se também a situações de emergência humanitária, o que permite dar depois “continuidade” ao trabalho de desenvolvimento sustentável.

A própria emergência serve, muitas vezes, para iniciar um novo trabalho num novo contexto, onde se procura suprimir necessidades, mas olhando para o futuro e para a independência das comunidades. Isto gera uma continuidade de trabalho. As necessidades são tão grandes nestes países que quando suprimos uma necessidade, trabalhamos com a comunidade para o resolver, mas há outros que se vão tornando urgentes e continuamos a trabalhar com as comunidades. Mas o nosso objetivo é que um dia possamos sair do terreno, mas a obra fica feita e a população capacitada”.

José Luís Monteiro destaca, numa entrevista emitida hoje no programa ECCLESIA, na RTP2, que apesar da intervenção da Oikos estar “orientada” para os direitos humanos, atualmente existem outras ameaças a que a organização tem de estar atenta.

“Alguns direitos que não são os mais básicos mas são ameaçados por situação política. Por exemplo na América latina vivemos momentos de grande pressão e a sociedade civil não é vista como uma parceira para o desenvolvimento mas mais como um obstáculo ao poder e nessas alturas temos de intervir”, destaca.

A Oikos quer ainda valorizar o papel que Portugal tem “e pode ter” no quadro de cooperação internacional, uma vez que “a nível global, Portugal é pequeno oásis de estabilidade e de paz”.

“É importante que Portugal tente passar essa boa experiência e as vantagens para outros países. Por vezes é necessário intervenção não a nível das ONG, mas a nível de governos e Chefes de Estado”, explica.

HM/LS

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