Dia Mundial da Paz: Papa alerta para riscos utilização da inteligência artificial em contexto militar

Mensagem para  2024 fala em «graves questões éticas» ligadas a este tema

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 31 dez 2023 (Ecclesia) – O Papa alertou, na mensagem para o Dia Mundial da Paz 2024 (1 de janeiro), para os riscos da utilização da inteligência artificial em contexto militar, apelando à aplicação das tecnologias em áreas que promovam o desenvolvimento humano.

“A possibilidade de efetuar operações militares através de sistemas de controle remoto levou a uma perceção menor da devastação por eles causada e da responsabilidade da sua utilização, contribuindo para uma abordagem ainda mais fria e destacada da imensa tragédia da guerra”, refere o texto, intitulado ‘Inteligência Artificial e Paz’.

Francisco alerta para as “graves questões éticas relacionadas com o setor dos armamentos”, em particular os sistemas de armas letais autónomas.

“Os sistemas de armas autónomos nunca poderão ser sujeitos moralmente responsáveis: a exclusiva capacidade humana de julgamento moral e de decisão ética é mais do que um conjunto complexo de algoritmos, e tal capacidade não pode ser reduzida à programação duma máquina”, advertiu.

O Papa observa que armas sofisticadas podem cair “em mãos erradas”.

“O mundo não precisa realmente que as novas tecnologias contribuam para o iníquo desenvolvimento do mercado e do comércio das armas, promovendo a loucura da guerra”, acrescenta.

Se a inteligência artificial fosse utilizada para promover o desenvolvimento humano integral, poderia introduzir inovações importantes na agricultura, na instrução e na cultura, uma melhoria do nível de vida de inteiras nações e povos, o crescimento da fraternidade humana e da amizade social”.

A mensagem aponta desafios colocados, neste setor, ao desenvolvimento do direito internacional.

“Exorto a Comunidade das Nações a trabalhar unida para adotar um tratado internacional vinculativo, que regule o desenvolvimento e o uso da inteligência artificial nas suas variadas formas”, escreve o Papa.

Francisco sustenta que esta reflexão deve ter em consideração “questões mais profundas relativas ao significado da existência humana, à proteção dos direitos humanos fundamentais, à busca da justiça e da paz”.

O texto aponta a um “sentido do limite, no paradigma tecnocrático”, defendendo um “desenvolvimento ético dos algoritmos”.

“A grande quantidade de dados analisados pelas inteligências artificiais não é, por si só, garantia de imparcialidade”, alerta o pontífice.

A confidencialidade, a posse dos dados e a propriedade intelectual são outros âmbitos em que as tecnologias em questão comportam graves riscos, aos quais se vêm juntar outras consequências negativas ligadas a um uso indevido, como a discriminação, a interferência nos processos eleitorais”.

O Papa mostra-se crítico de um sistema “tecnocrático”, que alia a economia à tecnologia e privilegia o critério da eficiência, “tendendo a ignorar tudo o que não esteja ligado aos seus interesses imediatos”.

A mensagem aborda as questões levantadas pelas “máquinas que aprendem sozinhas”, que transcendem os âmbitos da tecnologia e da engenharia, colocando-as em ligação com “uma compreensão intimamente ligada ao significado da vida humana”.

O Dia Mundial da Paz foi instituído em 1968 por São Paulo VI (1897-1978) e é celebrado no primeiro dia de cada ano, com uma mensagem papal.

“No início do novo ano, a minha oração é que o rápido desenvolvimento de formas de inteligência artificial não aumente as já demasiadas desigualdades e injustiças presentes no mundo, mas contribua para pôr fim às guerras e conflitos e para aliviar muitas formas de sofrimento que afligem a família humana”, conclui Francisco.

OC

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