Vaticano: Papa institui domingo dedicado à Bíblia

Celebração anual vai assinalar-se pela primeira vez a 26 de janeiro de 2020

Cidade do Vaticano, 30 set 2019 (Ecclesia) – O Papa Francisco anunciou hoje a instituição de um “Domingo da Palavra de Deus”, celebração anual nas comunidades católicas que visa promover a “familiaridade” com a Bíblia.

“A Bíblia não pode ser património só de alguns e, menos ainda, uma coletânea de livros para poucos privilegiados”, escreve, na carta apostólica ‘Aperuit illis’ (Abriu-lhes o entendimento).

A celebração vai acontecer no III Domingo do Tempo Comum do calendário litúrgico, visando “a celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus”.

“O dia dedicado à Bíblia pretende ser, não ‘uma vez no ano’, mas uma vez por todo o ano, porque temos urgente necessidade de nos tornar familiares e íntimos da Sagrada Escritura e do Ressuscitado, que não cessa de partir a Palavra e o Pão na comunidade dos crentes”, precisa o Papa.

A celebração anual vai ser assinalada pela primeira vez a 26 janeiro 2020, num momento em que decorrem tradicionalmente iniciativas que visam o diálogo entre confissões cristãs e com o mundo judaico.

“Não se trata de mera coincidência temporal: a celebração do Domingo da Palavra de Deus expressa uma valência ecuménica, porque a Sagrada Escritura indica, a quantos se colocam à sua escuta, o caminho a seguir para se chegar a uma unidade autêntica e sólida”, explica Francisco.

Este domingo da Bíblia já tinha sido sugerido no final do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em novembro de 2016.

“Escutar as sagradas Escrituras para praticar a misericórdia: este é um grande desafio lançado à nossa vida. A Palavra de Deus é capaz de abrir os nossos olhos, permitindo-nos sair do individualismo que leva à asfixia e à esterilidade enquanto abre a estrada da partilha e da solidariedade”, escreve o Papa.

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Francisco sublinha a importância da proclamação das leituras bíblicas, durante as celebrações litúrgicas, e das homilias, com recomendações aos sacerdotes.

“Não se pode improvisar o comentário às leituras sagradas. Sobretudo a nós, pregadores, pede-se o esforço de não nos alongarmos desmesuradamente com homilias enfatuadas ou sobre assuntos não atinentes”, aponta a carta apostólica.

O texto destaca que a Bíblia não é “uma coletânea de livros de história nem de crónicas”, assinalando a importância da “Tradição”.

“Antes de se tornar um texto escrito, a Sagrada Escritura foi transmitida oralmente e mantida viva pela fé dum povo que a reconhecia como sua história e princípio de identidade no meio de tantos outros povos. Por isso, a fé bíblica funda-se sobre a Palavra viva, não sobre um livro”, escreve o Papa.

Francisco encerra a carta apostólica com votos de que este “domingo dedicado à Palavra fazer crescer no povo de Deus uma religiosa e assídua familiaridade com as sagradas Escrituras”.

Simbolicamente, o documento é dado a conhecer na Memória litúrgica de São Jerónimo e início do 1600º aniversário da morte do responsável pela ‘Vulgata’, a mais conhecida tradução para o latim da Bíblia.

OC

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