2024: Igreja deve ser «voz presente no debate sobre o país que queremos» – Octávio Carmo

Vaticanista e chefe de redação da Agência ECCLESIA faz projeção dos acontecimentos que vão marcar a atualidade religiosa em 2024

Foto: Lusa

Lisboa, 11 jan 2023 (Ecclesia) – O chefe de redação da Agência ECCLESIA propõe que a Igreja Católica adote uma “posição mais construtiva e menos defensiva” sobre os desígnios do país, falando no âmbito político que, em 2024, conhece uma nova configuração.

“É importante que se comece a projetar um país diferente que se quer, porque chegados a quase ao primeiro quarto do século XXI, acho que é incontestável que estamos a falhar em muitas coisas”, defendeu Octávio Carmo.

“A voz da Igreja tem de ser uma voz que saia desta atitude tão defensiva, até pelos problemas internos que tem vindo a enfrentar, pelo aproveitamento político que algumas fações do seu interior também fazem em determinadas posições”, afirmou, sugerindo uma “atitude mais proativa, mais virada para a construção de uma sociedade em conjunto, mais atenta a quem realmente sofre com as consequências das crises”.

O vaticanista é o convidado desta quinta-feira do Programa ECCLESIA, na RTP2, numa entrevista sobre a projeção de 2024 e os grandes acontecimentos do ano, em que se incluem as eleições legislativas de 10 de março, após a dissolução da Assembleia da República.

“Acho que falta um bocado isso, falta que [a Igreja Católica] seja uma voz presente no debate sobre que país é que queremos”, apontou.

No final de outubro, decorre a segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, e segundo o chefe de redação é importante que “todas as equipas sinodais de todas as dioceses continuem a trabalhar”.

Foto: Ricardo Perna

“Espero que todas tenham sido convocadas e todas estejam com a mão na massa […] até porque o próprio Papa e a sua equipa não estão à espera de outubro de 2024 para começar a lançar novos projetos ou novas dinâmicas nascidas do processo sinodal”, destacou.

Octávio Carmo lembra que o processo sinodal se iniciou em 2021 com uma “enorme consulta global” e que a primeira sessão foi um momento de recolha, assinalando que “o Papa Francisco e a sua equipa já estão a pegar em determinadas questões que foram ali abordadas e a dar passos possíveis”.

“E esses passos possíveis são também necessários nas dioceses, são necessários nas comunidades paroquiais. Não é preciso esperar por um documento de 2024, que depois vai ser aplicado em 2025, para começar a dar estes passos de transformação e de mudança numa renovação que é desejada e que é desejável”, reconheceu.

A visita ‘ad Limina’ que a Conferência Episcopal Portuguesa realiza, entre 20 e 25 de maio, ao Papa e às instituições da Santa Sé, é outro dos acontecimentos que marcam a atualidade religiosa este ano.

“É a primeira vez, depois da saída dos relatórios, tanto da Comissão Independente como do Grupo VITA, que há um encontro conjunto de todos os bispos com o Papa, e, portanto, acredito que esse vai ser um tema muito, muito em cima da mesa, muito importante”, refere o vaticanista.

Segundo Octávio Carmo, além da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, outro tema que considera que vai ser levantado no encontro com o Papa relaciona-se com uma mudança “quase invisível no panorama da Igreja Católica”.

“Muitos Bispos diocesanos atingiram os 75 anos e foram sempre substituídos, portanto aquilo que está agora a começar em muitas dioceses é um novo ciclo, e é bom que esse ciclo seja debatido com o Papa Francisco”, enfatiza.

Ainda sobre o tema da inteligência artificial, que foi o alvo da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz 2024, o jornalista considera que “não basta apenas alertar para riscos que existem, que são óbvios”.

“A reflexão do Papa e da Igreja Católica sobre estas matérias tem de ser uma reflexão não apenas técnica, e eu acho que a mensagem ajuda nisso, mas também uma reflexão sobre o tipo de mundo que se quer construir e o lugar do humano neste mundo em transformação”, ressalta.

Octávio Carmo assinala que a realidade está transformada e que não se tratou “de um momento em que que se apertou um botão e a inteligência artificial tomou conta de tudo”.

“Nós todos os dias vamos sendo afetados, direta ou indiretamente, por esta transformação tecnológica, que é também uma transformação antropológica, da forma como o ser humano, sobretudo no Ocidente, olha para a realidade e é moldado por ela, transformou-se radicalmente. A forma como se fazem guerras transformou-se radicalmente”, adverte.

LJ/OC

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