Vaticano: Papa canonizou cardeal Newman e irmã «Dulce dos pobres»

Francisco apresentou vida religiosa como um «caminho de amor nas periferias existenciais do mundo»

Cidade do Vaticano, 13 out 2019 (Ecclesia) – O Papa Francisco canonizou hoje no Vaticano cinco beatos católicos, incluindo o cardeal Newman, figura de referência do pensamento católico no século XIX, e a irmã Dulce, primeira santa nascida no Brasil, conhecida pela sua dedicação aos pobres.

Perante milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal Angelo Becciu, acompanhado pelo postuladores das cinco causas, pediu que os beatos fossem inscritos “no álbum dos santos”.

Francisco proclamou depois a fórmula de canonização, em latim e sentado, como sinal da sua autoridade pontifícia.

O momento foi assinalado pela multidão com uma salva de palmas e o cardeal Becciu agradeceu ao Papa, concluindo o rito.

Francisco destacou que a canonização de três religiosas mostram que este é “um caminho de amor nas periferias existenciais do mundo”.

As novas santas que viveram em institutos religiosos são a irmã Dulce Lopes Pontes, (Brasil, 1914-1992), da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus; Josefina Vannini (Itália, 1859-1911), fundadora das Filhas de São Camilo; e Maria Teresa Chiramel Mankidiyan, (Índia, 1876-1926), fundadora da Congregação das Irmãs da Sagrada Família

A intervenção citou o ensinamento do cardeal John Henry Newman, (1801-1890), fundador do Oratório de São Felipe Néri, na Inglaterra: «O cristão possui uma paz profunda, silenciosa, oculta, que o mundo não vê» (Parochial and Plain Sermons, V, 5).

“Peçamos para ser, assim, «luzes gentis» no meio das trevas do mundo. Jesus, «ficai connosco e começaremos a brilhar como brilhais Vós, a brilhar de tal modo que sejamos uma luz para os outros»”, acrescentou o pontífice.

O Papa evocou ainda a nova santa suíça, Margarida Bays, (1815-1879), da ordem terceira de São Francisco, costureira de profissão: “Revela-nos quão poderosa é a oração simples, o suportar com paciência, a doação silenciosa – através destas coisas, o Senhor fez reviver nela o esplendor da Páscoa”.

Na homilia da celebração, Francisco destacou que Deus “não exclui ninguém” e “ouve o grito de quem está abandonado”, quando este lhe pede ajuda.

“Precisamos de ser curados da pouca confiança em nós mesmos, na vida, no futuro; curados de muitos medos; dos vícios de que somos escravos; de tantos fechamentos, dependências e apegos: ao jogo, ao dinheiro, à televisão, ao telemóvel, à opinião dos outros. O Senhor liberta e cura o coração”, declarou.

Invoquemos diariamente, com confiança, o nome de Jesus: Deus salva. Repitamo-lo: é oração. A oração é a porta da fé, a oração é o remédio do coração”.

O Papa desafiou os presentes a avançar na fé, “com amor humilde e concreto, com a paciência diária” atentos a quem “deixou de caminhar, a quem se extraviou”.

“Somos guardiões dos irmãos distantes. Somos intercessores por eles, somos responsáveis por eles, isto é, chamados a responder por eles, a tê-los a peito. Queres crescer na fé? Ocupa-te dum irmão distante, duma irmã distante”, apelou.

Num momento em que decorre no Vaticano o Sínodo especial para a Amazónia, o Papa declarou que a “a fé cresce com o risco”.

“A fé requer um caminho, uma saída; faz milagres, se sairmos das nossas cómodas certezas, se deixarmos os nossos portos serenos, os nossos ninhos confortáveis”, precisou.

Francisco destacou ainda a importância de saber agradecer, de dizer “obrigado, Senhor”, ao acordar, durante o dia, antes de deitar, como um “antídoto ao envelhecimento do coração”.

“Invocar, caminhar, agradecer. Hoje, agradecemos ao Senhor pelos novos Santos, que caminharam na fé e agora invocamos como intercessores”, concluiu.

Entre as delegações oficiais na celebração encontravam-se o príncipe Carlos, de Inglaterra, e Hamilton Mourão, vice-presidente da República do Brasil.

OC

A canonização, ato reservado ao Papa desde o século XIII, é a confirmação, por parte da Igreja Católica, que um fiel católico é digno de culto público universal (os beatos têm culto local) e de ser apresentado aos fiéis como intercessor e modelo de santidade.

 

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