Viana do Castelo: Namoros, música e insónias marcam percurso de três jovens que vão ser ordenados diáconos

João Cruz, João Santos e Renato Costa defendem que não podem «deixar de ser quem são», no caminho para o sacerdócio

Foto: Agência ECCLESIA/PR

Viana do Castelo, 03 nov 2022 (Ecclesia) – João Cruz, João Santos e Renato Costa, que vão ser ordenados diáconos este domingo, no caminho rumo ao sacerdócio, contaram à Agência ECCLESIA como viveram a descoberta vocacional e apontam que “não podem deixar de ser quem são”.

“Queremos estar para as comunidades dos dias de hoje, mas não podemos deixar de sermos quem somos e é isso que nos permite viver dignamente na forma como somos, temos de ter alguma contenção mas também não podemos deixar de ser quem somos”, explica João Cruz, de 25 anos, em declarações à Agência ECCLESIA. 

Sem medos de enfrentar momentos de fragilidade na Igreja, João Santos e Renato Costa assumem que a “proximidade e escuta” têm de ser atitudes neste ano em que vão estar em trabalho pastoral e querem ser “surpreendidos”. 

“A proximidade requer que as outras pessoas vejam quem somos verdadeiramente e aí não há barreiras, temos de estar próximos e, pela escuta, para assim sermos diferentes”, indica João Santos.

Já Renato Costa refere que quer ir ao encontro das pessoas “sem máscaras” e que só com uma “relação de confiança” se pode caminhar juntos.

“Espero, durante este ano, escutar e aprender com as pessoas, saber quais os seus maiores desafios e dificuldades e, pouco a pouco, ir respondendo a isso, até porque estamos num ano bom, o ano da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023”, afirma.

João Cruz partilha ainda que vai ao encontro de “realidades diferentes” neste ano e João Santos, a estagiar em “sete paróquias com dois párocos”, revela que a experiência de “conhecer tudo e chegar a todos” deixa “grandes expectativas do que vai abraçar no futuro”.

O percurso vocacional

Natural de Paredes de Coura, João Cruz recorda a vontade de ser padre, numa ideia “muito imatura”, entre as brincadeiras de criança.

“Era uma ideia imatura que começou quando era muito novo, tinha os meus brinquedos e um dia disse à minha mãe que estava indeciso entre duas profissões, para quando fosse mais velho: carpinteiro ou padre… A primeira talvez pelos brinquedos que tinha e a ideia de ser padre, não sei de onde veio…”, recorda.

Foto: Agência ECCLESIA/PR

Apesar de não ter procurado o seminário, fez os 12 anos de escolaridade em Paredes de Coura e, num ano sabático, foi trabalhar. 

“Trabalhei, uma experiência muito boa, enriqueceu-me bastante, lidar com várias pessoas diferentes, servir às mesas tem muito que se lhe diga, lida-se com pessoas e feitios diferentes, tem de se engolir muita coisa, e, no futuro, lidamos com personalidades distintas; ao fim desse ano, disse para mim que não vale a pena fugir mais”, recorda.

Natural de Paredes de Coura, localidade conhecida pelo festival de rock, João Cruz confessou à ECCLESIA que adora música, sendo muito multifacetado no gosto musical.  

“Acordo e deito-me com música, desde pop, comercial, rock, eu sou multifacetado no gosto musical mas o rock há um carinho especial pelo peso que tem, sou de Paredes de Coura”, afirma o jovem de 25 anos.

Já João Santos desde cedo colaborou com a Igreja e o que o cativou foi a dinâmica da visita pascal.

“Uma das coisas que me cativava era, na Páscoa, onde colegas meus que eram acólitos acompanhavam o padre e pensei para mim, porque não?”, recorda.

O jovem frequentou o seminário nos 6º e 7º anos mas no final não quis ficar, “queria namorar” e decidiu deixar.

O caminho da escolaridade seguiu e no 11º ano fez “um pacto com Deus”. 

“Estava apertado nas notas, e disse que, se passasse nos exames nacionais, iria para o seminário, não passei, não resultou o pacto e Deus não quis nada comigo naquela altura”, contra, entre risos.

João Santos mantinha as questões vocacionais, “de manhã namorava e à tarde ia à Eucaristia”, até que decidiu fazer uma experiência no seminário, onde se mantém há seis anos. 

Foto: Agência ECCLESIA/PR

Na família, incluindo por um tio sacerdote, João Santos era visto como “ativo na paróquia” mas não como um futuro padre por o considerarem uma “pessoa muito explosiva”, mas o exemplo da mãe, catequista durante quase 25 anos, influenciou na descoberta de ajudar outros. 

“Essa descoberta de querer ajudar e colaborar com aqueles que eram felizes, porque não? Também podia ser duro mas ser gratificante”, aponta. 

O jovem, “pessoa de festas e romarias” tão próprias de Viana do Castelo, de onde é natural, traz do seminário o ensinamento de “procurar que a cultura” ajude ao entendimento.

“Ir e procurar onde vamos, a cultura que nos ajude a entender algumas coisas que não conhecemos mas que fazem parte da nossa história e de que somos herdeiros”, assume. 

Renato Costa partilhou com a Agência ECCLESIA que as insónias da mãe o levaram a questionar a sua vocação. 

“A minha mãe é uma pessoa com muitas insónias e, quando estava grávida já projetava o que os filhos poderiam ser no futuro, e de mim sonhava que fosse padre, desde pequeno que sempre fui confrontado com esta realidade”, recorda. 

Foto: Agência ECCLESIA/PR

Quando estava no 5º ano de escolaridade, Renato Costa pediu ao pároco para ingressar no seminário mas, as férias de verão, eram passadas a trabalhar.

“Trabalhei na restauração e gostei bastante, entrei sem saber pegar numa bandeja e saí com a máquina decorada; foi uma experiência enriquecedora na parte do atendimento ao cliente, até porque temos de perceber que as pessoas não estão sempre de bom humor, ou sempre na mesma ‘vibe’ que nós, atender um cliente mais difícil pode-se equiparar a um mau dia de um colega no seminário”, defende.

Nos últimos dois anos o jovem, natural de Valença, encontrou outra experiência de trabalho, “igualmente gratificante”.  

“Trabalhei na indústria têxtil, com colegas de trabalho excelentes, que não conheciam esta realidade de seminário e de ser padre, mas, com as questões e as brincadeiras deles, conseguimos crescer juntos”, refere. 

Os três jovens esperam o dia numa “mescla de sentimentos” porque querem que tudo corra bem neste domingo, onde “acontece, pela primeira vez, uma ordenação para os três”. 

“O sentimento que melhor descreve é a felicidade mas há alguma ansiedade, depois da entrega das nossas teses, depois foi a curiosidade de conhecer as paróquias de estágio e fomos todos bem recebidos”, descreve Renato.

João Santos diz que “há alguma ansiedade” pelo próprio dia mas também porque há convites a fazer, “queremos ter connosco as famílias e muitas pessoas amigas”.

Nas teses de mestrado integrado em Teologia, João Cruz estudou um excerto do evangelho de Lucas, “Lázaro e o Rico”; João Santos olhou a temática da “manutenção à renovação pastoral” e Renato Costa estudou a passagem de Mateus, “Quem diz os homens que Eu sou”, para continuar a falar de Jesus nos dias de hoje.

Os três jovens vão ser ordenados diáconos, último passo antes da ordenação sacerdotal, este domingo, na Sé de Viana do Castelo, pelas 15h30.

A entrevista integra o programa de rádio ECCLESIA deste sábado, pelas 06h00, na Antena 1 da rádio pública, ficando depois disponível online e em formato podcast.

PR/SN

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