A cruz escondida

A “querida Irmã” Maria de Coppi, assassinada em Setembro de 2022

Impossível esquecer

Passou um ano mas parece ainda difícil de acreditar. A Irmã Maria de Coppi, uma italiana de 83 anos que passou grande parte da sua vida em terras de Moçambique, foi assassinada a tiro num ataque terrorista à missão de Chipene, onde vivia. Mataram-na, mas ela permanece viva na memória de todos os que a conheceram. E isso viu-se agora, um ano depois do crime que foi cometido na Diocese de Nacala…

Uma vigília de oração e o lançamento de um livro foi a forma como a comunidade católica de Vittorio Veneto recordou a Irmã Maria de Coppi, assassinada há um ano em Moçambique… A Igreja de Ramera foi o palco escolhido para homenagear a filha da terra assassinada barbaramente aos 83 anos na noite de 6 de Setembro do ano passado, durante um ataque terrorista à missão de Chipene, na Diocese de Nacala, onde vivia. Também a Diocese de Nacala, em Moçambique, recordou a religiosa italiana. Na sua página na Internet, foi publicada uma prece – “Maria de Coppi, Rogai por nós” – em que a comunidade recorda alguns aspectos do seu trabalho em favor das populações moçambicanas. “Entregaste a tua vida ao Senhor pela missão evangelizadora de África. Acolheste e escutaste muitas pessoas, procurando ajudar o máximo possível quem passava dificuldades e provas pesadas na vida. No teu coração havia uma forte preocupação pela formação e promoção das mulheres e foste animá-las nas comunidades até quando conseguiste. No Lar feminino acompanhaste a formação humana das meninas, escutando muito dos seus desafios, aconselhando e consolando muitas vezes…”

O ataque à missão

Este lar, que foi também a casa da Irmã Maria de Coppi, acabou totalmente destruído pelos terroristas. O ataque à missão de Chipene começou às 21 horas de 6 de Setembro de 2022 e só terminou de madrugada. Foi incendiado e destruído não só o lar das raparigas, mas também o dos rapazes, o edifício da igreja, a escola, o centro de saúde, a casa das religiosas, a biblioteca e as viaturas. “Destruíram tudo”, descreveu D. Alberto Vera. O Bispo de Nacala soube do ataque através de uma mensagem de um sacerdote local, o Padre Lorenzo, que estava em Chipene. O sacerdote descrevia os momentos angustiantes que se viveram quando os terroristas chegaram à missão. Fomos assaltados. A Irmã Maria (de Coppi) foi logo morta com um tiro na cabeça. As outras conseguiram fugir, assim como as últimas meninas que estavam no lar. Todos os rapazes do lar já tinham saído.” O sacerdote informou ainda o Bispo que todos tentavam fugir de Chipene. A mensagem terminava com um retrato desolador do que tinha sido a missão: “Tudo foi queimado e ainda está a arder…”.

Processo de beatificação

Desde o seu assassinato, há um ano, que têm sido várias as vozes de altos responsáveis da Igreja de Moçambique admitindo a abertura do processo para a beatificação da religiosa italiana. Já em Março deste ano, D. Diamantino Antunes, Bispo de Tete, quando esteve de passagem pela sede da Fundação AIS, em Lisboa, admitiu como provável este cenário. “Ela viveu totalmente, durante 50 anos, para o povo Moçambicano, totalmente dedicada ao serviço da evangelização e da promoção humana, e, portanto, eu penso que sim, que pode ter grandes possibilidades do heroísmo, do martírio da Irmã Maria de Coppi vir a ser reconhecido pela Igreja.” No mesmo sentido falou D. Alberto Vera, Bispo de Nacala, a diocese a que pertence Chipene. Numa conferência organizada pela Fundação AIS Internacional, em Outubro do ano passado, D. Alberto lembrou o perfil generoso da irmã, que todos estimavam profundamente. “Eu conhecia-a e posso dizer que ela era a imagem de uma mãe, de uma santa. Ela estava realmente a ajudar toda a gente, com amor simples e humilde. Também o Bispo de Pemba, D. António Juliasse, já admitiu a possibilidade de abertura de um processo para a beatificação de Maria de Coppi. “A razão da sua morte foi a sua fé e a sua missão”, disse. Questionado pela Fundação AIS se estamos a falar já de uma mártir da Igreja, D. Juliasse respondeu de imediato: “Neste sentido, sim, sem dúvida”.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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