2010: pontificado em análise

Bento XVI realizou cinco viagens internacionais e quatro na Itália, concedeu uma entrevista considerada histórica, escreveu uma exortação apostólica, convocou um Sínodo e um Consistório

Bento XVI viveu em 2010 o ano de maior exposição mediática desde a sua eleição, há cinco anos e meio, tendo conseguido em muitas viagens e intervenções públicas ganhar simpatias e redefinir mesmo a sua imagem.

A questão dos abusos sexuais cometidos por membros do clero foi uma sombra permanente sobre o Papa, que lhe procurou fazer frente apelando, por diversas vezes, à necessidade de justiça e de reparação, no seio da Igreja, em colaboração com as autoridades civis.

Em pleno Ano Sacerdotal, não esqueceria as vítimas – com quem se encontrou nas viagens a Malta e ao Reino Unido – nem os “bons sacerdotes” que tiveram de sofrer as consequências desta “humilhação”, como ele próprio referiu, escrevendo ainda aos seminaristas de todo o mundo, para lhes dizer que vale a pena querer ser padre católico nos dias de hoje.

Outro facto marcante foi a publicação de um livro-entrevista, «Luz do Mundo», resultante de uma conversa com o jornalista alemão Peter Seewald, que já antes entrevistara Joseph Ratzinger por duas vezes.

Para lá da polémica provocada pelas declarações sobre o uso do preservativo na prevenção da SIDA, o registo inédito permitiu dar a conhecer Bento XVI e o seu pensamento sobre temas centrais para a Igreja e a sociedade.

A primeira viagem internacional do ano teve como destino Malta (17-18 de Abril de 2010), onde o Papa lançou vários apelos ao respeito pelas raízes cristãs do país, uma mensagem que se estendia também à Europa.

De 11 a 14 de Maio, Bento XVI passou por Lisboa, Fátima e Porto, revelando capacidade de estar próximo das pessoas e de falar para lá das fronteiras da Igreja.

Se Portugal foi uma lição central para perceber o que pensa o Papa sobre o futuro da Igreja, a visita ao Reino Unido (16-19 de Setembro) mostra o que deseja da relação entre a comunidade crente e um mundo crescentemente secularizado.

Num ano em que canonizou seis novos Santos, é a beatificação do cardeal John Henry Newman (1801-1890) que melhor ilustra uma das batalhas centrais de Bento XVI: a busca de uma consciência aberta à verdade, que não funcione como uma instância meramente subjectiva e relativista.

Em Santiago de Compostela e Barcelona (6-7 de Novembro), Joseph Ratzinger retomou as suas preocupações sobre a Europa do século XXI, progressivamente afastada da fé em Deus, escolhendo dois símbolos mundiais: os caminhos de peregrinação, na Galiza, e a basílica de Gaudí, na Catalunha.

Também dentro da Itália se viveram momentos significativos, com a visita pastoral a Turim (2 de Maio), diante do Santo Sudário, e viagem a Palermo, Sicília (3 de Outubro), onde Bento XVI não teve medo de criticar abertamente a Mafia.

Na Itália, o Papa passou também por Sulmona (4 de Julho) e Carpineto Romano (5 de Setembro).

A viagem ao Chipre (4-6 de Junho) funcionou como uma espécie de prelúdio para Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente, que meses mais tarde levaria ao Vaticano as preocupações de várias comunidades ameaçadas pela pobreza, o fundamentalismo, a violência e a emigração em massa.

O tema da liberdade religiosa voltaria a estar em destaque na mensagem que o Papa escreveu para o Dia Mundial da Paz 2011, afirmando que os cristãos são as principais vítimas de perseguição por causa da fé, no mundo.

Em Novembro, o Papa publicou a sua segunda exortação apostólica, intitulada «Verbum Domini» (Palavra do Senhor), na qual convida a Igreja e a sociedade actual à redescoberta de Deus.

2010 conclui-se com um problema que não pára de crescer: as tensões entre a Santa Sé e Pequim, que se configuram como um dos maiores desafios do actual pontificado.

No ano que agora se conclui, Bento XVI nomeou quatro novas presidências para a Cúria Romana e criou um novo Conselho Pontifício, criando ainda 24 novos cardeais.

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