Vigília com os jovens

Foto Miguel A Lopes/Lusa

Queridos irmãos e irmãs, boa noite!

Dá-me tanta alegria ver-vos! Obrigado por terdes viajado, por terdes caminhado e obrigado por estardes aqui! Estou a pensar que também a Virgem Maria teve de viajar para ver Isabel: «Levantou-Se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39). Poderíamos perguntar-nos: Mas porque é que Maria Se levanta e vai apressadamente ter com a prima? Certamente porque acaba de saber que a prima está grávida; mas também Ela está. Então por que foi, se ninguém Lho pedira? Maria realiza um gesto não solicitado e sem ser obrigada; Maria vai porque ama e «quem ama voa, corre feliz» (A Imitação de Cristo, III, 5). Isto é o que o amor nos faz.

A alegria de Maria é dupla: acabara de receber o anúncio do anjo de que acolheria n’Ela o Redentor e também a notícia de que a prima estava grávida. Interessante! Em vez de pensar em Si mesma, pensa na outra. Porquê? Porque a alegria é missionária, a alegria não é para ficar numa pessoa, mas para levar alguma coisa. Pergunto: vós, que estais aqui, que viestes para vos encontrar, para encontrar a mensagem de Cristo, encontrar o sentido bom na vida… Isto, ides guardá-lo para vós ou levá-lo-eis aos outros? Que pensais fazer? Não ouço! (…) É para o levar aos outros, porque a alegria é missionária. Repitamos isto todos juntos: «a alegria é missionária». Concluindo, eu levo esta alegria aos outros.

Mas esta alegria que temos, houve outros que nos prepararam para a receber. Agora olhemos em retrospetiva tudo o que recebemos; tudo isso predispôs o nosso coração para a alegria. Todos nós, se olharmos para trás, veremos pessoas que foram um raio de luz na nossa vida: pais, avós, amigos, sacerdotes, religiosos, catequistas, animadores, professores… São como que as raízes da nossa alegria. Façamos agora um momento de silêncio, e cada qual pense nas pessoas que nos deram algo na vida, naqueles que são como que as raízes da alegria.

[momento de silêncio]

Encontrastes alguém? Encontrastes rostos, histórias? A alegria que nos veio de tais raízes é a que devemos dar, porque nós temos raízes de alegria e, simultaneamente, podemos ser raízes de alegria para os outros. Não se trata de levar uma alegria passageira, uma alegria momentânea, mas uma alegria que cria raízes. Uma pergunta: como podemos tornar-nos raízes de alegria?

A alegria não está fechada na biblioteca – embora seja necessário estudar –, encontra-se noutra parte. Não está guardada à chave. A alegria, é preciso procurá-la, é preciso descobri-la. É preciso descobri-la no diálogo com os outros, onde devemos dar as raízes de alegria que recebemos. Por vezes, isto cansa. Faço-vos uma pergunta: às vezes cansais-vos? Pensai no que acontece, quando uma pessoa está cansada: não tem vontade de fazer nada e, como se costuma dizer, atira-se por terra. Não tem vontade de continuar; então desiste, deixa de caminhar e cai. Pensai numa pessoa que caia na vida, tenha um fracasso, cometa erros mesmo graves, sérios: achais que a sua vida acabou? Não! O que é preciso fazer? Levantar-se! Como recordação, quero deixar-vos o caso dos alpinistas, que gostam de escalar as montanhas; eles têm uma canção linda, onde se diz: «Na arte de subir a montanha, o que conta não é não cair, mas não ficar caído». Está certo!

Quem fica caído, a sua vida já «passou à reforma», está encerrada! Fechou-se à esperança, fechou-se aos anseios, fica por terra. E quando virmos alguém, um amigo nosso, que caiu, que devemos fazer? Levantá-lo. Reparai, quando alguém tem de levantar ou ajudar uma pessoa a levantar-se, que gesto faz? Olha-a de cima para baixo. Trata-se da única ocasião, do único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo: quando queremos ajudá-la a levantar-se. Quantas vezes vemos pessoas que nos olham sobranceiras, por cima do ombro, de cima para baixo! É triste. O único modo, a única situação em que é lícito olhar de cima para baixo uma pessoa é (dizei-o vós… forte!) para a ajudar a levantar-se.

Pois bem! O segredo do caminho está um pouco nisto: na constância em caminhar. Na vida, para se conseguir algo, é preciso treinar a caminhar. Às vezes não temos vontade de caminhar, não temos vontade de nos esforçar; copiamos os exames, porque não temos vontade de estudar e não chegamos ao resultado desejado. Não sei se algum de vós gosta de futebol… Eu gosto. Por trás dum golo, que temos? Muito treino. Por trás dum resultado, que há? Muito treino. E, na vida, nem sempre se pode fazer o que apetece, mas aquilo que nos leva a realizar a vocação que temos dentro de nós… Cada um tem a sua vocação. É preciso caminhar. E, se cair, levanto-me ou haja alguém que ajude a pôr-me de pé. Não ficar caído; e treinar-me, treinar-me a caminhar. E tudo isto é possível, não porque fizemos um curso sobre o caminhar; não há cursos que nos ensinem a caminhar na vida! Isto aprendemo-lo dos pais, aprendemo-lo dos avós, aprendemo-lo dos amigos, ajudando-se mutuamente. Na vida, aprende-se, e isto é treino para caminhar.

Deixo-vos estas ideias. É preciso caminhar e, no caso de cair, levantar-se; caminhar com uma meta; treinar-se todos os dias na vida. Na vida, nada é de graça; tudo se paga. Só uma coisa é gratuita: o amor de Jesus! Assim, com este dom gratuito que temos – o amor de Jesus – e com a vontade de caminhar, caminhemos na esperança, olhemos para as nossas raízes e continuemos para diante, sem medo. Não tenhais medo. Obrigado! Adeus.

 

Parque do Tejo, Lisboa

Sábado, 5 de agosto de 2023

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