Açores: Igreja Católica espera que uma governação «feita de equilíbrio» seja «favorável à defesa do bem comum»

Presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz e diretora do Serviço Diocesano da Pastoral Social analisam resultados nas eleições legislativas regionais

Foto LUSA/André Kosters

Angra do Heroísmo, Açores, 05 fev 2024 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Angra afirmou que os resultados das eleições regionais implicam um “exercício de maturidade cívica” e uma governação “feita de equilíbrio”, que pode ser “favorável à defesa do bem comum”.

“O que se passou nos Açores é uma concretização do espírito de abril: as pessoas votaram de forma plural e ao diversificarem o seu voto disseram claramente que querem maior vigilância na governação e na definição do que é o bem comum, que as maiorias absolutas tantas vezes ignoram”, afirmou Francisco Maduro Dias em declarações ao portal de informação Igreja Açores.

Para o presidente da Comissão Diocesana de Justiça e Paz, os resultados das eleições no arquipélago antecipam uma governação “feita de equilíbrio e isso pode ser favorável à defesa do bem comum”.

A Região Autónoma dos Açores realizou eleições para a Assembleia Regional neste domingo e a coligação PSD/CDS/PPM (AD Açores) teve 42,08% dos votos, elegendo 26 deputados, sendo necessários mais três para a maioria absoluta; o PS obteve 35,91% dos votos (23 deputados); o Chega 9,19% (5 deputados); e o Bloco de Esquerda, Iniciativa Liberal e Pan elegeram um deputado cada.

“Os resultados desta noite exigem um grande sentido de responsabilidade e atenção permanente de todos: eleitores, eleitos e governo. Ninguém pode lavar as mãos e dizer que não é responsável”, acrescentou

Para Maduro Dias, o resultado das eleições deste domingo responsabiliza “a todos” e “ninguém pode ficar de fora nem excluir-se do processo”.

“Como cidadão eleitor não posso ficar calado e muito menos dizer que elegi e o meu dever ficou cumprido”, referiu, acrescentando que “o equilíbrio é a nova palavra de ordem”.

 “Todos somos necessários para que a governabilidade funcione; a inclusão é uma obrigação. Se não funcionar a culpa é de alguns de nós que resolvemos olhar apenas para o nosso umbigo e não para o bem comum, cidadãos, partidos e governo”, afirmou o presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz.

Para a diretora do Serviço Diocesano da Pastoral Social, os resultados das eleições para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores podem levar a algum retrocesso em matérias sociais.

“Temas estruturantes do Estado Social estão a ser desvalorizados em prol de uma visão meritocrática  em que só alguns podem ser beneficiários de apoios e esse não pode ser o ponto de partida nem uma visão de sociedade”, afirmou.

Piedade Lalanda afirma que, para além de “questões estritamente partidárias”, é necessário analisar “uma questão sociológica de fundo” e que está relacionada com a adesão a “discursos mais radicalizados”.

“A adesão dos jovens a discursos mais radicalizados, alguma perda de literacia política ou sentido crítico para analisar e propor opções políticas de fundo, que possam conduzir à defesa do bem comum e não só daqueles que nós achamos que são merecedores desta ou daquela medida”, indica a socióloga ao portal Igreja Açores.

A responsável pela Pastoral Social da Diocese de Angra alerta para a necessidade de uma maior vigilância do parlamento em relação às questões do trabalho, da proteção social, da igualdade de género ou do acesso à educação por parte dos jovens de classes sociais mais desfavorecidas, alertando para o perigo de que “a questão da garantia da governabilidade possa sobrepor-se a estes valores”.

As eleições legislativas regionais foram realizadas dois anos após o Governo Regional ter tomado posse e em consequência da dissolução da Assembleia Regional dos Açores depois o chumbo do Orçamento Regional para 2024.

PR

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