A cruz escondida

A imagem de Nossa Senhora que o Papa benzeu na Mongólia

Um tesouro no lixo

Ninguém sabe como a escultura da Imaculada Conceição foi parar a um aterro sanitário no norte da Mongólia. Mas quando a senhora Tsetsege a encontrou, há dez anos, depressa compreendeu que seria algo muito especial. Pelo menos para ela. Parecia querer dizer-lhe alguma coisa. E decidiu levá-la para casa, resgatando-a ao lixo. Agora, esta Nossa Senhora em madeira é um símbolo dos católicos neste país que o Papa visitou há duas semanas…

Seria impossível imaginar para a senhora Tsetsege que aquela pequena estátua de madeira que descobriu por acaso há cerca de dez anos, quando revolvia o lixo num aterro sanitário, viesse a ter tanta importância.  Quando descobriu a imagem, embrulhada num pano, deslumbrou-se. Algo lhe chamou a atenção. Talvez as formas delicadas do rosto, talvez o facto de ser um achado tão surpreendente naquele lugar onde os mais pobres procuravam descobrir alguma coisa de valor… A verdade é que a senhora Tsetsege decidiu que teria de levar consigo aquela imagem para a sua tenda, para a sua casa. “Essa linda senhora quis vir morar na minha tenda”, explicou então à família, mostrando a estátua que trazia consigo. Apesar de não ser cristã, Tsetsege conhecia algumas religiosas da comunidade de Madre Teresa de Calcutá. Numa das visitas a sua casa, uma das irmãs reparou na imagem e perguntou-lhe onde a tinha encontrado. A “linda senhora” era, afinal, uma estátua da Imaculada Conceição. A história desta imagem chegou ao conhecimento do jovem Cardeal Giorgio Marengo, Prefeito Apostólico de Ulan Bator. “Nossa Senhora quer-nos dizer alguma coisa. Fui até ao local, conheci a senhora. Depois, no dia 25 de Março – festa da Anunciação, em acordo com a comunidade – transferimos oficialmente a estátua para Ulan Bator com a ideia de entronizá-la na catedral, para que seja mais conhecida e venerada por todos.” E foi assim que, no dia 8 de Dezembro de 2022, a comunidade católica foi convidada a conhecer esta imagem de Nossa Senhora resgatada no meio do lixo no norte do país. As palavras são ainda de D. Giorgio Marengo. “Convidámos todos os nossos 1.400 católicos a enviarem-nos um pedaço de tecido que fosse particularmente significativo para eles, acompanhando-o com uma frase, com uma oração. Ao reuni-los fizemos um manto que oferecemos à Virgem, com a apresentação das nossas orações. Foi um momento lindo, muito sincero.”

Um sinal de Nossa Senhora

O Papa Francisco conhecia já esta história e fez questão de conseguir um momento na sua agenda oficial, durante a visita de quatro dias que fez recentemente à Mongólia, para se encontrar com Tsetsege, a senhora, já idosa, que descobriu no meio do lixo aquele tesouro de madeira de apenas 62 centímetros de altura. Foi um momento breve, numa tenda tradicional da Mongólia, mas que o Santo Padre fez questão de explicar aos sacerdotes, missionários, irmãs e agentes da pastoral que o aguardavam na Catedral de São Pedro e São Paulo. “Neste caminho de discípulos-missionários, tendes um apoio seguro: a nossa Mãe celeste, que quis dar-vos um sinal palpável da sua presença discreta e solícita ao deixar que se encontrasse a sua imagem numa lixeira”, disse Francisco. “Naquele lugar dos detritos, apareceu esta bela estátua da Imaculada: Ela, sem mácula, imune do pecado, quis chegar tão perto a ponto de ser confundida com os desperdícios da sociedade, para que, da imundície do lixo, emergisse a pureza da Santa Mãe de Deus”, acrescentou o Santo Padre. Provavelmente nunca se irá saber como aquela pequena estátua da Imaculada Conceição foi parar ao lixo, àquele aterro sanitário no norte da Mongólia. O que se sabe, sim, é que a imagem foi resgatada por uma mulher que por ser muito pobre precisava de revolver o lixo à procura de alguma coisa que ajudasse a sua família a sobreviver um pouco mais à dureza do dia-a-dia. Ela descobriu uma estátua que, na verdade, é hoje um verdadeiro tesouro para a Igreja da Mongólia, onde a comunidade católica é tão pequena. Uma comunidade que é, apesar disso, apoiada também pela Fundação AIS. As obras de renovação da Catedral de São Pedro e São Paulo, na capital, ou a entrega de um veículo para uma das congregações religiosas presentes no país, são exemplo da solidariedade sem fronteiras dos benfeitores da Ajuda à Igreja que Sofre.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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