Vaticano: Francisco promove reforma do Vicariato de Roma, como modelo de Igreja em busca dos «exilados»

Nova estrutura da diocese do Papa quer promover «impulso evangelizador e sinodal»

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 06 jan 2023 (Ecclesia) – O Papa publicou hoje o documento que promove uma reforma do Vicariato de Roma, a estrutura central de governo desta diocese, historicamente ligada aos pontífices, procurando construir um modelo de Igreja que procura os “exilados”.

“Em Roma, como nas outras Igrejas particulares, é preciso continuar a ouvir a voz do Espírito Santo, que se manifesta também para lá dos confins da pertença eclesial e religiosa”, num estilo “sinceramente hospitaleiro, animados pelo impulso de quem sai em busca dos muitos exilados da Igreja, dos invisíveis e sem-palavra da sociedade”, escreve Francisco.

A constituição apostólica ‘In Ecclesiarum Communione’ (na comunhão das Igrejas) reorganiza o ordenamento do Vicariato de Roma, substituindo a precedente ‘Ecclesia in Urbe (1988), de João Paulo II.

O atual Papa defende uma Igreja que se apresenta como “comunidade evangelizadora” perante todos, “também quem vive na indiferença religiosa”.

Francisco manifesta o desejo de que a Diocese de Roma, da qual é bispo, possa “brilhar como exemplo de comunhão de fé e caridade”.

“A Igreja perde a sua credibilidade quando se enche do que não é essencial à sua missão ou, pior ainda, quando os seus membros, por vezes mesmo os investidos de autoridade ministerial, são fonte de escândalo com o seu comportamento infiel ao Evangelho”, adverte.

O Papa apela a um “impulso evangelizador e sinodal”, que supere a “rigidez” de fórmulas e estruturas, rejeitando “luzes e inspirações mundanas e clericalistas”.

“É missão essencial do bispo garantir um espaço aberto a todos, onde cada um encontre lugar, tenha a oportunidade de falar, sentindo-se ouvido e aprendendo a ouvir”, sustenta.

O documento lembra as pessoas afetadas pelas várias crises dos últimos anos, bem como os migrantes e refugiados que acorrem à capital italiana, pedindo que a Igreja de Roma seja “testemunha de que ninguém deve ser excluído”.

“A Igreja de Roma, através dos seus organismos pastorais, terá também de cuidar das pessoas que procuram testemunhos de beleza autêntica e de uma rica história com conotações cristãs, mas também devedora de outras tradições e culturas”, acrescenta.

Nesse sentido, o Papa sublinha a importância do diálogo entre confissões cristãs e entre religiões, com destaque para a comunidade judaica.

Francisco espera que o Vicariato de Roma seja “um lugar exemplar de comunhão, diálogo e proximidade, acolhedor e transparente, ao serviço da renovação e do crescimento pastoral da Diocese de Roma, comunidade evangelizadora, Igreja sinodal, povo testemunha credível da misericórdia de Deus”.

O novo organigrama da diocese, que inclui o cardeal-vigário, o vicerregente e os bispos auxiliares, reforçando o papel do Conselho Episcopal, que se deve reunir três vezes por mês, sob a presidência do Papa.

Francisco acentua as competências do Conselho Diocesano para os Assuntos Económicos, para promover “critérios de transparência” na gestão e cria uma “comissão independente de vigilância”, como órgão de controlo interno, com seis membros de “atestada competência legal, civil e canónica”.

O Papa apresenta novas regras para o procedimento de escolha dos párocos, cujas “características espirituais, psicológicas, intelectuais, pastorais e experiência adquirida em qualquer serviço anterior também devem ser avaliadas”.

Outra das novidades é a criação do Serviço de Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis, que reporta ao Conselho Episcopal de Roma.

As normas entram em vigor a 31 de janeiro de 2023.

OC

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