A cruz escondida

Irmã franciscana raptada por terroristas no Mali há dois anos

Cento e quatro semanas

Dia 7 de Fevereiro de 2017, Gloria Cecília Argoti estava em casa, em Karangasso, no Mali, quando um comando jihadista a raptou. Desconhece-se onde está. Alguns vídeos gravados em cativeiro são a “prova de vida” que permite alimentar a esperança de que, um dia, esta irmã franciscana poderá voltar a casa. Em Karangasso, as outras irmãs falam dela como uma verdadeira heroína.
Fez dia 7 de Fevereiro dois anos que a vida da colombiana Gloria Cecília Argoti ficou em suspenso. Nesse dia, um comando jihadista invadiu a casa das irmãs franciscanas em Karangasso, no Mali. “Os homens entraram na sala, apontaram uma arma à irmã mais nova e chamaram as outras.” Os jihadistas queriam levar uma das religiosas para depois poderem negociar com as autoridades numa posição de força. Para terem uma moeda de troca. A irmã Janet estava em casa e assistiu a tudo. “Os homens começaram a fazer perguntas e obrigaram as irmãs a trazer os passaportes…” Ali, naquela terra de ninguém, as pessoas valem consoante a nacionalidade. Um estrangeiro é sempre mais valioso do que um local. O rapto de pessoas é uma forma de financiamento das organizações terroristas. Estes grupos conseguem muitas vezes avultadas somas de dinheiro quando raptam altos quadros de multinacionais que estão a operar na região. Por isso, pediram os passaportes às irmãs. Poderia estar ali uma americana, por exemplo. Ou uma francesa. A Irmã Janet lembra-se de como tudo aconteceu. “A Gloria percebeu que era um rapto e começou a conversar com eles, dizendo para não levarem a irmã mais jovem… Se precisassem de alguma coisa seria com ela.” Numa palavra, ofereceu-se. Foi há dois anos. Desde então, alguns vídeos divulgados pelos jihadistas mostram que a Irmã Gloria está viva. Não se sabe onde. O deserto é um óptimo esconderijo. A última mensagem foi divulgada em Setembro num vídeo e pode ver-se a irmã a solicitar a ajuda do Santo Padre. Nesse vídeo, a religiosa colombiana surge ao lado de outra refém, a médica francesa Sophie Petronin. A Irmã Argoti dirige-se ao Papa Francisco agradecendo-lhe por “se ocupar” do seu caso, pedindo-lhe para não se esquecer também da situação “da senhora Sophie Petronin, porque ela está muito doente”. Gravado aparentemente no interior de uma tenda, o vídeo tem a duração de pouco mais de sete minutos e termina com a missionária colombiana a afirmar que faz “todos os dias” a mala e prepara as suas coisas, pois “aguarda todos os dias” pela sua libertação.

Símbolo de sacrifício

Gloria Cecilia Argoti, de 57 anos, estava a realizar há já um quarto de século um precioso trabalho humanitário e de evangelização no continente africano. O Mali e o Benin foram os dois países onde procurou levar a ternura de Deus junto dos mais pobres, dos mais necessitados. Sempre muito preocupada com as crianças, mobilizou todas as suas energias para a construção de um orfanato, uma casa que se transformou num verdadeiro oásis de amor numa região onde a sobrevivência é a palavra de ordem no dia-a-dia. Desde há vários anos que o Mali está subjugado à violência de grupos armados que vão espalhando o terror como se de um vírus se tratasse. As comunidades cristãs são um dos alvos principais. É praticamente impossível a presença da Igreja no norte do Mali. Mas mesmo no sul a ameaça é permanente. Dois anos, 24 meses, 104 semanas, 730 dias, 17.520 horas. O ‘tic-tac’ do relógio continua a sobressaltar-nos. Para as irmãs franciscanas de Karangasso, no Mali, parece que o tempo parou naquela terça-feira, quando os terroristas invadiram a casa de armas em riste e levaram a Irmã Cecília Argoti. Hoje, ela é um símbolo vivo da ousadia e do sacrifício de quem arrisca tudo para ajudar a secar as lágrimas de Deus junto dos que mais sofrem. Ela é exemplo para todos nós.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

 

A Congregação das Irmãs Franciscanas de Maria Imaculada precisa da nossa ajuda. A Irmã Gloria é exemplo da coragem de quem arrisca tudo pela fé. Vamos ajudar estas irmãs?

Mulheres Extraordinárias
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