25 de Abril: Novo livro mostra reação da hierarquia católica, «atenta e expectante, procurando não hostilizar os novos poderes», em 1974

Apresentação em Lisboa vai ter intervenções do cardeal D. Manuel Clemente e de Maria Inácia Rezola

Festejos em Lisboa no dia 25 de abril de 1974, fotografia de Miranda Castela, Arquivo Fotográfico da Assembleia da República (AF-AR).

Lisboa, 14 abr 2024 (Ecclesia) – O novo livro sobre as “permanências, ruturas e recomposições” do 25 de Abril, lançado pela Agência ECCLESIA e o Centro de Estudos de História Religiosa da (CEHR) da UCP, sublinha a atitude “atenta e expectante” da hierarquia católica, em 1974.

“A hierarquia católica em Portugal, à semelhança de outras transições políticas que se deram no século XX, manteve-se atenta e expectante, procurando não hostilizar os novos poderes”, indica a equipa coordenadora da publicação, do CEHR.

O episcopado, lê-se na apresentação do volume, “tinha consciência que alguns setores católicos se tinham vindo a politizar, sobretudo na última fase do Estado Novo”.

“De facto, no 25 de abril de 1974, havia católicos espalhados pela vasta constelação de sensibilidades políticas. No entanto, para a hierarquia, estava excluída a possibilidade de se constituírem partidos políticos denominados cristãos ou católicos”, acrescentam os investigadores.

O livro recorda que, a 4 de maio de 1974, o episcopado português publicou uma nota pastoral a propósito dos acontecimentos de 25 de Abril.

“Sentimos com todo o Povo os anseios e esperanças da hora presente e com ele nos empenhamos, dentro da nossa competência, na edificação de uma ordem social assente na verdade, na justiça, na liberdade, no amor e na paz”, assinala o texto de duas páginas, em que se recorda aos padres e religiosos que não devem ocupar cargos políticos e aos partidos que nenhum deles pode reivindicar para a sua opinião, “de modo exclusivo”, a autoridade da Igreja.

Os autores recordam que, entre os decisores políticos em matérias económicas e sociais no pós-1974, se encontram personalidades como Francisco Pereira de Moura, Maria de Lurdes Pintasilgo, Adérito Sedas Nunes, Maria Manuela Silva, Teresa Santa Clara Gomes, Mário Murteira, Acácio Catarino ou Alfredo Bruto da Costa.

25 de Abril: permanências, ruturas e recomposições’, é um novo livro publicado no âmbito das comemorações dos 50 anos da democracia em Portugal, com coordenação científica do CEHR e edição da Agência ECCLESIA.

A publicação vai ser apresentada esta segunda-feira, a partir das 18H30, no Auditório Santuário de Fátima (Sala 131/edifício antigo) da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa.

A sessão conta com intervenções de Maria Inácia Rezola, comissária da Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril; do cardeal D. Manuel Clemente, patriarca emérito de Lisboa; e Peter Hanenberg, vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa.

Uma nova sessão de apresentação vai decorrer quarta-feira, pelas 16h00, na Torre dos Clérigos, com intervenções de Germano Silva, Virgílio Borges Pereira e D. Joaquim Dionísio, bispo auxiliar do Porto e membro da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.

A edição surge do trabalho desenvolvido no âmbito de um projeto de investigação do CEHR da Universidade Católica Portuguesa, “dedicado ao processo de transição democrática em Portugal”, abordando “diferentes questões em torno da religião, das práticas de fé, das convicções e dos seus diversos elementos e níveis institucionais e confessionais, atentando às permanências, ruturas e recomposições verificadas”.

O novo livro estrutura-se em torno de quatro temáticas fundamentais: “a Guerra, a Descolonização, a Democracia e o Desenvolvimento”.

 

Paulo Rocha, diretor da Agência ECCLESIA, assina a introdução do livro, sublinhando que a parceira com o CEHR “tem o propósito de aproximar a investigação científica de formatos de apresentação e de divulgação que permitam um maior alcance e difusão de conteúdos essenciais da História de Portugal”, à imagem de projetos anteriores..

“Hoje pressentem-se os acontecimentos, os avanços e recuos, as tensões e negociações de grupos e das lideranças que foram determinantes num determinado momento da História. Uma perceção tanto das gerações posteriores a 1974 como – e de sobremaneira – por quem participou numa revolução pelo fim da guerra, pela liberdade, pela democracia e pela participação de cada cidadão na construção do bem de todos”, escreve o jornalista.

Para o diretor da Agência ECCLESIA, os 50 anos que se passaram sobre o 25 de Abril mostram que “uma revolução não se faz num dia”, destacando que “a revolução militar e política resulta de uma revolução cultural, social e também religiosa, como confirmam os horizontes deixados pelo Concílio Ecuménico Vaticano II, dez anos antes”.

“25 de Abril de 1974 não foi um dia na história, é a história de todos os dias”, conclui.

OC

Nota Pastoral na comemoração dos cinquenta anos do “25 de Abril”

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