Vaticano: Papa responde a críticas sobre gestão da crise de abusos na Bélgica

Francisco lamenta ainda «feminismo exagerado»

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 29 set 2024 (Ecclesia) – O Papa reagiu hoje às críticas sobre a gestão da crise de abusos sexuais na Bélgica, envolvendo membros do clero, assumindo o “dever” de ouvir as vítimas e punir os culpados.

“Eu ouvi as vítimas de abuso. Acredito que é um dever”, disse aos jornalistas, no voo de regresso a Roma, desde Bruxelas.

Francisco admitiu que os casos que acontecem na Igreja são uma minoria, no conjunto da sociedade, mas sublinhou que a responsabilidade dos líderes católicos é “ajudar as vítimas e cuidar delas.

“Algumas precisam de tratamento psicológico, é preciso ajudá-las nisso. Também se fala de uma indenização, pois existe no direito civil. No direito civil, acredito que sejam 50 mil euros na Bélgica, o que é muito baixo. Não é algo que sirva”, acrescentou, em conferência de imprensa.

Precisamos de cuidar das pessoas abusadas e punir os abusadores, porque o abuso não é um pecado de hoje que talvez não exista amanhã, mas é uma tendência, é uma doença psiquiátrica e, por isso, devemos tratá-los e controlá-los. Não se pode deixar um abusador livre na vida normal, com responsabilidades em paróquias e escolas”.

O Papa recordou que disse aos bispos belgas para “não terem medo e seguirem em frente, em frente”.

“A vergonha é encobrir, isso sim é a vergonha”, insistiu.

Francisco rejeitou a ideia de que os processos só avancem após um contacto direto com ele, destacando que há uma estrutura própria no Vaticano, além da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores.

“Isso funciona, tudo é recebido no Vaticano e discutido. Eu também recebi vítimas de abuso no Vaticano e dou apoio para que avancemos”, realçou.

Os jornalistas questionaram o Papa sobre o comunicado crítico que a UCLovaine publicou, durante a sua visita à instituição, este sábado, a respeito das posições da Igreja sobre o papel das mulheres.

“Eu falo sempre da dignidade da mulher e disse uma coisa que não posso dizer dos homens: a Igreja é mulher, é a esposa de Jesus. Masculinizar a Igreja, masculinizar as mulheres não é humano, não é cristão”, indicou, retomando a reflexão que apresentou em Lovaina.

Francisco rejeitou a ideia de “conservadorismo” nas suas posições, apontando o dedo a um “feminismo exagerado, em que se pretende que a mulher seja masculinizada, não funciona.

“Uma coisa é o machismo que não funciona, uma coisa é o feminismo que não funciona. O que funciona é a Igreja mulher, que é maior do que o ministério sacerdotal. E às vezes não se pensa nisso”, indicou.

Outra das questões abordou uma alegada interferência da vida política da Bélgica, por causa dos elogioso do pontífice ao rei Balduíno (1930-1993), monarca belga que renunciou, entre 4 e 5 de março de 1990, às suas funções como chefe de Estado, recusando-se a assinar a lei de despenalização do aborto no país.

Francisco disse que é preciso defender “todas as vidas” e repetiu que o rei belga “foi corajoso porque, diante de uma lei de morte, não assinou e renunciou”.

“Aquele homem é santo e o processo de beatificação continuará, porque me deu provas disso”, acrescentou.

O Papa sustentou que as mulheres “têm o direito à vida, à sua própria vida e à vida dos seus filhos”.

“Não podemos deixar de dizer isto: o aborto é um homicídio. A ciência diz que, no primeiro mês de conceção, todos os órgãos já estão formados… assassina-se um ser humano. E os médicos que fazem isso são — permita-me a palavra — sicários. São sicários. E sobre isso não se pode discutir. Assassina-se uma vida humana”, declarou.

OC

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