A falta de empatia é uma pandemia

Luísa Gonçalves, diocese do Funchal

Li com atenção um artigo que a ECCLESIA publicou há uns tempos, resultante da conversa com o psicólogo educacional João Ameal, em que este alertava para uma “pandemia silenciosa” em curso, com “números exponenciais” de crianças e adolescentes com ataques de “ansiedade e pânico”. Em suma problemas do foro mental, que acabam por se refletir no físico de cada um.

O profissional de saúde, lamentava o “estigma acusatório” de quem procura ajuda psicológica: “Foi porque não foi forte o suficiente para ultrapassar os problemas; a culpa é pessoal, porque só os fracos é que vão ao psicólogo”.

Dizia ainda que as pessoas não estão à procura de respostas, mas de quem as oiça, lamentando a velocidade da vida quotidiana que tira qualidade de vida e rumo às pessoas.

Tenho dado por mim a pensar que esta indiferença, esta falta de empatia, que a pandemia veio agravar substancialmente, nos devia fazer pensar e pensar a sério. Uma das coisas que seria importante era recolocar a compaixão no centro das relações humanas e das comunidades.

É este sentimento de piedade com o sofrimento alheio que nos falta. Não queremos saber do sofrimento do outro para nada, porque achamos que temos o nosso e já basta. Somos incapazes de estender a mão a quem quer que seja, de parar cinco minutos à conversa ou só mesmo a ouvir alguém que nos aborda.

Pertenço a um movimento de voluntariado hospitalar – a Presença Amiga – e essa é uma das nossas funções primordiais: escutar. Não é ouvir é escutar e só falar se essa oportunidade surgir, porque a outra pessoa, neste caso o doente abre essa brecha.

Esta atitude pode ser posta em prática em qualquer dia e em qualquer lugar. Não é preciso muito. Basta sermos empáticos. Pensarmos: e se fosse comigo? Será que eu não gostaria de ter alguém para me ouvir, me dar um conselho, para me estender verdadeiramente uma mão, com a qual posso contar? Dá que pensar… Façamos isso? Para nosso bem e para o bem de todos.

 

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