Vaticano: Exclusão das mulheres do sacerdócio respeita «vontade» de Jesus, diz responsável pela Doutrina da Fé

D. Gerhard Müller, novo prefeito da Congregação, esclarece ainda posição sobre a Teologia da Libertação

Cidade do Vaticano, 26 jul 2012 (Ecclesia) – O novo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), D. Gerhard Müller, afirmou que a exclusão das mulheres da ordenação sacerdotal na Igreja Católica deriva da “vontade” de Cristo.

“Muitas declarações sobre a admissão das mulheres ao sacramento da Ordem ignoram um aspeto importante do ministério sacerdotal: ser sacerdote não significa ganhar uma posição”, refere o arcebispo alemão, de 64 anos, em entrevista hoje publicada pelo jornal do Vaticano.

D. Gerhard Müller considera que não se deve considerar o sacerdócio como “uma espécie de posição de poder terreno e pensar que a emancipação apenas acontece quando todos a podem ocupar”.

“A fé católica sabe que não somos nós a ditar as condições para admissão ao ministério sacerdotal e que, por detrás do ser sacerdotal, está sempre a vontade e o chamamento de Cristo”, acrescentou.

Nesse contexto, o prefeito da CDF, um dos mais diretos colaboradores do Papa, convida a “renunciar às polémicas e à ideologia, mergulhando na doutrina da Igreja”.

O novo responsável comenta a sua ligação ao peruano Gustavo Gutiérrez, representante da Teologia da Libertação na América Latina, bem como a outros os teólogos da região.

“Em 1988 fui convidado por Gutiérrez para participar num seminário. Como teólogo alemão aceitei com algumas reservas, já que conhecia as duas declarações [de censura] da Congregação para a Doutrina da Fé sobre a Teologia da Libertação publicadas em 1984 e 1986”, disse.

Apos essa experiência, o arcebispo alemão diz ter entendido a necessidade de “distinguir entre uma Teologia da Libertação errada e outra correta”.

“Entendo que qualquer boa Teologia tem a ver com a liberdade e glória dos filhos de Deus. Contudo, é preciso rejeitar, certamente, uma mistura da doutrina marxista da autorredenção com a salvação dada por Deus”, explicou.

O prefeito da CDF diz que os cristãos se têm de interrogar sobre como podem “falar do amor e da misericórdia de Deus diante dos sofrimentos de tantas pessoas que não têm comida, água, assistência, saúde”.

“Temos de sublinhar que é do Cristianismo que valores como justiça, solidariedade e dignidade da pessoa foram introduzidos em nossas Constituições”, acrescentou.

O novo prefeito, nomeado a 2 de julho para suceder ao cardeal William Levada à frente da CDF. era bispo de Ratisbona desde 2002 e recebeu o Papa nessa cidade, em setembro de 2006.

“A fé é caraterizada pela máxima abertura”, sublinha D. Gerhard Müller, na entrevista ao ‘Osservatore Romano’.

Agradecendo a confiança de Bento XVI, o arcebispo alemão afirma que a CDF deve “acima de tudo promover e tornar compreensível a fé”.

A Constituição Apostólica ‘Pastor bonus’, de João Paulo II, define que esta Congregação deve “promover e tutelar a doutrina sobre a fé e os costumes em todo o mundo católico”.

Com uma história que remonta ao século XVI, a instituição foi denominada ‘Santa Inquisição Romana e Universal’ até 1908, quando São Pio X reorganizou a Congregação, mudando o seu nome para ‘Sagrada Congregação do Santo Ofício’; a atual designação foi decidida por Paulo VI, em 1965.

OC

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